Santos Jovens do Século XX e XXI
“A santidade não é o luxo de umas poucas pessoas, mas um simples dever para ti e para mim”
(Santa Teresa de Calcutá)
O século XX foi abençoado com centenas de santos católicos, principalmente se pensarmos na época da Segunda Guerra Mundial, em que tantos se sacrificaram, como Maximilian Kolbe, que se voluntariou a morrer no lugar de um estranho no campo de concentração de Auschwitz. Após duas semanas de desidratação e fome, permaneceu vivo, e depois foi morto com uma injeção de ácido carbólico.
Há tantos santos nessas últimas décadas que resolvi falar apenas de alguns. Selecionei alguns santos jovens que me chamaram a atenção. Eu certamente não conheço muitos deles, então vamos aos meus favoritos, dentre os que já ouvi falar.
Vou começar pelo meu santo jovem favorito: Pier Giorgio Frassati, italiano. Li sua biografia no livro escrito pela irmã dele, Luciana Frassati: “A Man of the Beatitudes”. Escutei sobre ele na época que eu estava pesquisando sobre os santos dominicanos em 2016. Ele foi membro da Ordem Terceira dos Pregadores. Gostava muito de esportes, principalmente de alpinismo.
Frassati morreu com apenas 24 anos, mas fez muito em sua curta vida. Participou ativamente de muitos grupos católicos, comungava todos os dias, nasceu em família rica, mas fazia muitas doações aos pobres. Toda sexta-feira ele ia visitar os pobres e cuidava dos doentes. Foi assim que contraiu poliomielite, doença que o matou. Cursou engenharia de minas para poder ajudar os pobres que trabalhavam nas minas. Posicionou-se ativamente contra o fascismo.
Há um filme sobre ele, que eu vi e gostei muito. É bem inspirador.
Chiara Corbella, outra italiana, casou-se em 2008 com Enrico Petrillo. Os dois costumavam participar de Jornadas Mundiais da Juventude e comunhão frequente na paróquia. Em sua primeira gravidez, Chiara descobriu pelas ultrassonografias que sua filha Maria nasceria com anencefalia. Mesmo assim, decidiu seguir com a gravidez. A filha morreu após 30 minutos de nascimento.
Depois de alguns meses, Chiara engravidou de novo. A ultrassonografia mostrou que o menino não tinha pernas. O casal resolveu seguir com a gravidez. Outra ultrassonografia mostrou outras malformações incompatíveis com a vida. Chiara levou a gravidez até o fim. Davide morreu alguns minutos após nascer.
Na gravidez do terceiro filho, Francesco, as ultrassonografias mostraram que o filho estava saudável. Porém, no quinto mês Chiara descobriu que estava com uma lesão na língua. Após a primeira cirurgia, foi diagnosticada com um carcinoma. Ela adiou o tratamento para preservar a saúde do bebê. Quando ele nasceu, iniciou o tratamento, mas a doença já tinha avançado bastante. Chiara morreu em 2012, aos 28 anos.
Há um livro sobre ela. Chiara está em processo de canonização. Sua história tem certas semelhanças com a de Gianna Beretta Molla, médica italiana canonizada há algumas décadas.
Há outra Chiara que foi canonizada recentemente: Chiara Luce Baldano, que morreu de câncer em 1990, aos 20 anos.
Carlo Acutis nasceu em Londres, cresceu em Milão e morreu com apenas 15 anos de uma leucemia fulminante. Participava da missa diária e da Adoração do Santíssimo Sacramento, também recitando diariamente o rosário e realizando a lectio divina.
Costumava fazer trabalhos voluntários com crianças e idosos. Entre seus interesses estavam programação de computadores, montagem de filmes e criação de websites (inclusive sites sobre catolicismo) e revistas em quadrinhos.
No leito de morte, desejou que seus sofrimentos fossem oferecidos a Deus, a Igreja e ao papa. Também está em processo de canonização.
Acho que é esperado que surjam muitos santos italianos e que eles se tornem mais populares (já que a causa de canonização deles costuma ser mais rápida, pois o Vaticano está logo ao lado). Mesmo assim, surgiram santos em muitos países nas últimas décadas, como é o caso da brasileira Isabel Cristina Mrad Campos, leiga católica, que namorava, estudava e participava de movimentos da Igreja e morreu aos 20 anos. Tinha intenção de ser pediatra para cuidar de crianças carentes.
Surgem santos nas mais variadas religiões, é claro, não somente na católica. Os próprios católicos homenageiam grandes nomes de outras religiões. Porém, os santos que se destacam na Igreja Católica, como foi possível ver através dessas breves biografias, são os mais ativos na Igreja (que participam das missas, movimentos, etc) e que se dedicam a obras de misericórdia corporais e espirituais. Não necessariamente as circunstâncias da morte deles precisa ser singular para haver canonização, mas algum aspecto particular de suas vidas, que demonstre grande caridade e fé.
Com essas biografias quis mostrar que os santos da Igreja Católica não são apenas relíquias do passado. Há pessoas que já foram canonizadas no século XXI e que estão em processo de canonização (declarados como “Servos de Deus”). Eles são pessoas comuns, como eu e você. Todos somos chamados à santidade e podemos ser santos.
Disse Jesus:
“Sede santos, assim como vosso Pai celeste é santo”
(Mateus 5,48)
Uma curiosidade: eis os quatro passos do processo de canonização:
1- Servo de Deus: título que a Igreja Católica dá a uma pessoa no processo de canonização.
2- Venerável: título recebido pelo destaque em viver virtudes cristãs de maneira fiel e profunda ou pela honra do martírio.
3- Beato: é comprovado um milagre pela intercessão do Venerável.
4- Santo: segundo milagre, após a beatificação.
E uma pessoa precisa de uma canonização do Vaticano para ser santo? Na verdade, há muitos santos que morrem desconhecidos e nunca chegam a ser canonizados. Afinal, outra marca de santidade é desejar ser um santo não para ser reconhecido pelos homens, mas por Deus.
Mesmo assim, o processo de canonização da Igreja é muito importante. Até para termos modelos para seguir, grandes inspirações. Num mundo em que nós olhamos tanto para as coisas ruins que as pessoas fazem, numa perspectiva pessimista da existência, é maravilhoso deparar-se com o outro lado: saber que tantas pessoas fazem atos grandes e pequenos em nome do que acreditam: por Deus e por amor.
