O Exorcista, por William Peter Blatty

Wanju Duli
13 min readDec 4, 2019

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Sabe aqueles momentos da vida em que você sente que vale a pena estar vivo? Aqueles instantes em que você grita, do fundo da alma: “puta que o pariu, valeu a pena aguentar toda a dor de estar vivo só por esse dia!”. Eu já senti isso um punhado de vezes até hoje. E especificamente hoje foi um desses dias. Por quê?

Porque eu terminei de ler “O Exorcista” de William Peter Blatty. E agora você me diz: “Tá de brincadeira, você tá exagerando!”. E eu respondo: “Não, meu. Eu já senti isso com outros livros antes e sei do que estou falando. Quando, por exemplo, terminei de ler ‘O Jogo das Contas de Vidro’ de Hermann Hesse, com os olhos banhados de lágrimas’”. Eu poderia citar outros, mas vamos prosseguir.

Não sou só eu. Em resenhas do livro que li meio por cima, por aí, tem muita gente pagando pau. Eles dizem coisas como “Genial”, “Não consegui parar de ler”, “Mil vezes melhor que o filme” e outras coisas que te fazem pensar: “Mas que diabos tem nesse livro? Eu vi o filme e nem achei tudo isso”.

Quem é William Peter Blatty, afinal? Basicamente, ele é um nerd do catolicismo. Estudou em escola jesuíta e era um católico defensor de muitas doutrinas. Ainda não sei muito sobre ele porque ainda não procurei, mas só de ler o livro já dá pra ver que ele sabe do que está falando.

Referência a John Henry Newman. Referência a Demian de Molokai no nome de um dos personagens principais (também sou fã desse santo!). Deu pra sentir que ele não apenas fez pesquisas sobre catolicismo especificamente para o livro. Ele trata de alguns aspectos da doutrina católica bem a fundo, de uma forma bem particular.

Confesso que comecei a ler o livro sem grandes expectativas e comprei o livro porque estava em promoção e eu tinha um pouco de curiosidade. Afinal, o filme marcou minha infância.

Esse trecho aparece logo antes de o livro começar. Lembro que eu li uma vez que entrevistaram um padre e perguntaram se ele já tinha visto o demônio e onde. O padre só respondeu uma palavra: “Auschwitz” e o entrevistador calou a boca no mesmo instante.

Nós não sentimos, lá no fundo, que alguns feitos humanos são tão horríveis que nos fazem sentir um frio de morte por dentro? A impressão que temos é que aquilo parece terrível demais para ter vindo meramente de um ser humano.

Eu tinha de 11 para 12 anos quando vi o filme pela primeira vez (mesma idade da personagem). Dos 9 aos 11 anos eu estudei num colégio em que havia muitas leituras obrigatórias de livros sofisticados. Tínhamos que ler pelo menos um livro por semana e fazer a resenha de cada um deles. E informalmente eu e minhas colegas tínhamos nossos livros preferidos, que nem sempre eram livros para nossa idade.

No ano anterior algumas colegas minhas estavam lendo “O Mundo de Sofia” e eu também comecei a ler para ficar na moda e estar por dentro dos assuntos. No ano seguinte houve outras modas e uma delas foi jogar o jogo do copo e ver filmes de terror.

Eu e outras quatro colegas minhas nos reunimos na casa da Paula, que havia ganhado o prêmio do concurso da nossa classe de melhor livro no ano anterior. Sim, outra tarefa de nosso colégio era escrever um livro de literatura de 50 páginas (e de 100 páginas no ano seguinte, de 150 no outro ano, etc) e ela ganhou. Pensando agora, talvez por influência dessa época eu aprendi a gostar tanto de ler e de escrever. Hoje em dia escrevo livros de umas 500 páginas porque inconscientemente devo achar que ainda estou aumentando 50 páginas por ano, hehe.

Nós seis vimos “O Exorcista” de madrugada após uma noite divertida em que nós, de pijamas, fizemos danças, jogamos jogos de tabuleiro e fizemos brincadeiras naquela estranha fronteira entre a infância e a adolescência. A casa dela era muito grande, com teto amplo, de vários andares e isso posteriormente tornou nossa noite bem mais assustadora após assistir o filme, porque ficou parecendo uma casa mal assombrada depois.

Nós descemos várias escadas até uma espécie de porão para assistir o filme, numa televisão de tela enorme. Acumulamos travesseiros nos sofás e ficamos lá.

Cada vez que aparecia a guria possuída, a gente berrava e tapávamos nossos olhos com o travesseiro. Eu fiz isso tantas vezes que no final do filme a Paula olhou para mim com desdém e disse:

“Tu nem viu o filme direito, passou a maior parte tapando o rosto com o travesseiro. Da próxima vez vou convidar amigas mais corajosas”

Ela era minha melhor amiga na época, mas acabamos perdendo um pouco o contato quando eu mudei de colégio no ano seguinte.

