Top 15 Livros de Filosofia
Não consegui escolher só dez.
Já devo ter lido mais de cem livros de filosofia, embora a maior parte tenha sido de filósofos teístas ou simpatizantes do cristianismo. Será possível constatar isso pela lista.
1- Elogio da Loucura, por Erasmo de Rotterdam
Já faz tempo que esse é meu livro preferido de filosofia. Da primeira vez que fiz uma resenha dele, ficou gigantesca, de tantos trechos que eu copiei e comentei.
É muito engraçado, de leitura dinâmica e fluida, com argumentos inteligentes e perspicazes. Ele faz algumas críticas ao cristianismo, mas ele mesmo era católico e inclusive debateu com o Lutero em várias ocasiões, em defesa do catolicismo.
Erasmo ficou muito triste quando Thomas More (autor de “Utopia”) morreu como mártir em defesa do catolicismo, pois os dois eram amigos próximos. Esse episódio é belamente retratado no maravilhoso filme “O Homem que Não Vendeu Sua Alma” (Oscar de 1967).
2- Dicionário Filosófico, por Voltaire
Um dos livros mais divertidos do Voltaire. Como sempre, ácido em relação ao cristianismo. E, como de costume, se é o Voltaire eu deixo. ;)
São muito engraçadas as cartas que o Voltaire trocou com o Rousseau.
3- Crítica da Razão Pura, por Kant
Além desse, do Kant eu também já li “Crítica da Razão Prática”, “Fundamentação da Metafísica dos Costumes” e “A religião nos limites da simples razão”. Para quem quer ler Kant e entender, recomendo esse último, que é pequeno, engraçado e escrito numa língua humana.
Para os aliens, no momento em que se aprende um pouco o novo idioma inventado pelo filósofo, pode ser uma leitura proveitosa.
Kant era aquele cara tão certinho que as pessoas na rua arrumavam o relógio quando o viam caminhar todo dia sempre no mesmo horário. Ele também nunca foi para muito longe de sua cidade natal. Eu acho que ele era um cara bem legal.
4- Discurso do método, por Descartes
Já perdi a conta de quantas vezes li esse livro, em diferentes épocas da minha vida.
Para quem quer ver o filme sobre a vida do Descartes, tem inteiro e legendado nesse link do Youtube. É meio parado, mas eu gostei.
Tem um livro chamado “O Caderno Secreto de Descartes” que eu também já li, há muito tempo, e lembro que achei bem interessante.
O Descartes como pessoa é muito querido (fui tomar uma ceva com ele esses dias hehe). Dá pra ver pelos escritos dele como ele é educadinho, tenta falar de forma simples e ter certeza que foi entendido por seus leitores.
Ele tinha uma herança e não sabia o que fazer com ela, então ele resolveu ficar viajando pela Europa e estudando filosofia e matemática. Ele devia estar bem entediado, pois não tinha muito o que fazer e resolveu ir para a guerra. Mas o que ele mais gostava era ficar trancado em seu quarto perto do seu “forninho”, como ele chamava, bem aquecido. Ele gostava de acordar tarde e ficar lendo e escrevendo seus livros. Também fez muitos experimentos.
Inclusive, na época do colégio, alegando “motivos de doença” ele tinha permissão para acordar mais tarde que seus colegas e perder as primeiras aulas da manhã.
Aparentemente ele morreu porque teve que acordar muito cedo para dar aulas particulares para a Rainha Cristina e acabou ficando doente. Ele tinha que acordar cinco da manhã num lugar frio e estava acostumado a acordar às dez, mas não quis ser indelicado com a rainha. Tem como ser mais fofo que isso? Ele preferiu morrer do que não ser um cavalheiro.
5- Três Diálogos entre Hylas e Philonous, por Berkeley
Por muito tempo o Berkeley foi meu filósofo preferido. E talvez ainda seja? Eu já nem sei, pois faz um bom tempo que não leio livros de filosofia e não me envolvo com a área. Antes para mim era importante ter meus filósofos favoritos.
Esse livro é legal porque é um diálogo. Eu gosto de ler livros de filosofia com diálogos. Costuma ser mais leve e mais fácil de entender.
Acho genial a filosofia do Berkeley, mesmo que ele tenha sido criticado por muitos filósofos. “Ser é ser percebido” seria a frase que resume sua filosofia. É uma mistura estranha de ceticismo extremo com teísmo. Afinal, ele defende que se não há ninguém olhando para nós ou para um objeto, nós ou o objeto desapareceríamos. Tudo só não desaparece instantaneamente porque Deus está sempre olhando para tudo.
