Top 10 Livros de Literatura Africana
Nessa lista acrescentei livros dos seguintes países: Nigéria, África do Sul, Moçambique e Angola. Ainda preciso ler mais livros de outros países africanos. Já soube de alguns famosos autores de outros países desse belo continente que desejo muito ler.
1- Americanah, por Chimamanda Ngozi Adichie
Quando eu li esse livro, no início de 2016, ainda não havia saído o filme, que lançou em 2017. Ainda não vi, mas tenho vontade de ver, pois gosto muito desse livro.
Os livros da Chimamanda estavam em destaque nas livrarias brasileiras, talvez por volta do fim de 2016 e início de 2017. Eu mesma soube sobre a autora buscando listas na internet sobre os autores nigerianos mais famosos, mas fiquei feliz de ver os livros dela nas nossas livrarias! Já li cinco livros dela. Sou fã!
Americanah é meu livro preferido da Chimamanda, pois se trata de uma história que se passa na nossa época, com questões bem atuais. Fala da vida urbana da Nigéria das classes altas. É uma história de amor que envolve temas como preconceito racial, nacionalidade e status socioeconômico.
O livro, após uma breve introdução, começa contando a história da protagonista num colégio de elite nigeriano. Um de seus colegas, conforme ela relata, tem o passaporte “pesado” de tantos carimbos, devido às dezenas de países que visita regularmente. Quando há uma votação para escolher a menina mais bonita da classe, sempre ganha a moça “mestiça”, sendo a diferença em relação às outras ser negra mas não ter a pele tão escura assim.
A protagonista se muda para os Estados Unidos e fica surpresa quando as pessoas lhe dizem: “Seu inglês é muito bom”, sem saberem que na Nigéria se fala inglês. Quando ficam sabendo que ela vem de um país africano lhe dizem: “Então você é uma africana privilegiada”, por estar morando nos Estados Unidos. Ela logo pensa: “Eu não me acho privilegiada! Privilegiado é meu colega com passaporte pesado!”, já que, para muita gente, morar em países africanos é visto como sinônimo de ser pobre.
O rapaz por quem a protagonista é apaixonada passa um tempo na Inglaterra e lá um homem inglês que nasceu numa cidade do interior faz a seguinte pergunta: por que ele está morando em Londres? Por ter nascido na Nigéria, ele não considera um dever continuar no seu país para ajudar os pobres de seu povo? Nesse momento o rapaz nigeriano dá uma resposta genial: se é assim, por que o cara que nasceu numa cidadezinha pequena do interior da Inglaterra não continua vivendo onde nasceu para ajudar os pobres de lá? Por que ele se mudou para Londres? Nesse momento o cara inglês fica quieto. Achei esse um dos momentos mais gloriosos do livro.
Outra boa personagem é uma médica nigeriana que se muda para os Estados Unidos com o filho bebê. O filho dela cresce lá, estuda num colégio americano e se cria como americano. Eles são parentes da protagonista e a forma com que esse adolescente vê a Nigéria e o país em que vive é bastante particular. “Olha só, estou aqui na Nigéria e ainda não fui devorado por um leão!” ele posta algo assim na internet.
Essas são apenas algumas cenas que me marcaram. A história em si tem muitas reviravoltas e reflexões interessantes. Não é por acaso que está no primeiro lugar da minha lista.
2- O Mundo se Despedaça, por Chinua Achebe
Essa é considerada uma das mais famosas obras da literatura africana contemporânea. Talvez seja até a mais conhecida.
Trata-se de uma história interessante, com personagens cativantes e um protagonista bem marcante. Gosto de ver protagonistas casados e com filhos.
A história tem linguagem simples, é fácil de ler, narrativa fluída, cheia de diálogos. Em suma: é divertido! O livro prende.
Ao ler o livro é possível conhecer muito da cultura tradicional da Nigéria. Aprendemos muitas palavras novas, lendas, formas de pensar dos nativos que vivem em locais afastados. Além disso, a obra mostra o contato desses nativos com a civilização ocidental e como eles receberam as igrejas cristãs que começaram a se instalar lá.
Chinua Achebe é um bom escritor e grande conhecedor das tradições antigas de sua terra natal. Não é à toa que esse livro é tão famoso. Faz parte de uma trilogia.
O autor criticou duramente a forma com que autores estrangeiros retratavam a África, principalmente o livro “Coração das Trevas” de Joseph Conrad. Eu também já li esse livro e concordo com a crítica de Achebe.
“O Mundo se Despedaça” conta a história de Okonkwo, homem da tribo igbo. Seu vilarejo se desintegra devido à influência britânica. Ele passará dificuldades para começar sua carreira como agricultor.
3- O Leão e a Joia, por Wole Soyinka
Já faz alguns anos que admiro Wole Soyinka, Nobel de Literatura. Mais um nigeriano para nossa lista!
Antigamente, quando eu buscava livros dele, era muito difícil encontrar. Hoje em dia eles já são mais acessíveis. Inclusive, o autor deu uma palestra na penúltima Feira do Livro de Porto Alegre. Eu soube um pouco em cima da hora e infelizmente não pude comparecer devido a outro compromisso que eu tinha naquele dia.
“O Leão e a Joia” trata-se de uma obra fascinante, sensível, engraçada, inteligente. É uma peça de teatro.
Baroka, o chefe sexagenário de uma aldeia, conhecido como “o Leão”, disputa o amor de Sidi, moça que é conhecida como “a Joia”, com Lakunle, um jovem professor com ideias ocidentalizadas. Trata-se de uma fábula sobre a luta entre os valores africanos e costumes europeus, entre a liberdade feminina e o apego a tradições que as desvalorizam, e entre ideias de progresso e conservadoras.