E nós fizemos o jogo do copo após ver o filme, já que a guria do livro (e do filme) também brinca com o tabuleiro Ouija. Nós estávamos tão apavoradas naquela noite que a qualquer rangido na casa já tremíamos, a ponto de uma das minhas amigas ter pego um facão na cozinha para atacar caso alguém aparecesse (o que, felizmente, não aconteceu).

Estávamos vendo espíritos por toda parte, sombras, fantasmas, elas apontavam: “Lá, está lá!” e nós gritávamos (sim, de madrugada. Sorte que a casa era grande e os pais dela não devem ter ouvido o escândalo). O pai dela até fez uma piada antes do filme (eles já tinham visto o filme e não iriam ver com a gente):

“Ah, vocês vão ver a menina virando a cabeça, é tão engraçado, haha!”

Eu não consegui dormir por vários dias após ver o filme. E ainda fiquei bem perturbada por semanas.

Pensando agora, foi uma experiência bem divertida. Eu nunca tinha refletido bem sobre ela até agora. Acho que cheguei a ver o filme outra vez alguns anos mais tarde (dessa vez inteiro e sem cobrir os olhos). Mas nunca tive planos de ler o livro.

Até alguns dias atrás…

Não quero contar muito sobre o livro para não estragar as surpresas. Pelo que li por aí, o filme não mostra muitos detalhes interessantes e importantes do livro. Eu pretendo revê-lo em breve para confirmar isso.

E o que faz o livro ser tão bom?

Uma das coisas é o ritmo, a forma com que a história é contada. O autor revela pouco a pouco. A história acontece num ritmo muito lento, mas não de um jeito irritante e monótono, e sim de uma forma que nos deixa curiosos e presos à história, ansiosos para a hora da ação.

“Quando vai começar a acontecer o que a gente sabe que vai acontecer?”

E cada vez que alguém sobe até o quarto, é um frio na espinha. Isso é muito legal. Pelo que lembro, também é legal no filme.

Como eu já disse, o autor pesquisou muito a fundo. Tanto sobre catolicismo como sobre os problemas físicos e psiquiátricos de Regan do ponto de vista científico.

O ceticismo do padre Karras é fascinante e ao mesmo tempo te deixa pensando: “Mas que diabos, você não é um padre? Não acredita no capeta? Raios, não acredita em Deus, porra?”

Ele é um padre psiquiatra que está determinado a dar uma explicação racional para a condição de Regan. O Bispo Barren, nesse vídeo, menciona algo que eu concordo: algumas das cenas mais engraçadas são exatamente as que o padre tenta explicar racionalmente e cientificamente tudo de mais absurdo que está acontecendo com Regan, mesmo nos momentos em que a situação tem uma clara origem sobrenatural.

Essa é uma óbvia paródia do autor ao ceticismo dos tempos atuais e nisso sua ironia é genial (no caso, “tempos atuais” seria 1971).

A história causa um desconforto estranhamente familiar, talvez porque o autor baseou sua história em um caso (e “casos”) de exorcismo real.

O livro tem essa atmosfera constante de grande realismo. Em parte, porque o livro foi muito bem pesquisado tanto do aspecto teológico quanto científico. E em parte porque o autor é muito bom em trazer esse realismo no diálogo, que realmente remete a conversas e atitudes que as pessoas talvez teriam numa ocasião como essa.

Um exemplo para mim é o café. A máquina de café que não para, regados a café nos longos dias sem dormir e exaustos de tudo. Os padres são bem humanos, fazem piadas, têm suas crises, exatamente como pessoas reais. E principalmente, é uma realidade que quando situações excepcionais acontecem rotineiramente se banalizam, como quando o padre está tomando café “tranquilamente” enquanto o diabo está berrando no andar de cima. Certamente isso teria acontecido num exorcismo real que durasse longos dias ou semanas.

Eu conheci um padre que já participou de um exorcismo. É um padre argentino que dirigiu nosso retiro em um dos meus retiros de um mês junto com outras quatro “viajeras”, como eles nos chamavam. Cheguei a me confessar com ele duas vezes. E uma vez tivemos uma longa conversa em que tirei algumas dúvidas.

Foto que tirei desse mosteiro em uma das caminhadas

Ele é provavelmente o padre mais admirável que já conheci. Fisicamente, ele é muito parecido com Santo Inácio de Loyola. Eu diria que em espírito ele também se parece com ele. É corajoso, tem espírito aventureiro e muita fé. Ele dizia que durante o seminário eles cantavam uma canção dos mártires (infelizmente esqueci o nome).

