Top 10 Livros de Fantasia

Wanju Duli
12 min readJan 7, 2019

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1- O Senhor dos Anéis, por J.R.R. Tolkien

Quando eu era adolescente, li os três volumes de “O Senhor dos Anéis” cinco vezes, além de “O Hobbit” (que eu li três vezes) e “O Silmarillion” (que eu li duas vezes).

Na época em que li esse livro pela primeira vez, eu nem sabia que iam fazer um filme. Fiquei muito feliz e surpresa quando soube. Comprei o CD com as músicas e vi o primeiro filme 15 vezes no cinema, haha! O segundo filme eu vi cinco vezes no cinema e meu pai me perguntou: “Ué, mas só cinco? Já não é tão fã quanto antigamente?”. O terceiro eu vi duas.

Nos últimos anos voltei a apreciar o Tolkien após ler “The Philosophy of Tolkien” de Peter Kreeft. Nesse livro descobri que Tolkien considera seu protagonista (Frodo) Deus. Na verdade, há três figuras semelhantes a Cristo em Tolkien: Gandalf, Frodo e Aragorn.

Os elfos são figuras semiangélicas e os magos (como Gandalf) são anjos. Há muitas outras referências cristãs nos livros, embora a história se passe num período pré-cristão. Realmente, Frodo nasceu num lugar pequeno, afastado e humilde (como Jesus) e sua missão é igualmente grandiosa: salvar o mundo! E para isso deverá lutar contra forças demoníacas ao redor (Sauron, que é um anjo caído, os orcs, que são elfos caídos, etc).

O mal não tem existência isolada, mas é o bem decaído. Da próxima vez que eu ler Tolkien, com certeza irei atentar para as referências. Elbereth Giltoniel é o mais poderoso dos anjos. Quase o equivalente a Miguel, ou mesmo a Maria.

Tolkien era católico e adicionou referências católicas em muitas de suas obras, embora ele preferisse fazer isso de forma sutil, diferente de C.S. Lewis que era bem claro em suas analogias cristãs.

2- O Nome do Vento, por Patrick Rothfuss

Também li a continuação, “O Temor do Sábio”.

Quer ler uma série de fantasia escrita por um autor que pratica alquimia no porão da casa? Então leia “A Crônica do Matador do Rei”.

Segundo o próprio Patrick Rothfuss, ele já estudou áreas como antropologia, filosofia, religiões orientais, história, alquimia e parapsicologia. E ele demonstra dominar alguns desses conhecimentos muito bem através da sua história.

Respeito o autor pelo tempo enorme que levou para escrever suas obras, fazendo pesquisas detalhadas.

3- Trilogia Grisha, por Leigh Bardugo

Achei a recomendação para ler essa série em 2017 no site de uma fã americana de Homestuck. Fiz um vídeo sobre os livros da autora aqui. Também já li a duologia “Crooked Kingdom”, que na época não sei se havia o segundo volume em português, mas agora tem.

Você dificilmente vai achar essa trilogia numa lista dos melhores livros de fantasia, já que a maior parte dessas listas são feitas por homens, que podem ter gostos diferentes. Também falo sobre essa questão no vídeo.

Eu gostei muito dessa série e gosto da autora. A história e os personagens são ótimos e há várias reviravoltas e surpresas.

Se você gosta de piratas, pode ser uma boa leitura, pois a autora também gosta muito. Sempre há personagens piratas nos livros dela e ela pesquisou a fundo sobre “coisas de piratas” para tornar tudo o mais fiel possível, com vários detalhes.

A protagonista é uma mulher, o que considero um ponto forte e, surpreendente dizer, “inovador”, considerando o gênero histórias de fantasia direcionadas a um público adulto.

4- Prince of Thorns, por Mark Lawrence

Já li o primeiro volume da trilogia duas vezes. Da primeira vez li em inglês, alguns anos atrás, e da segunda li em português.

