Muito longe de casa: memórias de um menino-soldado, por Ishmael Beah
Essa é a resenha do livro que eu escrevi no Facebook:
“Uma das biografias mais impressionantes que eu já li!
Ishmael Beah nasceu em Serra Leoa. Atualmente ele tem 40 anos. Quando ele tinha 12 anos, uma guerra civil estourou em seu país e chegou até sua cidade. No meio da confusão de tiros, ele se perdeu da família e fugiu de seu vilarejo junto com amigos.
Ele e os amigos andariam pelas florestas de vilarejo em vilarejo, tentando encontrar comida. Até que os rebeldes cercam um vilarejo e Ishmael é obrigado a entrar para o exército para conseguir sobreviver.
Dos 13 aos 15 anos ele serviu no exército e conta como era sua rotina: matar pessoas, se drogar e ver filmes de guerra (principalmente Rambo). Ele conta vários episódios em que eles saqueavam e incendiavam vilarejos, faziam competições para cortar a garganta das pessoas mais rápido, enterravam pessoas vivas e riam depois. Tudo isso eles faziam totalmente drogados (com maconha, cocaína e “pílulas”) e por isso sem temer a morte.
Até que um dia a UNICEF chegou no vilarejo em que eles estavam. Ishmael e outros companheiros do exército foram enviados para uma clínica de reabilitação. Infelizmente, crianças do exército foram colocadas na clínica junto com crianças do outro lado da disputa, os rebeldes. Eles tinham escondido armas e mataram uns aos outros. Ishmael sobreviveu. Depois de dois meses, destruindo tudo dentro do alojamento devido à crise de abstinência (quebrando copos na parede, batendo nos cuidadores, etc), ele conseguiu se reabilitar. Seus pais e irmãos tinham morrido, mas conseguiram localizar um tio dele que ele não conhecia, que o adotou.
A guerra chegou até a capital, Free Town. O tio dele morreu durante essa guerra. Alguns amigos de Ishmael, que tinham se reabilitado, voltaram para o exército. Ishmael conseguiu fugir da cidade e chegou a outro país vizinho, Guiné.
Aos 17 anos, ele foi adotado por uma contadora de histórias da UNICEF e hoje vive com ela em Nova York. Ele fez faculdade de ciência política e virou embaixador da UNICEF.
Eu já tinha ouvido falar muitas vezes em meninos-soldados (e vi o filme “Beasts of No Nation”) e li um pouco sobre eles em livros, mas essa foi a primeira vez que li uma biografia escrita por um.”
Irei colocar aqui vários trechos do livro que chamaram minha atenção:
“Por vários dias nós seis caminhamos por uma pequena trilha. Pensei na minha família, se tornaria a vê-la, e desejei que estivesse em segurança. Meus olhos se encheram de lágrimas, mas eu estava com fome demais para chorar.
Dormimos em aldeias abandonadas, onde nos deitávamos no chão sem o menor conforto e esperávamos que no dia seguinte pudéssemos encontrar alguma coisa para comer. Havíamos passado por uma aldeia que tinha bananeiras, laranjeiras e coqueiros. Khailou, que sabia como subir nas árvores melhor que nós, escalou cada uma e arrancou delas o que conseguiu. As bananas estavam verdes, então nós as cozinhamos colocando madeira numa fogueira que ardia na cozinha externa de uma casa. Sem sal ou quaisquer outros ingredientes, o gosto das bananas não era bom, mas comemos cada pedaço, só para ter alguma coisa no estômago. Depois comemos algumas laranjas e cocos. Não conseguimos encontrar nada mais substancial para comer. A cada dia tínhamos mais fome, a ponto de sentirmos fortes dores no estômago e às vezes enxergarmos tudo embaçado.”
“À noite, estávamos com tanta fome que roubamos comida de pessoas que dormiam. Era a única maneira de sobreviver àquela noite.
