Top 10 Livros de Islamismo

Wanju Duli
8 min readJan 11, 2019

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Eu não li muitos livros de islamismo até hoje. Gostaria de ter lido mais ou de ler mais no futuro. Por isso, irei apenas comentar sobre algumas obras que me recordo nesse momento.

Infelizmente há poucas obras do tipo em português, o que dificulta para todos. Mesmo para quem lê inglês, as obras em português costumam ser mais baratas e mais fáceis de obter se são encontradas em livrarias. A alternativa é encomendar por um preço mais caro e esperar, ou ler os ebooks.

1- O Alcorão

Pode parecer um pouco óbvio colocar o livro sagrado do Islã na lista. Quis falar dele aqui por ter sido a primeira obra sobre islamismo que chegou às minhas mãos, quando eu tinha uns 18 anos. Foi nessa época que o li inteiro pela primeira vez.

Desde então, já devo ter lido umas três ou quatro vezes na íntegra e várias vezes consultando apenas alguns trechos. Comparando com minhas leituras da Bíblia, principalmente do Novo Testamento, pode parecer pouco. Mas o Alcorão é um livro bem menor que a Bíblia (considerando Velho Testamento mais Novo Testamento).

Pode soar extremamente repetitivo para quem não está acostumado (ou mesmo para quem está acostumado). Mas há trechos belíssimos e profundos. Eu tive que reler e estudar com mais atenção para perceber o poder de certas passagens que das primeiras vezes não reparei.

Dizem que no original em árabe o livro sagrado dos muçulmanos possui um encanto único. Ouvi-lo em árabe, principalmente cantado, aumenta a fé de muita gente. Há histórias de pessoas que se converteram apenas ao escutar a beleza de alguns trechos em árabe, que eu mesma considero um dos idiomas mais belos do mundo; tanto a escrita quanto a fala.

2- Em Nome de Deus, por Karen Armstrong

Li esse livro em 2016, em inglês. Livro maravilhoso, muito bem pesquisado. A parte filosófica e especialmente a histórica é fantástica! Já li três livros escritos pela autora.

Trata das três religiões abraâmicas. Algumas passagens sobre islamismo:

“O Corão não condena outras tradições religiosas como falsas ou incompletas, mas mostra cada novo profeta confirmando e continuando os insights de seus predecessores. O Corão ensina que Deus enviou mensageiros para todas as pessoas da face da Terra”.

“Não discuta com os seguidores de revelações que vieram antes, mas diga: ‘Nós acreditamos naquilo que nos foi concedido, assim como naquilo que vos foi concedido: pois nosso Deus e vosso Deus é um e o mesmo, e é a ele que devemos nos entregar” (Corão 29:46)

“O Corão menciona apóstolos que eram familiares aos Árabes — como Abraão, Noé, Moisés e Jesus. Hoje os muçulmanos insistem que se Maomé soubesse sobre os hindus e budistas, ele teria incluído seus sábios religiosos. Os muçulmanos também defendem que o Corão teria honrado os xamãs e homens sagrados dos índios americanos e aborígenes australianos”

“A razão é a mais exaltada atividade do homem: ela toma parte na razão divina e claramente teve um papel importante na busca religiosa. Avicena viu isso como um dever religioso para aqueles que tinham a habilidade intelectual de descobrir Deus por eles mesmos dessa forma, pois a razão pode refinar o conceito de Deus e libertá-lo da superstição e do antropomorfismo”.

“O estudioso britânico John Bowker mostra que em árabe a palavra para existência (wujud) deriva de sua raiz wajada: “ele encontrou”. Literalmente, então, wujud significa “aquele que pode ser encontrado”. Um filósofo que fala árabe que tentasse provar a existência de Deus não precisaria produzir Deus como outro objeto entre muitos. Ele simplesmente deveria provar que ele poderia ser encontrado”

3- No god but God, por Reza Aslan

Não sei se esse tem tradução para português.

Esse autor ficou mais conhecido no Brasil por seu livro “Zelota” sobre a vida de Jesus, que eu também li. Porém, gosto mais do livro dele sobre islamismo. No ano passado ele também lançou um chamado “Deus: uma história humana”.

Não irei falar sobre esse livro em detalhes aqui, pois eu fiz uma resenha enorme sobre ele no começo de 2016.

Um excelente livro que trata de questões importantes e polêmicas. O autor não somente explica sobre a espiritualidade do islamismo, mas também delineia seus aspectos políticos, incluindo história antiga e recente.

Reza Aslan inicia falando sobre o 11 de setembro. Mas onde isso tudo começou? E passa a relatar a história do surgimento do islamismo.

4- Maomé: uma biografia do profeta, por Karen Armstrong

Armstrong nos convida a aprender sobre a vida de Maomé no contexto dos tempos conturbados em que viveu. Enquanto Jesus pregou numa sociedade que já tinha leis estabelecidas e conseguia garantir certo estado de paz social (pax romana), Maomé vivia numa época e lugar em que predominava a vendeta entre tribos. Enquanto São Paulo podia viajar sozinho entre as diferentes cidades para pregar o Evangelho, se um árabe tentasse viajar sozinho certamente seria morto pelo caminho. Somente a tribo garantia certa proteção e quando duas tribos se cruzavam era grande a chance de guerras e conflitos.

