Top 10 Biografias de Santos Católicos

Wanju Duli
13 min readDec 30, 2018

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1- Legenda Áurea, por Jacopo de Varazze

Escrevi um texto no Medium apenas para falar detalhadamente desse livro, aqui. Também gravei um vídeo sobre ele aqui.

Resumidamente, é um livro de mais de mil páginas escrito em cerca de 1260 por um bispo dominicano, com mais de 150 biografias. A obra foi considerada um “bestseller” na Idade Média e mais de 800 cópias do manuscrito sobreviveram. Antes de 1500, havia mais edições da Legenda Áurea do que da Bíblia.

O que mais inspira o ser humano? Modelos. Jesus inspira os cristãos. Maomé inspira os muçulmanos. Buda inspira os budistas. E o exemplo de vida de cada um deles nos inflama mais do que qualquer escrito.

Por isso a Legenda Áurea fez tanto sucesso: por ser uma compilação das histórias das vidas dos santos conhecidos até então. Se um ser humano como eu, de carne e sangue, foi capaz de tamanha coragem e de tantos feitos incríveis, eu também posso! Nós pensamos assim.

Precisamos de modelos que são mártires, morrem e vivem por um ideal, são corajosos, prontos a sacrificar prazer e conforto, não se importar tanto com dinheiro e se dedicar a Deus e ajudar os outros. São desses modelos que precisamos em nossas vidas para podermos atingir todo nosso potencial, seja qual for nosso caminho.

2- São Martinho de Lima, por Giuliana Cavallini

São Martinho de Porres é um dos meus santos favoritos! Ele é um santo dominicano negro do Peru (1579–1639). Destacou-se por ajudar os doentes, os pobres e os animais. Possuía admirável simplicidade, humildade e amor. Sua fé era impressionante e há relatos de ele ter realizado várias curas milagrosas, bilocação e levitação. Também fazia várias penitências.

Nesse link do Youtube tem um filme sobre a vida dele.

Aqui vão alguns trechos do livro:

“Martinho tinha compreendido que para fazer progressos verdadeiros na oração é preciso a mortificação. Pensava da mesma forma um santo quase contemporâneo de Martinho — Filipe Néri, o mais proverbialmente alegre entre os santos — que dizia: ‘Querer se entregar à oração sem se mortificar é como ser um passarinho e querer voar antes de lhe crescerem as penas’”

“Ó obediência suave, que nunca tem pena! Tu fazes os homens viverem e correrem, mortos, e por isso matas a própria vontade; e quanto mais está morto, mais velozmente corre, porque a mente e a alma estão mortas para o amor próprio de uma vontade sensitiva perversa, com mais agilidade faz o seu caminho e se une ao seu esposo eterno com afeto de amor” (Carta 217 de Santa Catarina de Siena)”

“Irmão, com um pouco de força, água e sabão, os lençóis voltarão a ser brancos, mas para a alma é preciso mais! Somente lágrimas e penitência poderão limpá-la da falta de caridade” (Martinho)

“Até a morte, Martinho obedeceu à lex amoris [lei de amor] do Mestre: Christus non sibi placuit [Cristo não procurou o que lhe agradava] (Rm 15,3)

3- A Man of the Beatitutes: Pier Giorgio Frassati, por Luciana Frassati

“As dores humanas nos afetam, mas se elas são vistas à luz da religião, e assim da renúncia, elas não são prejudiciais, mas saudáveis, porque elas purificam a alma das pequenas e inevitáveis manchas com as quais nós mortais com a nossa mais imperfeita natureza somos frequentemente marcados”

Essa biografia foi escrita pela irmã de Pier Giorgio. A introdução foi escrita pelo notório teólogo Karl Rahner, que o conheceu.

Senti-me sinceramente inspirada pelo testemunho de um leigo dominicano que teve uma vida tão admirável. Ele morreu com apenas 24 anos (1901–1925), mas fez muito em sua breve vida. Participou ativamente de muitas sociedades cristãs, comungava todos os dias, nasceu em família rica mas fazia muitas doações aos pobres. Toda sexta-feira ele ia visitar os pobres e cuidava dos doentes. Foi assim que contraiu poliomielite, doença que o matou. Cursou engenharia de minas para poder ajudar os pobres que trabalhavam nas minas.

Aqui tem um filme sobre a vida dele, em italiano e legendado em português. É um ótimo filme!

