Religião: o bem ou o mal do mundo?
Existem pessoas, principalmente alguns ateístas, que defendem que o mundo seria melhor se a religião não existisse. Eles citam coisas como a Inquisição, as Cruzadas, terrorismo e muitas formas de preconceito, violência e intolerância com base religiosa.
Há outras pessoas, incluindo ateístas, agnósticos ou mesmo pessoas religiosas, que acham que o problema são religiões específicas. Uma dessas categorias de pessoas defende que as religiões problemáticas são principalmente o cristianismo e o islamismo (e às vezes o judaísmo). Outra categoria pode apontar alguma religião específica ou um grupo delas (só o judaísmo, só o hinduísmo, só a umbanda, etc).
Eu citaria também outra categoria que critica as “religiões organizadas” como inerentemente problemáticas e defende que cada um desenvolva sua espiritualidade de forma independente, sem regras ou dogmas.
Muita gente pode ter boas razões para defender um ou outro desses pontos de vista, incluindo experiências de vida ruins com certas religiões ou com muitas delas.
E o que eu penso a respeito?
Posso entender um pouco esses pensamentos, pois eu mesma já tive alguns deles em diferentes momentos da minha vida.
Quando eu tinha 13 anos e era wiccana, meu “inimigo” eram os cristãos. Afinal, eu aprendi nas aulas de história do colégio que os cristãos queimavam bruxas. Aprendi que os missionários jesuítas convertiam os índios à força e também ouvi sobre as Cruzadas. Então é claro que lendo os livros de história retratando os cristãos e a Idade Média dessa forma negativa, eu tinha certeza que eles eram o “mal” a ser combatido.
Somente uns quinze anos mais tarde eu teria a oportunidade de ler livros de história escritos por autores cristãos. Nesse momento eu teria contato com uma nova visão da mesma história. Eu indico, particularmente, livros de autores como Christopher Dawson e Étienne Gilson. Muitas outras dezenas de autores de peso poderiam ser citados aqui. O fato é que, dependendo do autor, você obtém uma visão da mesma história completamente diferente.
Eu não irei detalhar a respeito do que dizem os autores cristãos sobre os jesuítas, a Inquisição e as Cruzadas, pois senão eu fugiria do assunto desse post. Eu já falei disso em mais detalhes em outros lugares, então eu irei resumir aqui.
Sendo bem direta, sim, nem todos os jesuítas foram santos. E, sim, a Inquisição e as Cruzadas foram realidades. Da mesma forma que existem bons e maus cristãos. O cristianismo produziu figuras sombrias, como Torquemada e Savonarola, mas também produziu São Francisco de Assis e Santo Antônio.
Quando você fala de algum assunto e quer defender um ponto de vista, é muito fácil citar apenas as ocorrências ou os personagens que corroboram a sua visão de mundo. Então se você escuta alguém criticando o cristianismo citando apenas Torquemada e a Inquisição repetidamente, como se fosse uma criança, fica a sensação de que aquela pessoa jamais leu um livro sobre história do cristianismo na vida, e a única coisa que ela fez para aprender cristianismo foi jogar Assassin’s Creed (não sou contra o uso de jogos para aprender coisas. Mas para falar mais a fundo sobre certos assuntos às vezes é preciso uma pesquisa mais aprofundada).
Por outro lado, eu também não sou a favor de alguns cristãos que tentam embelezar ou minimizar algumas partes mais pesadas da história do cristianismo, como se todos os cristãos que já existiram fossem santos. Alguns jesuítas fizeram coisas boas, como fundar escolas, hospitais e escrever gramáticas de tupi-guarani aqui no Brasil. Alguns jesuítas eram tolerantes, apresentavam a religião cristã para os nativos sem forçá-los a se tornarem cristãos e se interessavam genuinamente pelos costumes locais, aprendendo eles mesmos o idioma nativo. Mas também existiram jesuítas intolerantes e violentos. Inclusive, muitos jesuítas eram enviados para outros países quando recém tinham se tornado padres, alguns estavam no final da adolescência, e pode-se imaginar que eles eram seres humanos com os mais variados temperamentos. Você não pode julgar a atitude de todos os jesuítas com base nas ações de apenas alguns. A mesma coisa a respeito de cristãos, muçulmanos, ateístas, ou pessoas de qualquer crença.