O protagonista é um anti-herói perfeitamente filho da puta, um assassino, torturador, estuprador e todo o resto que você pode imaginar de ruim: mentiroso, traidor, torturador de animais, boca suja, enfim, acho que o autor tentou pensar no pior tipo de ser humano que poderia haver e colocou em seu protagonista de… 13 anos, que vai envelhecendo ao longo da série.

Mark Lawrence diz ter se baseado bastante em “Laranja Mecânica” para criar seu protagonista. O livro levantou alguma polêmica, como era de se esperar. Na verdade eu fui atrás do livro exatamente porque fiquei curiosa sobre a polêmica, hehe.

Eu acho divertido que, ao mesmo tempo em que a história se passa num mundo de fantasia, existem lá padres católicos e são citados os filósofos e autores de livros de literatura do nosso mundo.

Ele tem algumas cenas ótimas, reflexões poderosas, diálogos ousados. Só me incomodou um pouco a excessiva referência a G.R.R. Martin.

Numa ocasião em que li alguns textos do blog do autor, lembro que ele fez uma reflexão interessante. Ele falou algo assim: “Há pessoas que pensam da seguinte forma: eu não gosto de elefantes, então se há elefantes no seu livro significa que ele é um péssimo livro”.

Realmente, nossas preferências interferem muito ao tentar avaliar se um livro é bom. Outra coisa diferente, claro, é dizer se o livro nos agradou ou não.

Nessa minha lista, por exemplo, estou simplesmente citando os livros que me agradaram. Claro que eu reconheço que existem outros ótimos livros de fantasia bem escritos que não estão nessa lista. Não porque eles não são bons, mas porque não são meu tipo de livro. Ou eu simplesmente não os li ainda, haha.

5- Elric of Melniboné, por Michael Moorcock

Já li mais de um livro dessa enorme saga, mas se não me engano o que mais gostei foi o primeiro, de 1972.

Essa série foi uma enorme influência para a primeira geração de magistas do caos. Inclusive, Moorcock foi o criador da estrela do caos da forma que a conhecemos hoje. Fiz um vídeo falando sobre isso aqui.

O protagonista Elric de Melniboné mantém contato com os Deuses do Caos e deve lutar pelo equilíbrio entre as forças do Caos e da Ordem, como uma das reencarnações do Campeão Eterno. Mas as referências à magia não acabam aí, já que Elric é um leitor voraz de livros de magia e um feiticeiro que evoca poderosos demônios através de elaborados rituais minuciosamente descritos no livro.

Esse autor influenciou outros autores, como Neil Gaiman, Alan Moore e George R.R. Martin.

Moorcock escreveu esse livro com apenas 24 anos. Qualquer um que chame esse livro de clichê deve se lembrar que os clichês são os outros livros no mesmo estilo que vieram depois deste, já que o autor é um dos pioneiros no estilo de fantasia atual. Em suma, ele foi um dos caras que “inventou” os tropos (ou pelo menos alguns deles).

Uma das propostas de Moorcock foi bolar uma história que seguisse uma linha um pouco diferente dos universos de Tolkien, e por isso em vez de um herói ele cria uma espécie de anti-herói.

A premissa do livro já começa muito boa, pois Elric, o herdeiro do trono, é um intelectual e feiticeiro. Ele questiona algumas práticas bárbaras da tradição de seu povo, que pune crimes com tortura e morte. Por outro lado, desde criança ele já está acostumado a isso. Algumas vezes ele atormenta a si mesmo por ter lido tanto e questionado tanto.

O protagonista é complexo. Ele muda ao longo da história. Os personagens secundários são interessantes, especialmente o arqui-inimigo.

A história possui cenas bem violentas (algumas de tortura), inclusive em pontos-chave, que evocam sensações poderosas no leitor. O autor é particularmente genial em compor os momentos de tensão.

6- A Cor da Magia, por Terry Pratchett

Vou colocar esse livro na minha lista para não ser xingada. “Mas onde está o Discworld?!”

Li o primeiro volume da série em inglês, alguns anos atrás (ou muitos anos atrás, nem lembro) e me recordo que num primeiro momento fiquei um pouco desapontada, pois eu tinha altas expectativas sobre o livro, de tão bem que me falavam dele.