Também escrevi esse texto no Medium sobre santos jovens, em que menciono Frassati.

4- Venha, seja Minha luz, por Santa Teresa de Calcutá

Biografia da Santa Teresa de Calcutá (1910–1997) organizada por Brian Kolodiejchuk. Já li duas vezes: uma antes de ir trabalhar por duas semanas com as Missionárias da Caridade em Calcutá e outra depois de voltar.

Um trecho do livro:

“Na Encarnação, Jesus tornou-Se igual a nós em todas as coisas exceto no pecado; mas no momento da Paixão, tornou-se pecado — Tomou sobre Si os nossos pecados e é por isso que foi rejeitado pelo Pai. Eu penso que esse foi o maior de todos os sofrimentos por que Ele teve de passar e aquilo que mais temia na agonia do Jardim. Essas Suas palavras na Cruz foram uma expressão da profundidade da Sua solidão e da Sua Paixão — que até mesmo o Seu próprio Pai não o reconheceu como Seu Filho”

Antigamente eu pensava que o objetivo de se ter uma religião era obter consolo no sofrimento, para sermos mais alegres e para não temermos tanto a morte. Depois eu descobri que era exatamente através dos sofrimentos (penitências ou sofrimentos variados da vida) que poderíamos chegar a Deus, imitando Jesus na Cruz, pois através da mortificação do corpo pelos outros e por Deus poderíamos chegar ao Espírito.

A noite escura da alma não é apenas uma época de escuridão e sofrimento, em que nos sentimos abandonados por Deus, e que nos leva a avançar para um estado posterior de felicidade. Não, na verdade a aridez espiritual, o vazio de Deus e o completo sofrimento e morte é o caminho mais completo para Deus.

Santa Teresa sentiu o mais longo período de aridez espiritual já conhecido exatamente porque ela se mortificou totalmente. É claro que a vocação de cada um é diferente. No entanto, crescemos em espiritualidade quanto mais desejamos o sofrimento voluntariamente: desejamos a dor física, o martírio e até mesmo a aridez espiritual, ausência de Deus, que é o maior dos infernos. É claro que Deus tem planos diferentes para cada pessoa e nossa missão é apenas obedecer, independente de Deus desejar que passemos por alguma dor ou alegria. No fundo, é esperado atingir um estado de obediência e humildade perfeitas em que não desejamos mais nada, nem alegria nem dor, apenas servi-Lo para a Sua glória.

Uma coisa legal na biografia da Madre Teresa é saber que a família dela, mesmo sendo pobre, costumava convidar todos os mais pobres que não tinham o que comer para almoçarem juntos na mesa da família. Assim como faziam as famílias dos pastores de Fátima. Ela relata como isso a inspirou.

Aqui tem um texto que escrevi sobre as MC.

5- História de uma Alma, por Santa Teresa de Lisieux

Livro fantástico. Simples, sincero, amoroso.

Teresa conta sua vida de forma apaixonante e delicada. Impossível não se sentir envolvido. Ela fala muito de flores e das pequenas coisas preciosas da vida. Apenas isso nos basta.

Ela era uma pessoa muito humilde. Ainda assim, sabia muito. Ela leu muito. Sabia longas passagens da Bíblia e da Imitação de Cristo de cor. Ela leu muitas vidas de santos. Tanto ela como Santa Teresa de Jesus amavam muito leituras e tinham que se segurar para não passar tempo demais lendo!

É com muita simplicidade que Teresinha confessa que tinha dificuldade de rezar o terço sem se distrair e isso para ela era até mais difícil do que fazer penitências.

Ela sentia vocação para muitas coisas: para ser uma brava guerreira como Joana d’Arc, para ser missionária, mártir. Mas ela percebeu que devia tornar-se pequena, como Maria: esconder-se e praticar a virtude apenas diante do olhar de Deus.

E com isso, sem ela saber, ganhou o olhar do mundo todo. Ela realmente imitou Maria e tinha uma enorme devoção por São José.

Li esse livro pela primeira vez quando fiz um retiro carmelita e o frei que me guiou durante o retiro me deu essa biografia. Gosto dessa passagem:

“Assim acontece no mundo das almas, que é o jardim de Jesus. Ele quis os grandes Santos, que podem ser comparados aos lírios e às rosas; mas criou também outros mais pequenos, e estes devem contentar-se com serem margaridas ou violetas, destinadas a deleitar os olhares de Deus quando olha para o chão. A perfeição consiste em fazer a sua vontade, em ser o que Ele quer que sejamos”

Santa Teresa de Calcutá escolheu ter esse nome por causa de Santa Teresinha.

