O que os médicos não contam, por Matt McCarthy

Wanju Duli
3 min readJul 12, 2021

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Terminei de ler! Aprendi muito!

É um livro realmente maravilhoso! O autor se formou em medicina em Harvard e conta como foi seu primeiro ano como interno numa UTI cardíaca ligada à Universidade de Columbia.

Antes de tudo, ele faz uma confissão: os anos de faculdade o prepararam muito pouco para a vivência real da profissão. Isso porque, segundo ele, a faculdade foca demais em disciplinas teóricas sem relação direta com a prática.

Eu não poderia concordar mais. Isso é verdadeiro para vários cursos da área da saúde (e certamente de outras áreas do conhecimento). Eu também li essa crítica no livro “Ultra-aprendizado” de Scott Young. Segundo o autor, os cursos de faculdade preparam pouco os alunos para o mercado de trabalho. Os cursos são longos demais e fazem o aluno perder tempo em disciplinas pouco relevantes para a prática efetiva da profissão. O autor, por exemplo, fez o curso de ciência da computação do MIT em apenas um ano e meio.

No livro “O que os médicos não contam”, Matt McCarthy até menciona que alguns especialistas estão tentando diminuir a duração da faculdade de medicina, pois, segundo eles, muitas mentes geniais optam por não fazer o curso para não se endividar, devido aos preços absurdos das faculdades dos Estados Unidos.

McCarthy conta todas as dificuldades e inseguranças que enfrentou como interno. Logo no começo do internato, ele se picou acidentalmente com uma agulha infectada com HIV e teve que tomar medicamentos antirretrovirais por mais de um mês, enfrentando rotinas de vômitos e diarreia.

No ano passado eu fiz o teste rápido em uma médica que se picou acidentalmente com uma agulha infectada com HIV e que também teria que passar pela PEP (Profilaxia Pós-exposição ao HIV).

O autor também conta como se sentiu miserável com tantos preceptores no hospital duvidando dele, dando sermões ridículos e o fazendo passar por extrema pressão. Um médico disse a ele: “Você se formou em Harvard? Ah, então só sabe teoria. Não sabe lidar com pacientes”. Uns anos atrás eu li que Harvard ia começar a levar os estudantes para o hospital desde o primeiro semestre do curso em vez de esperar vários semestres, para suprir essa lacuna.

Nassim Taleb é outro autor que eu gosto (já li todos os livros dele) que critica esse foco na teoria em muitas áreas do conhecimento. Ele escreve: “Qual cirurgião eu prefiro que me opere? Um que se formou numa das universidades mais conceituadas, usa jaleco branco impecável e tem vários quadros com títulos na parede? Ou um cirurgião de aspecto rústico que parece um açougueiro, com muita prática e sangue nas mãos? Eu preferia o açougueiro” ele diz, sem pestanejar.

McCarthy conta sobre os plantões absurdos de 30 horas seguidas e como ele frequentemente adormecia no meio de uma frase pela falta de sono crônica. Eu já li num livro que quem inventou os plantões com longa duração da medicina foi um médico da John Hopkins que se drogava com heroína e por isso conseguia ficar acordado por tanto tempo.

O autor também conta como ele e tantas pessoas que conheceu vivenciam a síndrome do impostor: o sentimento de que nunca são bons o bastante. E as críticas destrutivas ferozes dadas por alguns professores e preceptores só fazem aumentar essa sensação. No livro “Rápido e Devagar” de Daniel Kahneman (vencedor do Prêmio Nobel) o autor mostra como elogios motivam as pessoas muito mais do que as críticas, nas mais variadas situações. Infelizmente muitos professores de faculdade nunca leram esse livro.

Enfim, foi um ótimo livro. Aprendi bastante sobre diagnósticos, emergência e muitas outras coisas, incluindo várias cenas em que o autor teve que lidar com a morte de muitos pacientes.

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