Posteriormente, analisando com mais calma, reconheci seus pontos fortes. Há ótimos personagens e cenas engraçadas e inteligentes. É claro que o autor faz questão de colocar um pouco de física na história e explicar nos mínimos detalhes, como o Douglas Adams. Não é por acaso que o Peter Carroll é fã do Pratchett e baseou seu sistema de oito cores da magia nessa série.

7- O Aprendiz de Assassino, por Robin Hobb

Outro livro de fantasia escrito por uma mulher. Na época que eu li foi em inglês, pois acho que ainda não havia tradução para português.

No começo eu não esperei muito da história, mas depois entendi porque essa trilogia é famosa. A autora tem uma habilidade singular para escrever certas cenas. Especialmente, ela é capaz de te colocar num certo clima da história (calmo, sem grandes acontecimentos) para te arrancar dele completamente (violência, um acontecimento atrás do outro, de tirar o fôlego).

Em suma, Robin Hobb tem o leitor nas mãos. Num livro dela, é difícil saber o que esperar.

Gostei muito da relação do protagonista com os animais. É algo realmente forte, as descrições, muitas coisas que acontecem.

Também curti alguns personagens, cenas e diálogos memoráveis.

Fiquei particularmente impressionada com o final do livro.

8- O Poder da Espada, por Joe Abercrombie

Glokta foi o personagem que mais gostei. Ele é um inquisidor (leia-se, torturador) amargo e sarcástico. Ele mesmo já foi torturado no passado, está quase sem dentes e sem outras partes do corpo. Mas não chega a se divertir ao torturar, pois também é um tipo de aborrecimento. Os pensamentos do personagem tornam algumas cenas completamente hilárias.

As cenas de luta desse livro são incríveis. Eu quis ler esse livro porque ele tem a fama de ter algumas das melhores cenas de luta já escritas em livros de fantasia. E a obra faz jus à lenda!

Muito engraçado, com ótimos personagens e cenas memoráveis (daquelas de gargalhar e de ficar “the fuck?!”). No começo o livro não me prendeu, mas a história foi me chamando a atenção conforme as coisas aconteciam. Alguns diálogos são geniais (com uma boa dose de humor negro).

9- A Companhia Negra, por Glen Cook

Esse eu li em inglês e acho que também não havia em português quando li. Então as traduções desses trechos são minhas:

“‘Caras como eu dão um chute na bunda de caras como você quando eles começam a filosofar. Se você me entende’.

‘Acredito que sim, senhor’”

“Eu sou assombrado pelo claro conhecimento de que, no final, o mal sempre triunfa”

“O mal é relativo, Analista. Você não pode pendurar uma placa nele. Você não pode tocá-lo ou prová-lo ou cortá-lo com uma espada. O mal depende de onde você está, apontando seu dedo acusador”

“Eu não sou religioso. Não posso imaginar Deuses que dariam a mínima para a humanidade. Quero dizer, logicamente, seres dessa ordem simplesmente não fariam isso. Mas talvez haja uma força para o bem maior, criado por nossas mentes inconscientes conjuntas, que se torna um poder independente maior do que a soma de suas partes. Talvez, por ser uma coisa da mente, não depende do tempo. Talvez ele possa ver em todos os lugares e tempos, e mover os peões de modo que o que parece ser a vitória de hoje torna-se a pedra angular para a derrota de amanhã”

Há cenas muito boas e algumas reflexões excelentes. O escritor é ótimo em narrar as lutas e em descrever as situações com dramaticidade. O preço a pagar é tornar os capítulos mais lentos com as descrições, mas torna o livro mais rico.

Esse livro é famoso por ser uma história de fantasia com bastante realismo. O próprio autor já serviu na marinha e por isso é capaz de descrever as cenas de guerra com bastante fidelidade. Essa série se tornou um clássico cult principalmente entre membros do exército.