6- Memórias da Irmã Lúcia

A família de Lúcia era realmente muito devota e gentil. Sempre dando esmolas aos pobres, ajudando os doentes e até hospedando pobres em casa.

Li essa biografia pela primeira vez no meu retiro em fevereiro de 2016. A monja me emprestou uns seis livros sobre a história de Fátima, incluindo essa biografia. No final do meu retiro, duas amigas do mosteiro me levaram para conhecer Fátima. Lá eu comprei o volume 1 e 2 dessa biografia para reler e poder emprestar para amigos, de tanto que gostei.

Aqui tem um vídeo que gravei de uma missa em Fátima e aqui de ovelhinhas que havia lá. Também costumava entrar várias ovelhinhas no mosteiro. ❤

A história de Fátima é célebre, na qual três pastorinhos do interior de Portugal recebem a visita de um anjo e de Maria. Maria disse a eles que dois deles morreriam em breve, mas Lúcia seria a única que “viveria mais um pouco”. De fato, os dois morreram ainda crianças, enquanto a Irmã Lúcia virou uma monja carmelita e viveu até os 97 anos (1907–2005).

É impressionante a fé dos pastorinhos e como eles realizavam mortificações pesadas em nome de Deus.

Foto da estátua do anjo que tirei em Fátima em março de 2016

7- Personal Writings, por Saint Ignatius of Loyola

Esse livro contém, além dos Exercícios Espirituais, muitas cartas de Santo Inácio de Loyola (1491–1556), fundador dos jesuítas.

Gravemente ferido na batalha de Pamplona, passou meses lendo enquanto se recuperava. Após a leitura do “Legenda Áurea” e outros livros espirituais, resolveu dedicar-se a Deus.

Alguns trechos de suas cartas:

“Estudo não te dá tempo para orações muito longas, mas aqueles que fazem todas as suas atividades em um estado de oração contínua, fazendo-as apenas para o serviço de Deus, podem compensar em desejos pelo tempo não gasto rezando formalmente”

“A ideia de que rezar por uma ou duas horas não é reza de verdade, e que mais horas são necessárias, é teologia ruim e vai contra as intuições e prática dos santos. Nós vemos isso primeiramente pelo exemplo de Cristo: embora às vezes ele passasse a noite toda rezando, em outras vezes ele não passava tanto tempo, assim como na reza da Última Ceia, ou nas três vezes em que ele rezou no Jardim”

“Obediência não é nada menos que um holocausto. É lá que podemos nos oferecer completamente, sem excluir nenhuma parte de nós mesmos, no fogo do amor para nosso Criador e Senhor nas mãos de Seus ministros. Pela obediência se coloca de lado tudo o que se é, privando-se de tudo que se tem, para que se seja tomado e governado pela divina Providência por meios de um superior”.

8- Confissões, por Santo Agostinho

Para ninguém me xingar, preciso incluir esse livro na minha lista, haha. Uma das mais célebres biografias de santos católicos!

Eu provavelmente já li esse livro umas cinco vezes, apesar de ser grande. Já li outros livros dele também.

Muita gente se identifica com Santo Agostinho (354–430) porque ele teve uma vida bastante mundana na juventude, em busca de dinheiro, fama, diversão e sexo. Na verdade, vários santos como Santo Inácio de Loyola e São Francisco de Assis também tiveram vidas mundanas antes de se converterem. Agostinho só se batizou aos 33 anos.

Li pela primeira vez em inglês e não me lembro onde estão minhas resenhas em português, então infelizmente vou ter que colocar as passagens em inglês mesmo:

“But I wretched, most wretched, in the very commencement of my early youth, had begged chastity of Theee, and said, ‘Give me chastity and continency, only not yet’”

Provavelmente a passagem acima é uma das mais famosas do livro.

“Lo, are they not full of their old leaven, who say to us, ‘What was God doing before He made heaven and earth?’ For if (say they) He were unemployed and wrought not, why does He not also henceforth, and for ever, as He did heretofore? (…) I answer not as one is said to have done merrily (eluding the pressure of the question). “He was preparing hell (saith he) for pryers into mysteries”.

Essa piada é clássica. Alguns devem conhecer a seguinte versão: “O que Deus estava fazendo antes de criar o céu e a terra? Estava preparando o inferno para quem fizesse essa pergunta”.

