Memórias do Halloween
O Dia das Bruxas sempre foi uma data muito querida para mim. Quando eu era criança, eu e os vizinhos do meu prédio tínhamos a tradição de nos fantasiarmos todo dia 31 de outubro e bater de porta em porta em todos os andares do prédio, pedindo doces ou travessuras. Víamos também outras crianças fazendo isso nas casas vizinhas na minha rua. Por isso, todo Dia das Bruxas minha família e os vizinhos geralmente compravam alguns doces para distribuir para as crianças nesse dia, quando batêssemos na porta.
E isso não era tudo. Havia dois grupos no meu prédio: o que eu fazia parte, que era o grupo das crianças mais novas (eu devia ter uns nove ou dez anos) e o grupo das crianças mais velhas (com uns doze ou treze anos). Geralmente esse era o grupo dos “irmãos mais velhos”. Havia boatos de que esse grupo fazia umas travessuras meio mal educadas com os vizinhos que não davam doces.
Nos anos seguintes comecei a organizar festas de Halloween com minhas colegas do colégio. Então todo Dia das Bruxas a gente alugava o salão de festas do prédio de um de nós e começávamos desde bem cedo a preparar a decoração. Nós mesmos desenhávamos morcegos, abóboras (sempre gostei de desenhar), recortávamos e colávamos por todo o salão, com todo o capricho.
Como sempre, no início da noite pedíamos doces de porta em porta. Depois dividíamos os doces entre nós. Havia a festa, que terminava com histórias de terror.
Quando eu tinha treze anos comecei a ler livros de ocultismo e praticar, então minhas festas de Halloween se tornaram mais elaboradas. Nessas festas eu convidava colegas e amigos. Levava tarô e outros métodos divinatórios. Fazíamos o jogo do copo ou pequenos rituais. Aos 14 anos eu já tinha conseguido uma espada ritualística, cálice, varinha, caldeirão, vários métodos divinatórios, dezenas de livros de ocultismo e muitas outras coisas que eu lutei para reunir ao longo daquele ano, então minha festa seguinte foi realmente divertida.
Eu nunca convidava muita gente para essas festas, porque o objetivo não era apenas dançar e comer. Colocávamos músicas adequadas para o Halloween, havia comidas, decorações, etc. Mas quanto mais eu me envolvia com ocultismo e religiões, mais eu queria focar na parte do ritual, divinações e outros acontecimentos memoráveis.
Nessa época eu já tinha visto o filme “O Exorcista”, há poucos anos. Falo mais sobre isso aqui. Então um dos momentos principais das festas de Halloween era fazer o jogo do copo, usando um tabuleiro que eu comprei aos 13 anos exclusivamente para isso. Aquele tabuleiro já estava todo gasto de tanto que eu usava.
O Halloween é também conhecido como o momento em que o mundo dos mortos se abre (não falarei das origens da data, que é um tópico mais longo e às vezes controverso). Então vivos e mortos podem fazer contato e haver confraternização. Daí, ao meu entender, a relevância do tabuleiro Ouija ou outro método de necromancia para a data.
Eu já tinha lido alguns autores com tendências cristãs nessa época, mas mais ao estilo de Eliphas Levi, que encoraja essa comunicação com o mundo dos mortos (Apolôniooooo!), contanto que realizada com a devida cautela e respeito.
Não é todo ano que eu faço uma festa de Halloween. Esse ano, por razões óbvias, eu não fiz. Mas mesmo quando eu não faço, eu dou um jeito de homenagear a data.
Por exemplo, já faz uns cinco ou dez anos que eu, em todo dia 31 de outubro, me visto de bruxa, boto um chapéu e saio por aí. Mesmo que seja só ir até a esquina ou no shopping. Eu sinto que essa é uma forma de lembrar as pessoas da data. Já pediram até para tirar foto comigo na rua (uma mãe com uma menina pequena). Esse ano, também devido à pandemia, não realizei meu passeio anual pela cidade vestida de bruxa.
Eu não tenho muitas fotos em que estou na rua vestida de bruxa, pois às vezes saio sozinha. Procurei rapidamente e achei essa:
É uma foto de 2013. Se você reparar, estou usando o mesmo chapéu e casaco brilhoso que usei nas fotos de Halloween esse ano, por várias razões. Primeiro, porque eu adoro esse chapéu. E segundo, porque eu sempre deixo para comprar roupas de Halloween em cima da hora e no final acabo usando mais ou menos as mesmas roupas.
Esse é meu namorado (não é o de capa vermelha, haha!). Nesse dia, em 2013, havia um evento de Halloween numa livraria de Sydney. E uma coisa interessante sobre essa foto é que você pode me ver no espelho redondo, porque fui eu quem tirou a foto. ;)
Todo ano eu também costumo fazer um desenho de Dia das Bruxas. Tudo bem, eu também faço quase todo ano um desenho de Natal e de Páscoa.