Final lindo e surpreendente. É uma história leve, com diálogos bem diretos, contendo ideias profundas, mas de maneira divertida.
Há um livro do autor que quero muito ler um dia, chamado “Death and the King’s Horseman”.
4- Estórias Abensonhadas, por Mia Couto
Já li outros livros do Mia Couto além desse, mas não muitos. Por isso não sei dizer qual seria um dos melhores livros dele, mas lembro que gostei desse. É um autor moçambicano bem famoso e em 2017 e 2018 era fácil encontrar vários livros dele em destaque nas livrarias brasileiras.
Bah, que autor legal!
Confesso que às vezes me distraio, nem sempre as histórias prendem. Mas os contos são muito bonitos.
O primeiro conto “Nas águas do tempo” me deixou muito sonhadora. Esse conto é mágico!
É uma obra repleta de tradições orais africanas que retratam um período de paz em Moçambique, após quase trinta anos de guerra. O livro capta essa atmosfera de transição, com essas pequenas fábulas.
5- O Engate, por Nadine Gordimer
Terminei de ler esse livro hoje. Já desconfiava que tinha altas chances de entrar para a minha lista. Foi por inspiração desse livro que decidi fazê-la agora.
A autora sul-africana recebeu o prêmio Nobel de literatura em 1991. Ela também escreveu bastante contra o apartheid.
Esse livro conta a história de uma moça de 29 anos, branca e de uma família rica da África do Sul. O carro dela estraga e ela conhece um mecânico árabe negro, imigrante ilegal, por quem se apaixona.
Achei ótimo o livro. Gostei dos personagens. A história é envolvente e o final surpreendente.
A protagonista tem um grupo de amigos com quem se reúne regularmente, chamado “A Mesa”, e com eles debate questões políticas e diversas preocupações e passatempos das classes altas. É bem interessante o tom irônico que a autora passa em alguns desses debates.
Ela até menciona algo do tipo: “sou anticapitalista enquanto meu pai não corta minha mesada” hahaha!
Quando o mecânico árabe começa a participar dos debates da Mesa (um estranho naquele mundinho de “assuntos intelectuais”), fala algo assim: “No meu país não tem capitalismo e nem socialismo. Tem… feudalismo”.
Genial.
Outra coisa que gostei muito foram os detalhes sobre a cultura muçulmana e os hábitos religiosos da família do mecânico árabe. Eu sabia que ia gostar dessa parte!
6- Foe, por J.M. Coetzee
Há certa elegância nessa história.
Confesso que foi meio cansativo passar por alguns trechos, mas fiquei orgulhosa por terminar.
Decidi ler esse livro porque o autor é sul-africano, além de mais um Nobel de literatura. Eu buscava “Desonra” mas adquiri esse, que foi o que achei na livraria.
A personagem principal é uma mulher, e narrada em primeira pessoa. Ela está perdida numa ilha, e foi parar lá inicialmente porque sua filha perdeu-se na Bahia. Dá muito mais familiaridade que o Brasil participe da história.
Me incomodou um pouco a forma com que o escravo negro é retratado. Sei que foi proposital, mas ainda me perturbou. Ele é considerado pouco mais (ou menos?) que um animal.
7- Mayombe, por Pepetela
“Mayombe” foi escrito durante a participação de Pepetela na guerra de libertação de Angola, e mostra o cotidiano dos guerrilheiros do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) em luta contra as tropas portuguesas.
Esse livro possui algumas cenas gloriosas. Além de falar de política, trata do amor, de questões filosóficas, dentre muitas outras. Tudo de forma muito natural. Os personagens são bons.
8- Meio Sol Amarelo, por Chimamanda Ngozi Adichie
Mais um da Chimamanda, já que gosto da autora. Tem um filme desse livro, que eu já vi. Tinha na Netflix, mas agora tiraram.
Belíssimo livro, simplesmente espetacular!
Conta a história da guerra com a tentativa da fundação do estado independente de Biafra. Baseado em fatos reais, com personagens interessantes e história cativante.
9- Hibisco Roxo, por Chimamanda Ngozi Adichie
Acho que o tema maior desse livro foi religião. A princípio achei que o livro era para criticar o catolicismo, mas não é isso. Há o pai da protagonista que é um católico fanático e violento (apesar de ser benfeitor dos pobres), mas há vários outros personagens católicos no livro que têm sua religião e vivem tranquilos. Em especial, há um personagem religioso que possui muita importância na narrativa.
Então, posso dizer que gostei da sensibilidade com que Chimamanda tratou de um tema tão difícil.
10- Mulheres de Cinzas, por Mia Couto
Outro do Mia Couto!
Esse é o primeiro volume da trilogia “As Areias do Imperador”, lançado em 2015. Nesse ano meu pai me trouxe esse livro de presente de viagem, pois ele sabe que gosto do Mia Couto. Essa é a capa da edição portuguesa, que eu tenho:
Gosto muito da forma que o Mia Couto escreve. Ele passa essa atmosfera tranquila, idílica e delicada, mesmo quando fala de temas sérios e pesados.
É uma história que se passa no fim do século XIX, durante a guerra em Moçambique, alternando as vozes de uma jovem africana e de um sargento português.
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Ainda há muitos autores africanos que quero ler, como o queniano Ngũgĩ wa Thiong’o, o nigeriano Ben Okri e tantos outros que por enquanto só conheço de nome e já admiro de longe, sem ainda ter participado de seus universos fantásticos.