Estávamos com tanta fome que até beber água doía, e sentíamos cólicas. Era como se algo estivesse devorando o interior dos nossos estômagos. Nossos lábios ficaram ressecados e nossas articulações fracas e doloridas. Comecei a sentir minhas costelas quando tocava nos meus flancos. Não sabíamos onde mais conseguir comida. A pilhagem que fizemos a uma única fazenda de mandioca não durou muito tempo.
Pássaros e animais como coelhos haviam desaparecido. Ficamos irritados e nos sentamos longe uns dos outros, como se nossa proximidade aumentasse a fome.
Certa tarde chegamos a perseguir um menininho que comia duas espigas de milho sozinho. Ele devia ter uns cinco anos de idade. Não dissemos nada, nem sequer nos entreolhamos. Apenas voamos para cima do menino ao mesmo tempo e, antes que ele percebesse o que estava acontecendo, havíamos tomado dele o milho. Dividimos aquilo entre nós seis e comemos nossas miseráveis porções enquanto o garotinho chorava e corria para os pais. Os pais não vieram atrás de nós para nos afrontar por causa do incidente. Acho que eles sabiam que seis garotos só pulariam em cima de seu filho por causa de suas espigas de milho se estivessem desesperadamente famintos. Mais tarde, a mãe do menino deu uma espiga de milho para cada um de nós. Eu me senti culpado por alguns minutos mas, na nossa situação, não havia muito tempo para remorsos”
“Fiquei sem laranjas logo no primeiro dia, mas colhi mais frutas em cada aldeia onde dormi. Às vezes passava por plantações de mandioca. Arrancava algumas e comia cruas. O único outro alimento disponível era coco. Eu não sabia escalar coqueiros. Já havia tentado, mas era simplesmente impossível, até que um dia eu estava com sede e fome demais para não tentar outra vez. Foi numa aldeia onde nada havia para se comer exceto os cocos que pendiam desajeitados das árvores, como se me provocassem, desafiando-me a pegá-los. É difícil explicar como aconteceu, mas de repente montei no coqueiro bem rápido. Quando dei por mim e me lembrei da minha inexperiência na arte de subir em árvores, eu já estava lá em cima, arrancando cocos. Desci tão rápido quanto havia subido e comecei a procurar algo com que pudesse abri-los. Por sorte encontrei um machado meio gasto, que logo meti nas cascas. Quando acabei a refeição, encontrei uma rede e descansei por algum tempo.
Levantei recuperado e pensei: Bom, agora tenho mais energia para subir e pegar mais cocos para a viagem. Mas não consegui. Não ultrapassava sequer a metade do tronco. Tentei de novo e de novo, mas cada tentativa era mais desastrada que a outra. Fazia tempo que eu não ria, mas aquilo me levou às gargalhadas. Poderia escrever um estudo científico sobre essa experiência”
“Depois de algumas horas, Saidu falou numa voz muito profunda, como se alguém falasse através dele: ‘Quantas vezes mais vamos ter que enfrentar a morte até encontrar segurança?’, perguntou.
Ele esperou alguns minutos, mas nós três não dissemos nada. ‘Toda vez que somos perseguidos por gente que quer nos matar, fecho os olhos e espero pela morte. Apesar de ainda estar vivo, sinto como se, a cada vez que aceito a morte, parte de mim morresse. Muito em breve eu vou morrer completamente e tudo que sobrar de mim será meu corpo vazio, andando com vocês. Ele será mais silencioso que eu’. Saidu soprou as palavras das mãos para aquecê-las e deitou no chão. Sua respiração pesada se tornou mais intensa e eu sabia que ele tinha adormecido”
“Um grupo de mais de dez rebeldes entrou na aldeia. Estavam rindo e se cumprimentando com as mãos, comemorando. Pareciam um pouco mais velhos que eu. Tinham sangue nas roupas, e um deles carregava a cabeça de um homem, que segurava pelo cabelo. A cabeça parecia ainda sentir o cabelo ser puxado. Escorria sangue do lugar onde o pescoço deveria estar. Outro rebelde carregava um galão de gasolina e uma caixa grande de fósforos. Os rebeldes sentaram e começaram a jogar carta, fumar maconha e a se gabar do que tinham feito naquele dia.