Lendo esse livro eu fui capaz de sentir um pouco dessa habilidade do autor de narrar minúcias da guerra, detalhando elementos que normalmente não são descritos em histórias desse tipo. Realmente te faz sentir dentro da história.

Outra coisa que gostei foi não somente o realismo nas batalhas, mas o realismo nos pensamentos e atitudes dos soldados. Eles não são idealistas e não glorificam a guerra, que é mostrada tal como é: uma coisa suja, desagradável. Por outro lado, os soldados não são totalmente frios e pessimistas. Eles possuem valores. Eles sentem medo. Eles podem ser muito egoístas, mas nem sempre.

Em suma, vale a pena ler o livro nem que seja para sentir a força desse realismo que, ao se misturar a elementos de magia, torna até mesmo a magia mais vívida.

10- O Clã dos Magos, por Trudi Canavan

Escrito por uma autora australiana, conheci a Trilogia do Mago Negro por uma recomendação de alguém que comentou em um dos meus posts no site Teoria da Conspiração. Gostei tanto que acabei lendo toda a trilogia.

A história se passa num mundo fictício em que a magia é extremamente respeitada e privilégio dos nobres. Um dia, poderosos magos estavam passando e alguns jovens pobres e indignados entre a multidão jogavam pedras. Sonea, uma garota de 16 anos que odiava magos, como todas as pessoas das classes mais baixas, resolveu jogar uma pedra, pela primeira vez. Espantosamente, a pedra atravessou o escudo mágico protetor e atingiu um dos magos, ferindo-o. A partir daí, Sonea é caçada pelo Clã. Afinal, como é possível que uma pessoa comum sem nenhuma instrução tenha aprendido alguma magia, ainda mais tão poderosa que a permitisse quebrar a barreira?

A narrativa se desenrola a partir desse ponto, com diversas cenas tensas e muitas vezes surpreendentes. É notável a criatividade da autora em muitos trechos, assim como a sua maneira particular de falar de magia. Eu particularmente gosto da forma com que há “salas” na mente de cada pessoa. Se um mago tenta ler sua mente, precisa ser primeiro convidado a entrar e pode atravessar diversas portas dos seus pensamentos. Alguns segredos você poderá manter trancados.

Os magos possuem uma respeitável universidade na qual ensinam magia, mas somente para os filhos de alguns nobres. Aqueles que vestem o vermelho são os magos Guerreiros, que duelam com magia. Os de verde são os Curadores. Os de roxo são os Alquimistas.

É relevante a forma com que a autora aponta as diferenças entre os dois mundos. Nas favelas existe muito mau cheiro, pobreza extrema, casas quase desabando, uma sociedade conhecida como Ladrões, prostíbulos, dentre muitas outras ocupações desse submundo, com o qual os ricos pouco se importam. Enquanto isso, nas Casas as pessoas desfrutam de uma vida de conforto, afastadas e seguras das favelas, que ficam bem longe e com as quais não desejam se relacionar.

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Esses são meus livros de fantasia preferidos que consegui lembrar nesse momento. Posso ter esquecido de alguns importantes.

Naturalmente, seu gosto pode ser bem diferente do meu e você pode achar que faltam ótimos livros aí ou que adicionei livros não tão bons. Novamente, é uma diferença de opinião completamente normal.

Às vezes posso colocar nas minhas listas livros não tão bem escritos ou não tão bem avaliados pela “crítica especializada”, mas se a história me diverte, me prende e se tem personagens que gosto muito pode ser o bastante para mim.

Aqui vai uma menção honrosa que só lembrei agora no final:

Eu li essa série na minha adolescência e na época eu era fã. Acho que li os cinco primeiros e depois parei de acompanhar. Também li “Colin Cosmo e os Supernaturalistas”.

Essa minha lista inclui principalmente livros de fantasia voltados para adultos, então talvez esse destoe um pouco do estilo da lista. Até porque esse se encaixa mais como realismo mágico (mistura de mundo real com fantasia). Mas fiquei com vontade de mencionar, pois a lembrança da série Artemis Fowl é muito querida para mim. :)

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