Alguns cristãos apresentam a Inquisição e as Cruzadas devidamente dentro do contexto histórico da época, pois é muito fácil julgá-las com base nos padrões de hoje, pois naquela época a violência era muito mais comum em pessoas de diferentes crenças do que é hoje. Tortura e guerras eram muito mais difundidas. Não havia uma Declaração Universal de Direitos Humanos, que só viria a surgir no século XX.
Mesmo assim, eu não concordo com cristãos que tentam “justificar” a existência da Inquisição e das Cruzadas. Uma coisa é reconhecer o contexto histórico em que elas ocorreram e compreender que as pessoas da época não eram simplesmente um bando de malucos, e que havia muitas razões políticas, econômicas, de costumes e de outras naturezas envolvidas, não somente religiosas. Outra coisa é usar esse argumento para ignorar ou minimizar o impacto que tudo isso teve na história do cristianismo.
Muito mais difícil é aceitar que, ainda nos dias de hoje, exista tanto preconceito e violência contra gays, mulheres e negros em instituições religiosas e que se use a religião como justificativa.
O cristianismo já abriu muitos caminhos para as mulheres no passado, permitindo, por exemplo, que as mulheres pudessem ser monjas e viver uma vida monástica numa época em que a única alternativa para elas era casar e ter filhos. Mas nos dias de hoje, em que as mulheres têm muito mais opções de carreira, é surpreendente que religiões como cristianismo, islamismo, hinduísmo e budismo, por exemplo, tenham tantas restrições para as mulheres. Falo mais sobre isso aqui.
Já houve épocas em que o cristianismo abriu portas para os negros, mas em outras épocas fechou tantas portas a ponto de alguns negros, como Malcolm X, acharem mais liberdade no islamismo do que no cristianismo. A posição do cristianismo sempre foi um pouco ambígua quanto a isso. Em algumas épocas o cristianismo foi usado para defender a escravidão e em outras para defender a libertação de escravos. Em algumas épocas os cristãos faziam escolas exclusivas para brancos e em outras se esforçavam para abrir escolas para negros e dar oportunidades para eles. Enfim, tudo isso é bastante suspeito, para dizer o mínimo (e nem tudo se explica “pelo contexto da época”). Isso também se explica pelo fato de que cristãos sempre foram seres humanos e que, nas diferentes épocas, sempre houve cristãos que defendiam os negros enquanto outros os atacavam e isso continua assim até hoje. Como eu costumo dizer, Martin Luther King foi um pastor batista e Nelson Mandela era cristão.
A posição de religiões como cristianismo e islamismo (e algumas outras) em relação à população LGBT continua a mais lamentável. Existe um número significativo de cristãos que defendem os gays (já houve casamentos gays na Igreja Anglicana, por exemplo), mas perto do grande número de cristãos que ou não se pronunciam sobre essa questão ou que se colocam contra gays, eu diria que seria totalmente compreensível para um gay escolher ser ateu ou ter outra religião. Eu admiro profundamente gays que ainda optam por ser cristãos apesar de tudo e tentam produzir mudanças a partir de dentro. É claro que a paciência tem limites e ninguém se sente bem em ser parte de um grupo quando você vê que não é bem-vindo.
No Brasil, não é muita gente que tem uma opinião consistente em relação ao islamismo, já que há relativamente poucos muçulmanos no nosso país. Alguns brasileiros associam islamismo a terrorismo, outros não se importam e acham que cristianismo é uma “ameaça maior ao mundo” do que o islamismo.
Se considerarmos o mundo todo, eu diria que há ainda mais preconceito em relação a muçulmanos do que a cristãos. O cristianismo é tido como a religião que sofre mais perseguição no mundo (principalmente em países muçulmanos), mas isso também pode ser devido ao fato de que ainda, por enquanto, há mais cristãos do que muçulmanos. Porém, pelo que eu saiba, os muçulmanos estão entre aqueles com maior número de refugiados no mundo, o que também é bastante grave.
Sem dúvida, não são somente os cristãos e os muçulmanos que sofrem preconceitos, violência e são perseguidos. Judeus, hindus, budistas, religiões animistas ou praticamente qualquer religião que exista sofrem preconceitos (inclusive ateus). Aqui no Brasil temos, por exemplo, religiões afro-brasileiras, religiões indígenas e muitas outras que são vítimas de ataques.