9- São Francisco de Assis, por G.K. Chesterton

Um dos melhores autores de catolicismo escrevendo sobre um dos mais queridos santos católicos.

Logo no começo, Chesterton relembra como atualmente, especialmente no meio jornalístico, recebemos as notícias a partir do final. Por exemplo, ficamos sabendo que acabou a ditadura num país da África, mas sequer sabíamos que havia ditadura lá ou que tal país existia. Ele também dá o exemplo da Inquisição espanhola, que foi particularmente violenta, com o famoso dominicano Torquemada. Mas antes de julgarmos o que aconteceu, será que sabemos algo sobre como era a Espanha daquela época? Que situação política ela estava passando? Da mesma forma, costumamos estudar a Igreja Católica a partir da Reforma, mas sequer sabemos o suficiente sobre ela para concluir no que ela precisava ser reformada!

Da mesma forma, antes de falar de São Francisco de Assis o autor nos conta um pouco sobre a história da Europa naquele tempo, em particular da Itália. E comenta sobre como funcionava a mentalidade da Idade Média e o quão avançado era esse período em muitos pontos que hoje nem pensamos. O autor relembra sobre a existência da servidão em vez da escravidão e como isso representou um avanço. Posteriormente, a escravidão retornaria, tendo em vista interesses econômicos. Principalmente no início da Idade Média, havia mais uma busca de status do que de dinheiro. Os valores simplesmente mudaram.

Há vários filmes sobre a vida de São Francisco de Assis. Um deles, muito conhecido e que gosto muito, é o “Irmão Sol, Irmã Lua”.

10- Santo Tomás de Aquino, por G.K. Chesterton

Já li várias biografias sobre o São Tomás de Aquino, mas essa é particularmente ótima.

Segundo São Tomás de Aquino, um homem não é um homem sem seu corpo, assim como um homem não é um homem sem sua alma. Pois um homem sem alma seria um cadáver e um homem sem corpo seria um fantasma.

Um trecho do livro:

“Pode ser dito que o tomista começa com algo sólido como o gosto de uma maçã, e depois deduz uma vida divina pelo intelecto; enquanto o Místico esgota o intelecto primeiro, a diz finalmente que o sentimento de Deus é algo como o gosto de uma maçã. Um inimigo comum pode argumentar que São Tomás começa com o gosto da fruta e São Boaventura termina com o gosto da fruta. Mas ambos estão certos; se eu posso dizer, é um privilégio das pessoas que se contradizem estar ambas certas. O Místico está certo ao dizer que a relação de Deus e homem é essencialmente uma história de amor; o padrão e o tipo de todas as histórias de amor. O Dominicano racionalista está igualmente certo ao dizer que o intelecto se sente em casa com o mais elevado dos céus; e que o apetite pela verdade pode durar mais e até mesmo devorar os entediantes apetites do homem”

“Aquino e Boaventura foram encorajados pela possibilidade que eles estavam ambos certos; pelo argumento quase universal de que eles estavam ambos errados”

O apelido de São Tomás de Aquino que lhe deram seus colegas de classe foi “boi burro”, já que aparentemente ele só ficava quieto num canto, tinha dificuldade em aprender lógica, era grande e gordo. Curioso que tal apelido tenha sido dado para aquele que foi, possivelmente, o maior teólogo católico de todos os tempos!

Ele dormia muito pouco, pois estava sempre ávido para continuar a escrever, ler e estudar. Poucos anos antes de morrer, ele teve uma visão espiritual numa missa. Depois desse dia, parou de escrever, pois disse que tudo o que havia escrito era praticamente nada comparado com aquela experiência que teve. E isso foi dito pelo autor da Suma Teológica!

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Parece que minha lista chegou ao fim. Eu teria muitas outras biografias a recomendar, como sobre Edith Stein, São Bento, São Joana d’Arc, Padre Pio, Santo Antônio, São João da Cruz e muitas outras que já li. Isso sem contar os muitos santos do cristianismo ortodoxo! Também já li biografias de alguns deles, principalmente quando faço retiros em mosteiros (já que a ordem que vou tem inspiração do cristianismo oriental).

Recomendo as biografias de Wyatt North que são curtas e podem ser lidas pelo Kindle Unlimited. Como exemplo, tem essa sobre São Bento e dezenas de outras que eu li e gostei muito.

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