Tenho muitas fotos de Halloween, de vários anos diferentes. Eu poderia até colocar uma foto de cada ano ou meus desenhos de cada ano, mas eu teria que procurar bastante.
Exemplo de um desenho de Halloween, que fiz em 2012:
Tenho até uma foto de uma festa de Halloween que fiz em 2011 (ainda estávamos preparando a mesa):
Essa festa tem até um vídeo registrando uns 20 minutos do evento.
E o que é o Halloween para mim hoje?
Em 2020 eu me defino como “uma católica que gosta muito de islamismo”. Também tenho uma quedinha pela operação de Abramelin e magia do caos. Falarei mais sobre essas questões em outro post, provavelmente em breve. Já falei disso outras vezes, mas é sempre bom atualizar.
Mesmo antes de eu conhecer ocultismo e religiões, quando eu era uma criança pequena, o Halloween já fazia parte das festividades das quais eu participava ativamente. Então com certeza é uma lembrança muito antiga e especial, que cresceu comigo e de certa forma moldou quem eu sou. Assim como festas de Natal e de Páscoa, por exemplo, que eu viria a celebrar de forma diferente muitos anos depois (fazendo retiros em mosteiros).
Quando eu era criança, eu celebrava o Dia das Bruxas de um jeito: me fantasiando, pedindo doces ou travessuras nas portas, contando histórias de terror e organizando festinhas cheias de desenhos temáticos.
E hoje em dia? Bem, eu continuo me fantasiando e fazendo desenhos. Continuo comendo doces de Halloween. Eu apenas não peço mais doces batendo nas portas das pessoas e não conto histórias de terror (embora eu ainda seja fã de “O Exorcista” e tenha lido o livro muitos anos depois, o que fez eu me tornar mais fã ainda. Principalmente ao saber que o autor foi um católico praticante). Mas eu ainda saio na rua vestida de bruxa.
Era mais divertido antes ou agora? Eu diria que agora. Tenho memórias lindas de quando eu era criança e adolescente, principalmente das festas. Mas hoje em dia acho que celebro o Halloween com mais consciência da data, após meus estudos e vivências de ocultismo e outras religiões.
Quando eu era criança, eu me assustava tanto com as histórias de terror contadas nas noites de Halloween que às vezes tinha pesadelos com elas. Era algo desconhecido, pois eu sabia que podiam existir fantasmas e espíritos de verdade. Eu só tinha mais medo porque eu não fazia a menor ideia do que fossem todas essas coisas.
Porém, eu não parei aí. Eu quis enfrentar meu medo. Eu quis investigar o que havia por trás da cortina do outro mundo. Essa cortina que abria uma vez por ano. Eu queria abrir mais vezes.
E eu descobri o que havia lá? Nos meus diários de Abramelin falo um pouco mais sobre isso, mas já adianto que, obviamente, não descobri tudo. Porque Deus acha que não tem a menor graça entregar todo o jogo de uma vez para os seres humanos. Eu também acho que não teria graça. É legal porque continua sendo um pouco desconhecido e ainda dá frio na barriga. Senão eu teria que deixar as religiões de lado e passar a andar de montanha-russa (adoro também).
Durante a infância, na Páscoa eu procurava os ovos de chocolate escondidos e no Natal eu ficava aguardando ansiosamente para meia-noite para abrir os meus presentes embaixo da árvore de Natal, como muita gente.
Hoje em dia eu ainda como chocolates na Páscoa e ainda abro presentes de Natal, mas é diferente. Depois dos meus estudos e vivências de cristianismo e outras religiões, eu entendi bem mais o que essas datas significam.
Então atualmente, apesar de haver menos festas e mistérios, eu celebro todas essas datas com uma alegria muito maior. Porque eu não acho que ignorância é uma bênção. Eu acho que conhecimento liberta.
“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32)
Quis compartilhar essas breves memórias de Halloween, talvez para explicar porque eu pareço dar tanta importância para a data. É porque eu dou mesmo. Porque, assim como outras pessoas, eu e o Halloween temos uma longa história de amor e mistério.
Como será meu Halloween em 2021? Ainda temos um ano pela frente! Será que vou outra vez tirar fotos com as mesmas roupas velhas de sempre e o mesmo chapéu? Será que nesse dia eu vou estar lendo a Bíblia, o Alcorão e um livro de guerra? (tenho exatamente esses três livros ao meu lado agora, que estou lendo).
Vamos aguardar e descobrir. Porque, por mais que você estude e vivencie espiritualidade e religiões, aquela parte mágica do mistério sempre permanece com novas surpresas.