Quando ouvimos falar de cristãos, é muito comum os associarmos com a imagem de pastores que querem roubar dinheiro dos fiéis, ou de cristãos ricos ou políticos que usam o cristianismo como justificativa para defender leis para atacar gays ou para proibir o aborto em qualquer situação.
O que devemos levar em consideração é que a maior parte dos cristãos do mundo são pobres. Alguns são muito pobres, miseráveis. Então ter a imagem de um cristão como um rico preconceituoso que rouba dinheiro e mente está muito longe da verdade para definir o “cristão padrão”.
O mesmo vale para os muçulmanos. Às vezes imaginamos muçulmanos como bilionários do petróleo ou ricos líderes terroristas, mas isso é uma minoria! A maior parte dos muçulmanos são muito pobres e não apoiam o terrorismo.
Então como definiríamos o cristão ou o muçulmano “médio”? São famílias às vezes numerosas, frequentemente de países pobres, que moram na cidade ou no campo, que frequentam regularmente uma igreja ou mesquita, que realizam trabalhos honestos quando eles estão disponíveis e que, com o pouco dinheiro que têm, às vezes fazem doações de caridade, já que a caridade é um dos cinco pilares do Islã (Zakat) e também um costume cristão principalmente em comunidades pequenas mais tradicionais.
É claro que não podemos ser ingênuos e retratar todos os cristãos e muçulmanos pobres como bons e honestos. Mas retratá-los como terroristas, preconceituosos e violentos estaria ainda mais longe da verdade!
O problema do preconceito religioso é quando criamos uma caricatura do “inimigo”. Frequentemente precisamos de um bode expiatório em quem colocar a culpa de todos os males que ocorrem no mundo. A religião é um bom bode expiatório, principalmente a religião do “outro”, do “diferente”. Então num país tradicionalmente cristão, como os Estados Unidos, o inimigo pode ser o “muçulmano”. Em algum país tradicionalmente muçulmano do Oriente Médio, pode ser o “cristão” ou alguma outra religião.
Mas é horrível condenar um grupo inteiro de pessoas com base em sua religião. Em 2020, estima-se que 2,3 bilhões de pessoas são cristãs (29% da população mundial) e que 1,9 bilhões são muçulmanas (24%). Isso significa que mais da metade da população mundial é preconceituosa, intolerante e violenta?
Por outro lado, 1,1 bilhões (14%) da população mundial declara-se hoje como ateísta, agnóstica ou não religiosa. Seria igualmente absurdo afirmar que essa quantidade imensa de pessoas são piores por não terem uma religião.
Eu já passei por diferentes épocas na minha vida. Houve tempos em que já pensei que era mesmo melhor apenas cada um desenvolver sua espiritualidade em vez de seguir uma religião específica. E já cheguei a questionar se as religiões não podiam ser mesmo uma fonte de preconceitos e incitavam violência.
Você poderia, é claro, pesquisar em estudos científicos, comparar estatísticas, entrevistas, dados diversos, etc, e concluir se pessoas que seguem uma religião tendem mesmo a ser mais preconceituosas ou violentas. Porém, eu desconfio muito desse tipo de estudo como “fonte decisiva de informação” e irei explicar o motivo (isso pode ser feito contanto que sejam mencionadas as limitações do estudo, é claro).
Há fatores diversos que poderiam interferir. Por exemplo, pessoas que seguem uma religião tendem a ser mais pobres. Ateístas tendem a ser mais ricos. O ateísta geralmente teve mais oportunidade de ter uma educação, talvez more num país mais rico, muito provavelmente sabe ao menos ler e escrever (digamos, para ter lido os filósofos que o convenceram a se tornar ateu, já que dificilmente distribuem esse tipo de livro em povoados de cidades remotas). Isso significa que ateístas são mais inteligentes, então o ateísmo é uma escolha de pessoas inteligentes?