Ele tem no pulso uma tatuagem em duas partes: uma parte ele fez no Egito (um “c” cristão) e outra no Iraque (uma cruz), que são dois países em que cristãos são perseguidos e mortos. Quem tem essa tatuagem de cruz no pulso é porque aceita morrer pela fé, ser mártir. Uma noviça que conheci nesse mosteiro, que é do México, também tem uma. Acho bem impressionante, pois sou fascinada pelas histórias dos mártires católicos. Também já conheci um padre do Iraque (e vi sua linda missa em árabe) que teve amigos de sua igreja martirizados e bordou os nomes deles em suas vestes sacerdotais.

Mas estou contando isso para dizer que mesmo esse padre corajoso, que viaja para países em que cristãos são perseguidos como se desejasse o martírio em nome de Deus, teve muito medo durante um exorcismo.

Ele nos descreveu com essas palavras:

“Eu já participei de um exorcismo uma vez, pois um amigo padre me convidou. A garota não virava a cabeça para trás como no filme. Nesse filme há alguns exageros. Mas ela dizia coisas assustadoras e mudava um pouco a voz. Teve um momento em que senti um arrepio quando ela se voltou para mim e disse meu nome. Eu só participei desse único exorcismo e espero nunca mais participar de um, pois foi uma experiência terrível”

E agora nós nos perguntamos: o que pode assustar uma pessoa que não tem medo da morte?

“E, não temais os que matam o corpo, mas não têm poder para matar a alma. Temei antes, aquele que pode destruir tanto a alma como o corpo no inferno”.

(Mateus: 10:28)

Hoje em dia muita gente não acredita em Deus. E muito menos no diabo. Pessoas que acreditam em Deus e não acreditam no diabo vivem o que C.S. Lewis chama de “cristianismo água com açúcar”. Sendo que Jesus diz claramente na Bíblia que o diabo existe e o próprio Jesus fazia exorcismos.

Por outro lado, o livro “O Exorcista” me apresentou outra categoria de pessoas: as que não acreditam em Deus mas acreditam no diabo. Porque, como foi dito lá, se Deus existe parece que está dormindo um sono de milhões de anos, enquanto o diabo está sempre se autopromovendo pelo mundo.

O livro me sugeriu uma coisa curiosa: para os que têm a fé fraca ou não acreditam em Deus, uma boa maneira de fortalecer a fé seria ter uma experiência não com Deus, mas com o diabo. Não algo que traga paz e conforto, mas algo forte, que as faça realmente tremer de medo e desconfiar que existe algo muito mais profundo por trás do mal do mundo.

Afinal, se tanta gente diz que não acredita em Deus porque “não aceita que Deus exista num mundo em que há tanto sofrimento”, para essas pessoas não falta fé em Deus e sim no diabo!

Esse é um caminho diferente para entender a religião e a fé, mas ainda assim um caminho. Talvez isso até explique a existência do mal e da dor: sem eles, como acordaríamos para entender a fé e Deus? Poderíamos apenas dormir e relaxar, confortáveis, para sempre, fechados em nós mesmos.

Tive uma experiência intensa com esse livro. Fiquei horas seguidas lendo a parte final, até terminar. Virei a madrugada silenciosa. Choveu na vida real quando choveu no livro. Senti sono e exaustão de tanto ler sem parar exatamente quando os exorcistas estavam exaustos e noites sem dormir. Isso só tornou minha experiência mais vívida.

Há muitas outras coisas que eu poderia dizer sobre o livro, comentar detalhes. Mas eu estou muito cansada. Não dormi até agora.

Para resumir: de todas as coisas, o que ressoou mais fortemente em mim?

Cada pessoa talvez sinta uma mensagem diferente ao ler o livro, é claro. Eu senti algo muito particular.

Primeiro, há um ar de certa nobreza e respeito no livro em relação ao sobrenatural. Sem nunca perder o bom humor. Os padres têm bom humor e são desbocados. O diabo tem bom humor e é totalmente desbocado. Mas em meio a isso tudo, o autor mostra uma grande reverência tanto ao catolicismo quanto à existência do sobrenatural, do espiritual.

Só depois de terminar de ler o livro eu descobri que o autor era realmente católico, mas mesmo sem saber disso durante a leitura eu desconfiei que havia algo ali: ou que ele teve uma educação católica, que os pais fossem, ou que ele tivesse um interesse intelectual, uma fé perdida na infância mas que sobrou o respeito pelo universo católico ou algo do tipo.

Independente da posição do autor, é hilário o aparente ceticismo dos personagens, pois não parece um ceticismo real. É um ceticismo exagerado por parte de quase todos os personagens e uma fé que vai naturalmente nascendo, timidamente, um questionamento genuíno (não é algo forçado ou uma conversão piegas), não por causa de uma bela revelação divina, mas a partir das coisas mais horríveis.

Uma fé que nasce não porque ocorre um milagre, mas porque uma criança grita obscenidades, se contorce, cospe e vomita. Isso não é extraordinário?