É por isso que eu amo o Berkeley: ele conseguiu duvidar do mundo material sem duvidar de Deus. Por isso eu também gosto do Descartes, pois ele diz:
“Finalmente, se ainda há pessoas que não estão persuadidas suficientemente da existência de Deus e da alma, pelas razões que aduzi, desejo que saibam que todas as outras proposições, de cuja verdade eles se julgam talvez mais assegurados, como a que temos um corpo, e que existem estrelas e uma terra, e similares, estão menos certas”
Bertrand Russell, por outro lado, não gosta de brincar e diz:
“O sentido da realidade é vital em lógica, e, se alguém brincar com ele e pretender que Hamlet possui um outro tipo de realidade, estará a prestar um mau serviço ao pensamento”
Hahaha, tá bom!
6- Teodiceia, por Leibniz
Esse é o livro em que Leibniz diz que nós vivemos no melhor dos mundos possíveis e que Voltaire fez piada em Cândido (afinal, se Deus escolheu esse mundo para nós era porque se tratava da melhor alternativa para conciliar a felicidade humana e o aprendizado moral).
Esse livro é maravilhoso. Adoro as cartas que Leibniz troca com o Sr. Bayle. Gosto de várias teorias desse filósofo, como a das mônadas.
Russell, por exemplo, ficou muito impressionado com a filosofia de Leibniz e ele é um dos filósofos em que ele mais aprofundou seu estudo.
Leibniz era afiliado à Sociedade Rosacruz. É possível que Descartes também o fosse. Eu também já li um ou dois livros que contam a história da briga de Leibniz e Newton pela descoberta do cálculo.
Pelo que me lembro, Leibniz defendia que o tempo era relativo em contraste com o tempo absoluto de Newton. Mas como na época Newton era a figura de autoridade, as ideias dele que prevaleceram.
7- Mil Platôs, por Gilles Deleuze e Félix Guattari
É difícil não gostar desse livro. Mas não é preciso tentar entender. Somente sentir.
Fui buscá-lo no dia em que escutei uma leitura do trecho sobre o “CsO”, o Corpo Sem Órgãos.
8- Walden, por Thoreau
Li esse livro pela primeira vez quando eu tinha uns 19 anos. Mesma época em que li “Crítica da Razão Prática” do Kant.
Eu me interessei por ele após ver “A Sociedade dos Poetas Mortos”, pois no filme eles leem um trecho desse livro:
“Fui à floresta porque queria viver deliberadamente, encarar apenas os fatos essenciais da vida, e ver se eu poderia aprender o que ela tinha a ensinar, e não, quando eu vier a morrer, descobrir que nunca vivi”.
9- Temor e Tremor, por Søren Kierkegaard
O autor disseca a história bíblica de Abraão (que oferece seu filho Isaac em sacrifício), analisando-a sob as mais diferentes nuances, demonstrando o quão difícil é compreendê-la e o quão profunda é essa narrativa. Segundo o autor, compreender o gesto de Abraão é mais difícil do que compreender Hegel. Digamos que essa afirmação não é pouca coisa.
A seguir, Kierkegaard passa a comparar o poeta e o herói. Mais adiante, o autor analisa obras de literatura como o Fausto de Goethe, Ricardo III de Shakespeare e diversas lendas gregas, como a de Agamemnon.
O título do livro vem do Evangelho de Filipenses, capítulo 2, versículo 12. O ponto central do livro é a questão da moralidade e da fé.
10- Timeu, por Platão
Eu poderia ter indicado “Apologia de Sócrates” que também é excelente, mas escolhi botar esse para fazer alguns paralelos com a Bíblia.
O conceito do demiurgo de Platão é diferente do Deus cristão, já que envolve a alma do mundo (anima mundi), que Leibniz negou. Platão mistura diferentes tradições, sobretudo a órfica, em sua cosmogonia. Os gnósticos consideram o demiurgo um falso Deus, mas não é esse o sentido que Platão lhe dá. A partir desse Deus primeiro teriam surgido os outros, que Platão diz ser correto aceitar, “conforme o costume”.
Aqui há o conceito de metempsicose, que também existe no budismo, hinduísmo e no próprio orfismo (dentre outras religiões), que é a transmigração de almas, incluindo em formas animais.