Perto do estado caótico do tempo de Maomé, o que ele propôs foi extraordinário e um grande avanço. Graças a ele houve mais união e paz entre tribos, houve muitos direitos para as mulheres e ajuda aos mais pobres.

5- Em que acreditam os muçulmanos?, por Ziauddin Sardar

“‘Quem vocês considerariam um mártir?’ O grupo respondeu: ‘Ó mensageiro de Alá, qualquer um que for morto lutando no caminho de Alá é um mártir’. O Profeta respondeu: ‘Nesse caso, os mártires da minha comunidade deverão ser muito poucos. Aquele que morre no caminho de Alá é um mártir. Aquele que morre uma morte natural no caminho de Alá é um mártir. Aquele que morre vítima da praga no caminho de Alá é um mártir. Aquele que morre vítima de cólera no caminho de Alá é um mártir’. Em outras palavras, o caminho para o paraíso é levar uma vida altruísta, espiritual e dedicada a boas obras”

Ótimo livro, que esclarece quem são os muçulmanos, sua origem (história do Profeta), no que acreditam, dentre muitas outras informações fundamentais.

Bom livro introdutório, curto e objetivo.

6- A origem e o retorno, por Avicena

Nesse livro são tratadas mais as questões da física, como o movimento, mas sempre com a abordagem espiritual de Deus e alma. O motor imóvel de Aristóteles recebe destaque especial.

É dito que a causa primeira de uma coisa não pode ser finita. Sendo assim, Deus seria infinito, não causado e incorpóreo. Também se fala sobre a verdade e a beleza divina, e da verdadeira e da falsa felicidade.

7- Discurso decisivo, por Averróis

Em “Discurso Decisivo” o autor levanta a seguinte questão: é permitido, pelo islamismo, estudar filosofia? Ele responde de modo afirmativo, ressaltando que é altamente recomendado, contanto que não se faça afirmações que contradigam as verdades reveladas da religião.

Bastante elucidativo, o livro traz muitas outras reflexões filosóficas, como a natureza do tempo, fazendo também relações com a medicina e a legislação.

Tanto esse como o livro de Avicena são livros de filosofia escritos num estilo um pouco difícil. Recomendado para quem gosta de ler os textos originais, mas não tão recomendado para quem quer apenas um texto introdutório sobre filosofia islâmica.

8- Observando o Islã, por Clifford Geertz

O autor faz um estudo comparativo entre o islamismo no Marrocos e na Indonésia. Enquanto no Marrocos há um islamismo mais antigo e tradicional, o da Indonésia é influenciado pelas religiões indianas, sendo que o hinduísmo também tem força lá.

Aprendemos a história de alguns grandes nomes de santos ou pessoas importantes do Islã nesses dois países. Por fim, é concluído que a religião não pode ser analisada como um fenômeno meramente pragmático e nem místico e que é difícil ao antropólogo analisar a fé estando de fora.

Essa é uma obra bem específica da religião desses dois países, então não é tão recomendada a quem deseja um estudo introdutório ao islamismo.

9- O Rosto atrás do Véu, por Donna Gehrke-White

A autora entrevista diversas muçulmanas que vivem nos Estados Unidos: médicas, advogadas, donas de casa e até uma estilista que cria roupas especificamente para a moda muçulmana.

Cada uma dessas muslimah (denominação árabe para as mulheres muçulmanas) conta como é viver entre seus valores espirituais e os valores do mundo moderno.

10- Eu sou Malala, por Malala Yousafzai

Eu estava pensando em incluir essa biografia na minha lista de biografias. Já que não a coloquei lá, botarei aqui, até porque o livro anterior da lista também não é um livro especificamente sobre a filosofia ou espiritualidade islâmica, mas uma coleção de histórias.

Obviamente, histórias reais são ótimas para termos um retrato mais fiel sobre o que é o islamismo no mundo hoje, além da cobertura muitas vezes superficial retratada por alguns jornalistas.

Embora Malala tenha vivido num período do Paquistão em que o islamismo adquiriu uma faceta sombria, a família dela e muitas das pessoas ao seu redor são prova de que é possível possuir uma fé muçulmana que ajuda a aprofundar a espiritualidade, e não como instrumento de dominação.

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Enquanto alguns livros dessa lista são bem básicos e introdutórios (como “Em que acreditam os muçulmanos?”, por Ziauddin Sardar), outros, apesar de também mostrarem a base, aprofundam na parte política e filosófica (como os livros de Karen Armstrong e Reza Aslan).

Para quem gosta de filosofia medieval, há os livros de Avicena e Averróis. Para biografias e relatos, os dois últimos.

Tudo depende do que você busca. Em geral, os brasileiros não costumam conhecer nem o básico sobre o islamismo e na Amazon há vários livrinhos curtos em português falando brevemente sobre a vida de Maomé e os cinco pilares do Islã.

Eu mesma preciso ler mais livros de islamismo para conhecer quais são os melhores livros da área, mas por enquanto essa lista foi o que consegui fazer. Espero melhorá-la no futuro.

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Wanju Duli
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