Paraíso na Terra: capítulo 1

Wanju Duli
5 min readOct 25, 2021

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Esse é o pdf do primeiro capítulo da minha nova história.

Faz muito tempo que eu tinha vontade de escrever uma história de ficção baseada em islamismo e/ou organizações terroristas. No entanto, eu não acho que li livros suficientes sobre islamismo e nem sobre essas organizações para fazer esse trabalho da forma que eu desejava.

Portanto, optei por um meio termo. Resolvi escrever uma história obviamente baseada nisso tudo, mas sem nunca mencionar o nome da religião ou do livro sagrado. É sobre uma organização fictícia. Assim, eu teria a liberdade de acrescentar outros elementos inventados conforme minha vontade.

Não é nenhum segredo o assunto de que falo. Fiz questão de deixar bem evidente. Mas, em respeito ao islamismo e a outros temas delicados, o fato de eu não mencionar o nome da religião é meramente simbólico. Eu uso muitos outros termos livremente, assim como nomes árabes.

A história se passa num país fictício em que há uma organização jihadista fictícia. Não deixo claro se os personagens falam árabe ou outro idioma e onde esse país se localiza. Pode ser em qualquer parte da África ou Oriente Médio. A população é majoritariamente negra.

Inicialmente, parece que os objetivos dessa organização são resolver questões internas do país em vez de se expandir para outros locais. Embora se mencione a luta contra o imperialismo ocidental, o foco é nacional. Ainda nem mencionei a palavra “califado”, o que pretendo fazer a partir do segundo capítulo.

O protagonista é um homem de 37 anos (42 anos no fim do primeiro capítulo). Ele foi casado e teve dois filhos. Ele tem muita devoção religiosa e faz parte de um grupo jihadista chamado Al Firdaus.

Eu já li alguns livros e vi documentários sobre o Estado Islâmico, Al-Qaeda, Talibã, Hamas e outros grupos. Eu não quis mencionar nenhum grupo específico. Tirei ideias de coisas que já li que acontecem em alguns desses grupos e misturei para criar a Al Firdaus. É claro que cada um desses grupos é diferente, com objetivos diversos.

Houve uma época em que li vários livros sobre islamismo. Estou lendo um no momento e pretendo ler mais no futuro. A religião do meu livro é bem parecida com o islamismo sunita, mas com algumas pequenas alterações. Enquanto algumas diferenças foram propositais, outras podem ocorrer de forma não intencional, por desconhecimento meu.

Cristianismo e islamismo são, de longe, minhas duas religiões preferidas. Eu acho fascinante que mais da metade da população mundial se identifique como parte de uma das duas. Essa é a principal razão do meu interesse nelas. Por isso eu gosto tanto de ler a respeito, ou mesmo experimentá-las (no caso do islamismo, por exemplo, já participei do Ramadã algumas vezes mesmo sem ser muçulmana).

Nós vivemos num mundo que experimenta tanto as vantagens como as desvantagens do capitalismo. Diante da questão da pobreza, diferentes pessoas e grupos propõem meios para melhorar essa situação. O socialismo em sua origem, da forma que surgiu na Europa, era predominantemente ateísta. No entanto, vários países da África e do Oriente Médio se apropriaram de ideias socialistas europeias e as misturaram com islamismo. Isso ocorreu no passado e ainda ocorre no presente.

Enquanto isso, há grupos islâmicos que misturam sua religião não com socialismo, mas com capitalismo (fazendo largo uso das mídias digitais e redes sociais para propagar sua mensagem), ou com um sistema de monarquia (califado). No meu livro pretendo abordar principalmente esse último.

Nós vivemos num mundo complexo. Há pessoas e grupos fazendo coisas boas. Há pobreza e violência. Às vezes, há pessoas com boas intenções, mas com atos questionáveis. E há outras que escondem suas intenções violentas sob rótulos que podem soar aceitáveis para alguns (usando termos como “socialismo” ou “islamismo”), mas distorcendo-os intencionalmente para uma realidade completamente diferente. O uso dos rótulos tem como objetivo principal ganhar apoio financeiro de grupos e países que se identificam com eles. Um exemplo evidente é Bashar al-Assad, ditador da Síria que faz parte de um partido chamado “Partido Árabe Socialista Baath” e recebe o apoio da Rússia, por razões óbvias.

Nós temos a tendência de simplificar questões complexas. Há quem diga que religião é sempre ruim, que é o mal do mundo, que causa guerras. Ou que o islamismo é particularmente ruim, que é intolerante. Ou cristianismo. Também há quem diga que socialismo é o mal do mundo, ou que é a salvação do mundo.

Mas o que é islamismo? O que é socialismo? Na origem, eles eram uma coisa. Mas o islamismo mudou muito desde a época de Maomé. Assim como o socialismo virou várias coisas diferentes desde a época de Marx. O islamismo do Estado Islâmico é fiel em relação aos princípios do islamismo? O socialismo do ditador da Síria é socialismo? O socialismo de Kafadi na Líbia era socialismo? Existe um islamismo ou um socialismo puro e certo, enquanto os outros são falsos e devem ser combatidos?

Eu não tenho, nem de longe, a intenção de abordar todos esses assuntos na minha história. Mas a escrita desse livro foi motivada por algumas dessas questões.

A ideia é mostrar personagens complexos, em vez da velha história do mocinho e do bandido, dos bons lutando contra os maus. A velha máxima “não há heróis” é apropriada. Ou outra frase da história: “ninguém é inocente”.

Em “Paraíso na Terra” vamos acompanhar a história de um homem de meia-idade que está em conflito consigo mesmo e em busca de sentido. Ele quer fazer algo por Deus e pelo mundo. Ele acha que fazer coisas pequenas para ajudar os outros não transforma o mundo de verdade. Então ele busca algo mais radical, mesmo que suje as mãos. Ele está disposto a sujar sua alma em busca da salvação do mundo. Como aquela expressão que eu já li no budismo: “eu aceito ir para o inferno para salvar todos os seres”. Mas será que ele irá mesmo ajudar o mundo através de seus atos? Existe uma solução simples, um passe de mágica, que irá tornar o mundo muito melhor, do dia para a noite?

No primeiro capítulo temos uma introdução de alguns personagens. Ainda há muito a ser explicado. Pretendo começar a escrever o segundo capítulo hoje, mas não há previsão de data para lançar. Não sei ainda quantos capítulos essa história terá. Como eu costumo dizer, quando eu sentir que a história chegou à sua conclusão, ela acabará.

Obrigada a todos que acompanham meus escritos! Escrever para mim é uma forma de entender minhas próprias ideias. Eu não escrevo para tentar doutrinar alguém a aceitar minha forma de pensar e sim para refletirmos juntos. Até porque eu não tenho todas as respostas. Eu estou sempre questionando e aprendendo a viver num mundo meio confuso e cheio de ambiguidades, mas que não consigo deixar de amar.

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Wanju Duli
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