‘Queimamos três aldeias hoje.’ Um magrelo, que parecia ser o que mais se divertia no grupo, riu.
Outro rebelde, o único que vestia uniforme militar completo, concordou com o magrelo: ‘É, impressionante, em poucas horas numa tarde só.’ Ele fez uma pausa, brincando com a lateral de sua arma G3. ‘Gostei especialmente de queimar esta aldeia aqui. Pegamos todo mundo. Ninguém escapou. De tão bom que foi. Levamos a cabo a ordem e executamos todo mundo. O comandante vai ficar satisfeito quando chegar aqui’. Ele confirmou com a cabeça, olhando para os outros rebeldes, que haviam parado o jogo para ouvi-lo. Todos concordaram com ele, com acenos de cabeça. Bateram de novo nas mãos uns dos outros e voltaram ao jogo”
“O tenente continuou falando por mais de uma hora, descrevendo como os rebeldes haviam cortado a cabeça de membros de algumas famílias e feito os parentes assistirem àquilo, como tinham queimado aldeias inteiras, com os habitantes dentro, forçado filhos a penetrarem suas mães, partido corpos de bebês recém-nascidos ao meio porque choravam demais, aberto a barriga de grávidas para arrancar os fetos e matá-los… O tenente cuspiu no chão e prosseguiu, até que teve certeza de haver mencionado todas as maneiras que os rebeldes tinham de machucar cada pessoa presente na reunião.
‘Eles perderam tudo que fazia deles humanos. Não merecem viver. É por isso que devemos matar cada um deles. Pensem nisso como a destruição de um grande mal. É o mais honrado serviço que podem prestar a seu país.’ O tenente puxou sua pistola e deu dois tiros no ar. Algumas pessoas começaram a gritar: ‘Temos que matar todos eles. Vamos varrer essa gente da face da Terra’.
Todos nós odiávamos os rebeldes, e estávamos mais do que determinados a impedir que capturassem a aldeia. O rosto de todos parecia agora mais triste e tenso. A aura na aldeia mudou subitamente após o discurso. O sol da manhã desapareceu e o dia ficou sombrio. Parecia que o céu ia se partir e cair sobre a terra. Eu estava furioso e com medo, assim como meus amigos”
“Quando olhei para onde eles estavam meus olhos notaram Musa, que tinha a cabeça coberta de sangue. Levantei minha arma e puxei o gatilho, e matei um homem. De repente, como se alguém estivesse disparando aquilo tudo dentro do meu cérebro, todos os massacres que eu já havia testemunhado desde o primeiro dia em que a guerra me tocou começaram a passar em flashes na minha cabeça. Cada vez que eu parava de atirar para trocar as câmaras e via meus dois amigos mortos, apontava com ódio a arma para o pântano e matava mais gente. Atirei em tudo que se movia, até que recebemos a ordem para retirada”
“Durante o dia, em vez de jogar futebol na praça da aldeia, eu me revezava entre os postos de vigilância pela aldeia, fumando maconha e cheirando brown brown, cocaína misturada com pólvora, que estava sempre espalhada pela mesa, e, claro, tomando mais daquelas pílulas brancas, em que estava viciado Elas me davam bastante energia. A primeira vez que usei todas essas drogas ao mesmo tempo, comecei a transpirar tanto que tirei minha roupa inteira. Meu corpo chacoalhava, minha visão ficou embaçada e perdi a audição por vários minutos. Vaguei sem rumo pela aldeia, me sentindo irrequieto porque tinha recebido, ao mesmo tempo, uma carga excepcional de energia e torpor. Mas, depois de várias doses dessas drogas, tudo que passei a sentir foi torpor, uma dormência em relação a tudo, e tinha tanta energia que não consegui dormir durante semanas.
À noite, assistíamos a alguns filmes. Filmes de guerra, Rambo: Programado para matar, Rambo II, Comando para matar, e por aí vai, com auxílio de um gerador ou às vezes de uma bateria de carro. Todos queríamos ser iguais ao Rambo; mal podíamos esperar para aplicar as técnicas dele.