É como o cristianismo, que ensina a amar o feio, o repugnante, ensina a amar os pobres, os doentes, a desprezar o que é belo e abraçar o que é feio, como fez São Francisco de Assis abraçando os leprosos.

Eu confesso que derramei lágrimas duas vezes no final do livro, em dois momentos. Talvez porque, para mim, eu meio que senti que entendi o que o autor quis dizer com aquelas duas cenas. Do ponto de vista católico, eu digo, pra mim aquilo teve um significado impressionante. Foi forte. Se eu não tivesse lido esse monte de livros de catolicismo (ou não tivesse feito os retiros) talvez sentisse as cenas de forma diferente, não sei.

Aliás, tem uma coisa frequentemente repetida para os católicos, mas que é dito no livro, que é bom lembrar: o amor não depende do sentimento. Quando Jesus nos manda amar uns aos outros, os inimigos, etc, ele não está pedindo para termos sentimentos por eles. É um amor que nasce do entendimento de que isso é o certo a ser feito (um entendimento intelectual, pois inteligência é atributo da alma). Então um amor romântico ou uma fé por Deus não precisa possuir uma emoção de derramar lágrimas, um arrebatamento, para ser real. Ao contrário, são nos momentos em que sentimos desprezo pela pessoa e escolhemos amá-la mesmo assim que está a prova de amor mais poderosa.

Esse é o ensinamento cristão por excelência. O mandamento de ouro, que nos diz para amarmos a Deus e uns aos outros. Mas como podemos amar as pessoas que nos fazem mal? E como podemos amar Deus, que não vemos? Aí está o verdadeiro teste, aprender a amar na dor: amar Deus mesmo em meio ao seu silêncio e quando ele se esconde; amar os outros mesmo quando há sofrimento.

Repito, esse é um ensinamento clichê do catolicismo, que é exaustivamente repetido (através das histórias dos mártires, dos santos), mas que é sempre bom ser repetido, porque existe um pouco de confusão entre a palavra amor e sentimentos. Por isso a oração que é realizada em secura espiritual, nos dizem os santos, é a oração mais agradável a Deus, porque é realizada com desgosto. Fácil seria realizar uma oração só porque ela nos dá sensações agradáveis.

Talvez a fé que surja a partir da experiência com o diabo e com a dor, e não aquela que vem da alegria, seja a fé mais brilhante e mais bela? É um pensamento poderoso. A fé que nasce a partir da dor e da morte. Quando as pessoas buscam ou encontram Deus através disso. Eis outra resposta para a dor do mundo. Isso explica as palavras do Apocalipse sobre o sangue dos mártires, os que lavaram suas vestes no sangue do Cordeiro. É o batismo de sangue, que é superior ao batismo com água. João Batista batiza com água, mas Jesus batiza com fogo. E isso é doloroso, mas purifica.

Deus se esconde. Por quê? Porque ele aguarda que o encontremos através do diabo. Eis uma interpretação peculiar, para atiçar nossa curiosidade, imaginação e sede pela verdade.

Ah, sim, outra parte fascinante do livro: quando o diabo não faz imediatamente demonstrações sobrenaturais (como levitação) e finge sentir dor com uma água que não é benta. Ele se faz de bobo de propósito, para que o padre não descubra imediatamente sua identidade e não o exorcize. O diabo quer que o padre pense que tudo é apenas psicológico ou tem explicações naturais. Por isso os religiosos costumam dizer que o maior desejo do diabo é que não acreditem nele, duvidem de sua existência, pois assim ele pode manipular as pessoas mais facilmente.

É claro que cada um tem seu livre-arbítrio e sua vontade. Mas quando achamos que todo mal vem apenas do ser humano, dos outros e de nós mesmos, às vezes culpamos os outros demais ou nos torturamos com a culpa. Dizer que o diabo pode causar mal não é uma fuga da responsabilidade, mas uma aceitação de que, sim, a responsabilidade é nossa, mas existem muitas vezes forças fora de nosso controle e é necessário aceitar a existência dessas outras forças e lutar contra elas, em vez de querer destruir a si mesmo ou aos outros como se a fonte do mal fosse apenas o coração humano. O ser humano costuma ter a arrogância de achar que tudo está centrado apenas nele.

O mundo é muito mais misterioso e complexo do que pensamos. E o que acontece por baixo dos panos não é apenas a luta que nossos olhos veem. Assim como existe a luta dos microrganismos nas doenças (que antes não víamos) pode haver uma luta espiritual entre anjos e demônios por trás de todas as nossas lutas. Acho essa explicação profunda e bela. E, ao mesmo tempo, terrível. Mas esse terror é fascinante, pois pode ser uma resposta, uma saída.

Com humildade, podemos pedir ajuda a Deus e aos anjos. Não precisamos lutar sozinhos.

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Wanju Duli
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