Essa seria uma interpretação totalmente errada. Na verdade, em geral, cristãos (católicos, ortodoxos ou protestantes) e muçulmanos tendem a realizar mais atividades missionárias do que ateus, seja para pregar sua religião ou realizar atos de caridade (geralmente ambos). Como eu já disse em outros lugares, já vi uma estatística de que cerca de 60% dos hospitais e escolas em países africanos são cristãos. É muito comum que essas sejam instituições gratuitas ou de baixo preço. Infelizmente, devido ao declínio do cristianismo em algumas partes do mundo, algumas dessas instituições estão sendo privatizadas. Atualmente muita gente menciona a falta de hospitais e leitos, então imagino que o coronavírus seria uma tragédia de proporções muito maiores hoje, se não fosse o esforço incansável de muitos religiosos (principalmente missionários) de fundarem hospitais em diferentes países nos últimos séculos, inclusive aqui no Brasil. Eles não estão apenas esperando que o governo faça algo, eles mesmos fizeram.
Se você mora num país pobre e o único hospital da sua cidade é gerenciado por padres e freiras, ou você fica sabendo que há doação de pão para todos na igreja toda semana em homenagem a Santo Antônio (ou na mesquita local, ou no templo hindu local, o que é algo comum em vários países), o seu interesse inicial pode ser apenas comer ou ter atendimento médico, mas talvez você comece a frequentar as missas e acabe adotando a religião. Até porque, ser parte de uma religião que organize tantas doações é um grande estímulo. Você sente orgulho de ser afiliado a um grupo que gera bens palpáveis para o mundo, especialmente para os mais pobres. Você sente que está ajudando com sua presença e sua doação, você se sente útil.
Hoje em dia há cada vez mais organizações de caridade que não são afiliadas a uma religião específica. No entanto, a maior parte ainda é. Esse é um poderoso argumento a favor das religiões. Há algo nas religiões (na maior parte delas) que tende a impelir as pessoas a distribuir comida para os pobres e cuidar dos doentes (ou cuidar dos animais, como São Francisco de Assis, São Martinho de Porres e muitos outros santos), seja porque a caridade costuma ser uma das regras religiosas explícitas ou porque as pessoas se sentem mais impelidas a isso para servir a Deus.
Se você for um ateísta, talvez você sinta mais inclinação a fazer doações para contribuir com pesquisas científicas, por exemplo, o que também é algo muito bom. Talvez você sinta mais vontade de se envolver com coisas como política e ciência em vez de se envolver diretamente com uma “mera esmola”, o que talvez torne essa contribuição não diretamente mensurável por uma pesquisa que tentasse medir se religiosos ou ateus são mais caridosos. A pesquisa provavelmente diria que religiosos fazem mais atos de caridade, mas as contribuições dos ateus também são muitas. Elas talvez não fossem diretamente mensuráveis numa pesquisa como essa (os muçulmanos, por exemplo, costumam ser mais politicamente engajados do que os cristãos devido a razões históricas e religiosas: Maomé era mais “político” do que Jesus).
É compreensível a preocupação dos ateus em investir na ciência quando há pessoas religiosas, principalmente nos Estados Unidos, que dizem “não acreditar na evolução”, o que é um fenômeno bastante bizarro.
Depois de tudo isso, vamos tentar responder a pergunta inicial: a religião é um bem ou um mal? O mundo estaria melhor ou pior sem religião?
Eu diria que é muito difícil mensurar algo assim. A religião (é até difícil falar no singular, pois cada religião é diferente) trouxe coisas boas para o mundo, mas também coisas ruins. É, a ciência trouxe a penicilina, mas também a bomba atômica (os ateus odeiam essa comparação, haha).
Orar, perdoar, amar o inimigo, fazer doações e atos de caridade, essas são coisas enfatizadas pela religião e que efetivamente vemos muita gente fazer por razões religiosas. Paradoxalmente, também vemos pessoas odiando, tendo preconceitos e realizando atos de violência em nome da religião.
Como eu já disse antes, o número de pessoas muito pobres e simples que são religiosas é enorme. Muitas dessas pessoas não estão preocupadas em se envolver com terrorismo ou questões políticas e precisam se focar principalmente em sobreviver, especialmente nos locais mais remotos do globo. Eu tendo a acreditar que para essas pessoas a religião pode ser uma força principalmente positiva.
O argumento de alguns ateístas é que os religiosos estão enganando e alienando essas pessoas, que católicos estão se colocando contra o uso de preservativos em comunidades pobres e pregando abstinência sexual em vez disso, sendo responsáveis que se espalhem doenças como HIV e hepatite.