Mas, quando ficávamos sem comida, drogas, munição e gasolina para assistir aos filmes de guerra, invadíamos acampamentos rebeldes, em cidades, aldeias e florestas. Também atacávamos aldeias de civis para capturar recrutas e pegar o que conseguíssemos achar.
‘Temos boas notícias dos nossos informantes. Vamos sair dentro de cinco minutos para matar alguns rebeldes e pegar seus suprimentos, que na verdade nos pertencem’, o tenente anunciava.”
“Caminhávamos por horas a fio, parando apenas para comer sardinhas e bife conservados em salmoura com gari, cheirar coca e brown brown e tomar algumas pílulas brancas. A combinação dessas drogas nos dava muita energia e nos tornava ferozes. A ideia de morrer não passava pela minha cabeça em momento algum e matar tinha se tornado tão trivial quanto beber água. Minha mente não apenas sofrera uma ruptura no primeiro assassinato, mas havia parado de registrar remorsos, ou ao menos parecia ter parado. Depois de comer e usar as drogas, vigiávamos o perímetro enquanto os adultos descansavam um pouco. Eu dividia um posto com Alhaji, e marcávamos o tempo que cada um levava para retirar uma câmara e trocá-la por outra.
‘Um dia eu vou tomar uma aldeia inteira sozinho, igual ao Rambo’, Alhaji me disse, sorrindo com o novo objetivo criado em sua vida.
‘Eu quero umas bazucas para mim, iguais àquelas do Comando para matar. Ia ser lindo’, eu disse, e rimos. […]
Às vezes mandavam que saíssemos para guerrear no meio de um filme. Voltávamos horas depois, tendo matado um bocado de gente, e continuávamos a assistir ao filme como se a guerra tivesse sido o intervalo comercial. Vivíamos ou na frente de batalha, ou assistindo aos filmes, ou usando drogas. Não havia tempo para ficar sozinho ou pensar. Quando conversávamos, o assunto era filmes de guerra ou como estávamos fascinados pela maneira como o tenente, o cabo ou um de nós havia matado alguém. Era como se nada mais existisse fora da nossa realidade”
“Havia cinco prisioneiros e muitos candidatos ansiosos. Então, o cabo escolheu apenas alguns entre nós. Ele pegou a mim, Kanei e três outros garotos para o show da matança. Os cinco homens ficaram em fila à nossa frente no pátio de treinamento, com as mãos amarradas. Devíamos cortar suas gargantas ao comando do tenente. A pessoa que cortasse mais rápido a garganta do seu prisioneiro venceria o concurso. Tínhamos posto para fora as baionetas e devíamos encarar o rosto do prisioneiro quando o tirássemos deste mundo. Eu já tinha começado a olhar para o meu prisioneiro. Seu rosto estava inchado da surra que havia levado, e seus olhos pareciam enxergar através de mim. Seu maxilar era a única parte tensa do rosto inteiro; tudo mais parecia relaxado.
Não sentia nada por ele, não pensava muito sobre o que eu estava fazendo. Só esperava pela ordem do cabo. O prisioneiro era apenas mais um rebelde responsável pela morte da minha família, como eu tinha passado a crer cegamente. O cabo deu o sinal com um tiro de pistola e eu agarrei a cabeça do homem e cortei sua garganta com um movimento fluido. Seu pomo de adão cedeu passagem à lâmina afiada, e girei a ponta ziguezagueada da baioneta quando a puxei para fora. Seus olhos giraram e olharam dentro dos meus antes de se congelarem em um olhar assustado, como se ele tivesse sido pego de surpresa. O prisioneiro jogou seu peso contra mim ao dar o último suspiro. Deixei-o cair no chão e limpei minha baioneta nele.
Reportei a morte ao cabo, que segurava um cronômetro. Os corpos dos outros prisioneiros resistiam nos braços dos outros meninos, e alguns continuaram a se sacudir no chão por um tempo. Eu fui declarado vencedor, e Kanei foi o segundo. Os meninos e os outros soldados que estavam na plateia aplaudiram como se eu tivesse acabado de realizar uma das maiores conquistas da vida. Fui nomeado subtenente, e Kanei, subsargento. Comemoramos a vitória daquele dia com mais drogas e mais filmes de guerra.”