Numa parte do livro são descritos os cinco sólidos platônicos que representam os elementos: tetraedro (fogo), cubo (terra), octaedro (ar), dodecaedro (cosmos) e icosaedro (água). Segundo Plutarco, esse trecho que se refere ao dodecaedro, que representa o universo e tem 12 lados, corresponde aos 12 signos do Zodíaco.
Eu me interessei por esse livro porque Leibniz o mencionou em sua Teodiceia. Depois que Hegel fez referência a ele em uma de suas obras, eu resolvi finalmente lê-lo.
11- Novum Organum, por Francis Bacon
Tido como um dos fundadores do método científico, junto com Descartes. Ambos acreditavam em Deus e eram cristãos.
Bacon foi rosa-cruz. Há uma série de rumores sobre a vida dele, que não irei debater aqui.
Uma de minhas passagens favoritas do livro:
“Os que se dedicaram às ciências foram ou empíricos, ou dogmáticos. Os empíricos, à maneira das formigas, acumulam e usam as provisões; os racionalistas, à maneira das aranhas, de si mesmos extraem o que lhes serve para a teia. A abelha representa a posição intermediária: recolhe a matéria-prima das flores do jardim e do campo e com seus próprios recursos a transforma e digere. Não é diferente o labor da verdadeira filosofia, que se não serve unicamente das forças da mente nem tampouco se limita ao material fornecido pela história natural ou pelas artes mecânicas, conservado intato na memória. Mas ele deve ser modificado e elaborado pelo intelecto. Por isso muito se deve esperar da aliança estreita e sólida (ainda não levada a cabo) entre essas duas faculdades, a experimental e a racional”.
12- Investigações Filosóficas, por Ludwig Wittgenstein
Aí está o cara que arruinou a filosofia, MUITO OBRIGADA! Já estava na hora de ser colocada um pouco de ordem nessa palhaçada.
Há quem diga que foi Hegel que arruinou tudo, mas ele é o filósofo favorito de José Servo (protagonista de “O Jogo das Contas de Vidro”), então não podemos nos precipitar.
Wittgenstein quase deixou o Russell maluco e por isso eu o agradeço duplamente, MUITO OBRIGADA!
Ele era um cara muito interessante. Para ele engenharia era aparentemente fácil e ele achou que era muito agradável abdicar de sua herança e ser jardineiro de um mosteiro por um período.
13- A Consolação da Filosofia, por Boécio
Imagine que você está preso e em exílio esperando para ser executado. O que você faz? Escreve uma das maiores obras da história da filosofia.
É um livro poderoso em que o autor imagina um diálogo entre ele mesmo e a Filosofia, personificada como uma mulher.
Em vez de se voltar para a religião em busca de consolo, Boécio se volta para a filosofia. Ainda assim, há referências a Deus em sua obra, como fonte do bem, sem alusões cristãs ou religiosas específicas.
14- Aprendendo a viver, por Sêneca
“Por que olhas para o cofre? A liberdade não pode ser comprada […] Primeiro, livra-te do medo da morte, pois ela nos impõe o seu jugo, e, depois, deves perder o medo da pobreza”
“O geômetra ensina-me a medir as grandes propriedades. Faria melhor se me ensinasse a encontrar a medida exata daquilo que satisfaz o homem. […] De que me adianta saber lotear um terreno se não sei dividi-lo com um irmão?
Sêneca foi um dos pensadores do estoicismo. Nero ordenou que Sêneca cometesse suicídio, pois o acusou de ter participado de uma conspiração para matá-lo, o que ele provavelmente não fez. Mas Sêneca o obedeceu mesmo assim, cortando as veias para sangrar até a morte.
15- Diálogos sobre a religião natural, por David Hume
Um livro maravilhoso! Eu me diverti bastante lendo. Os diálogos me prenderam do início ao fim. Como eu disse antes, gosto de diálogos.
Na história, três personagens, Démea, Philo e Cleantes debatem sobre a natureza de Deus.
Hume inicia com uma crítica ao ceticismo. Seus personagens são teístas e não colocam a existência de Deus realmente em dúvida.
É interessante a frase de Francis Bacon que se cita no começo:
“Um pouco de filosofia inclina a mente do homem para o ateísmo, mas profundidade em filosofia traz de volta as mentes das pessoas para a religião”
Os personagens debatem os argumentos clássicos sobre a existência de Deus, especialmente o cosmológico e o teleológico. Também tratam sobre a questão do mal.
Kant foi profundamente influenciado por Hume.
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E aqui finalizo minha lista com os livros que me recordo no momento.