Eu não concordo com essa conduta dos católicos e sou a favor do uso de preservativos. Porém, eu pergunto: enquanto alguns católicos estão atuando de graça em hospitais e distribuindo comida sem custo em lugares perigosos do mundo, onde estão esses ateístas que criticam? Espero que estejam atuando em alguma organização de caridade ou ao menos doando para uma. Nem todas as condutas que a Madre Teresa realizou são dignas de elogio, mas é difícil encontrar um grande número de “ateístas de poltrona” que tenham realizado metade do que ela fez.
Em geral, grupos religiosos tentam fazer alguma coisa pelos pobres e miseráveis aqui e agora. É verdade que eles nem sempre fazem isso da melhor maneira (alguns religiosos atuando em hospitais em regiões remotas às vezes não têm nem um certificado de auxiliar de enfermagem). Mas quando a única opção de uma pessoa é morrer no meio do nada ou morrer segurando a mão de alguém, eles pelo menos fazem algo.
Muitos usam o seguinte discurso: “Não é com caridade e de qualquer jeito que se resolve as coisas, mas com mudanças políticas e com investimento na educação, nas universidades e na ciência”. Tudo bem, mas nós não vivemos num mundo perfeito e por isso mudanças políticas e investimento em educação e ciência devem ser realizadas juntamente com atos voluntários de caridade. Simplesmente porque essas outras mudanças geralmente levam mais tempo e não chegam a todos imediatamente. Então entre fazer as coisas de forma imperfeita e não fazer seria preferível não fazer?
Acredito que Christopher Hitchens, um célebre ateísta, acusou Madre Teresa em seus escritos principalmente disso. Ele estava certo em algumas de suas críticas, mas a resposta padrão a dar diante de uma crítica dessas costuma ser dizer: “E você? O que está fazendo pelos pobres?”.
Eu não acho que ateus são menos caridosos do que religiosos. Não acho, de forma alguma, que religiosos sejam mais “bondosos” do que não religiosos.
Eu acho que as pessoas devem ter o direito de seguir a religião que quiserem. Elas também devem ter o direito que não seguir nenhuma religião, se preferirem.
Meu argumento aqui não é para provar que ter uma religião é melhor do que não ter, mas sim mostrar que ser ateu não é melhor tampouco. Ter uma religião ou não ter, não é isso que define se uma pessoa é boa ou não.
Mostrar o quanto cristãos, muçulmanos, hindus e budistas realizam atos de caridade em nome de sua religião não serve para mostrar que é melhor ter uma religião. Serve para mostrar que não é pior ter. É para lembrar que religiões também trouxeram (e trazem até hoje) muitas coisas boas para o mundo, não só coisas ruins. E aqui falei principalmente das questões materiais. Religiões também trouxeram muita esperança em relação a questões espirituais, para lidarmos melhor com a questão do sofrimento e da morte. Você pode conseguir lidar com isso de outro jeito, mas é fato que milhões (bilhões agora) de pessoas encontram conforto e respostas na religião.
Respondendo a pergunta do título: a religião é o bem ou o mal do mundo? Eu diria que nenhum dos dois. De minha parte, eu sou grata que as religiões existam. Minha opinião é que as religiões trouxeram mais coisas boas do que ruins, embora eu não negue as partes ruins. Quanto a essa questão, posso dar apenas a minha opinião já que, como mencionei previamente, realizar estudos científicos em relação a esse assunto é difícil. Isso não significa que não devemos tentar. Estudos sobre religião podem nos ajudar a entender sobre várias questões.
Para mim, particularmente, o maior bem que a religião me trouxe é a oportunidade de me conectar melhor comigo mesma, com as pessoas ao meu redor e com o divino. É poder me conectar com pessoas doentes e perto da morte, falar de Deus, dar e receber esperança.
Quando temos uma religião frequentemente nos sentimos frustrados e irritados com os preconceitos e violência que a religião gerou e ainda gera. Não tenho dúvida disso. Ainda assim, quando eu vejo o quanto a religião dá esperança de verdade (e não apenas algo ilusório) para tanta gente pobre, doente e até na morte, eu prefiro ser otimista: apesar de tudo, a religião ainda vale a pena.