“Minha escola era formada por um pequeno prédio apenas, feito de tijolos de barro e um telhado de latão. Não havia portas, nem cimento no chão do lado de dentro, além de ser pequena demais para receber todos os alunos. A maioria das aulas era dada ao ar livre, debaixo da sombra de mangueiras.
Mohamed se lembrava mais da falta de material escolar, e de como era preciso ajudar os professores a plantar em suas fazendas ou jardins. Era a única forma de os professores, que não recebiam pagamento havia anos, ganharem a vida. Quanto mais falávamos sobre aquilo, mais percebíamos que havíamos esquecido como era a sensação de ser estudantes, de sentar na sala de aula, de tomar notas, fazer o trabalho de casa, fazer amigos, provocar outros alunos. Eu estava ansioso por voltar às aulas. Mas, no primeiro dia de colégio em Freetown, todos os alunos sentaram longe de nós, como se Mohamed e eu pudéssemos surtar a qualquer momento e assassinar alguém. De algum jeito eles souberam a respeito do nosso passado como soldados. Não só havíamos perdido nossa infância na guerra, mas também nossas vidas estavam manchadas pelas mesmas experiências que ainda nos causavam dor e tristeza”
“No começo da tarde, a prisão central estava aberta e os prisioneiros foram postos em liberdade. O novo governo lhes deu armas assim que eles pisaram na rua. Alguns foram direto para as casas de juízes e advogados que participaram de seus julgamentos, assassinando aqueles que encontravam e suas famílias ou queimando suas casas se eles não estivessem por perto. Outros se juntavam aos soldados, que tinham começado a saquear lojas. A fumaça subia das casas enchendo o ar, soterrando a cidade em neblina. Alguém surgiu no rádio e se anunciou como o novo presidente de Serra Leoa. Seu nome, ele disse, era Johnny Paul Koroma, e era o Líder do Armed Forces Revolutionary Council (AFRC), formado por um agrupamento de oficiais do Sierra Leone Army para derrubar o presidente eleito democraticamente, Tejan Kabbah. O inglês de Koroma era tão ruim quanto os motivos que ele deu para o golpe. Ele aconselhou a todos que voltassem ao trabalho, dizendo que estava tudo bem. Ao fundo, enquanto discursava, era possível ouvir tiros e soldados raivosos xingando e comemorando, quase passando por cima do que ele dizia.
Mais tarde naquela noite, outro anúncio foi feito pelo rádio, dessa vez declarando que os rebeldes (RUF) e o exército tinham colaborado na deposição do governo civil ‘para o bem da nação’. Rebeldes e soldados vindos das frentes de batalha começaram a encher a cidade. A nação inteira ruiu até um Estado sem lei”
“A liga AFRC/RUF, os ‘sobels’, como se chamavam, começou a explodir cofres usando LFGS e outros explosivos e a saquear dinheiro. Às vezes os sobels prendiam pessoas que passavam, revistavam-nas e levavam delas o que quisessem. Eles ocuparam as escolas e as universidades. Dia após dia ficava mais perigoso permanecer ao ar livre, pois as balas perdidas tinham começado a matar muita gente.
Homens armados haviam saqueado toda a comida da cidade em lojas e mercados, e os carregamentos de fora do país e vindos das províncias tinham parado de chegar à cidade. O pouco que havia sobrado precisava ser procurado em meio a toda a loucura.
Mohamed e eu decidimos ir à cidade tentar conseguir um pouco de gari, latas de sardinha, arroz, qualquer coisa que pudéssemos encontrar. Eu sabia que correria o risco de encontrar alguns antigos colegas da vida militar, que me matariam se eu dissesse que não fazia mais parte da guerra. Mas ao mesmo tempo não podia simplesmente ficar em casa. Precisava encontrar comida”
Esses são apenas alguns trechos que selecionei. Mas recomendo entusiasticamente a leitura dessa biografia.