Idiomas divertidos

Wanju Duli
13 min readMar 8, 2022

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Vecteezy.com

Existem muitas razões para aprender um idioma. Acho que uma das maiores é a mesma razão de quando éramos crianças: porque é legal!

Penso que não existe uma razão mais legítima ou importante que outra para estudar uma língua. Eu quero estudar espanhol porque… eu quero! Pronto, é o bastante.

No entanto, existem razões que podem funcionar melhor para te dar mais motivação para prosseguir seus estudos. Isso pode variar de pessoa para outra, mas vou contar o meu caso.

Se minha memória não falha, o primeiro idioma diferente de português que comecei a aprender foi o francês, quando eu tinha uns 8 ou 9 anos. O colégio que eu estudava na época disponibilizava o ensino desse idioma antes do inglês.

Estudei francês por cerca de um ano, mas como era um francês bem básico voltado para crianças, eu só gravei coisas como os números de 1 a 20, os meses do ano, partes do corpo e coisas assim. O curioso é que quando retomei meus estudos de francês, mais de 15 anos depois, eu ainda lembrava como dizer os números e os meses. Repetíamos tanto isso nas aulas, com brincadeiras, que eu nunca mais esqueci.

Só comecei a estudar inglês no colégio aos 10 ou 11 anos. Lembro que a turma foi dividida em nível básico ou intermediário (eu fiquei no básico), porque pelo menos metade dos meus colegas faziam curso particular de inglês há alguns anos. Minha irmã também fazia, mas eu não lembro porque ela fez e eu não.

Eu pensei: “Nossa, tenho 10 anos e ainda não sei falar inglês como minhas colegas, estou atrasada!’. Como o inglês de colégios, mesmo particulares, não costuma ser muito forte, acabei me matriculando num curso de conversação de inglês alguns anos depois. Fiz uns dois anos de curso, comecei a ler livros em inglês e estudar sozinha usando a internet. No final da minha adolescência meu inglês já estava quase avançado.

Eu gosto muito de ler e havia livros que eu queria muito ler e que não havia tradução para português. Eu não li livros em inglês para aprender inglês, mas porque eu queria muito lê-los, então após ler algumas centenas de livros em inglês já não tive grandes problemas com o idioma.

Aprender idiomas não é sempre divertido. Sempre envolve também um grau de dedicação, disciplina e sofrimento. Quando já estamos num nível intermediário ou avançado de um idioma, às vezes nos esquecemos do quanto sofremos para sair do nível básico lá atrás. Quando estamos no básico dá a impressão que nunca vamos progredir e isso pode gerar desespero ou nos fazer desistir.

No caso do inglês, eu lembro vagamente da época que eu só sabia o básico, pois eu era criança, embora não tão nova. Eu fiz vários cursos de inglês em diferentes momentos da minha vida (mesmo que eu só ficasse uns seis meses ou um ano em cada), mas minhas memórias são boas, lembro das coisas divertidas. Não ficou a memória do sofrimento. Talvez nosso cérebro seja seletivo e elimine boa parte das coisas ruins para nos poupar.

Então o primeiro idioma após o português que eu cheguei no nível avançado foi o inglês. Curioso que até hoje ainda não sou fluente, porque fiquei satisfeita com meu nível de inglês e resolvi dedicar mais meu tempo a outros idiomas.

Os únicos idiomas que eu estudei no colégio foram francês, inglês e espanhol, nessa ordem. Mesmo em colégios particulares, o nível de ensino desses idiomas não costuma ser suficiente para te fazer sair muito do básico. Por isso tive que melhorar meu nível nesses três fazendo cursos por fora.

Uns oito anos atrás eu resolvi retomar meus estudos de francês. Porém, assim como o inglês, não foi um estudo constante e ininterrupto. Às vezes eu fazia um curso por um semestre, ficava um ano sem estudar, retomava por um ano, saía de novo, fazia um curso online por uns meses, enfim. Desse jeito é difícil mesmo sair do básico.

Mas, assim como o inglês, no francês também houve o momento em que a magia aconteceu e eu finalmente fui para o nível intermediário. E em 2020, quando a pandemia começou, voltei a me dedicar ao francês e depois fiz um curso intensivo por 8 meses que realmente me fez avançar. Fora isso, assisti muitos filmes em francês, li dezenas de livros em francês, joguei dezenas de jogos de videogame nesse idioma, etc.

Atualmente meu nível de francês é algo como “intermediário avançado”. O inglês é mais fácil de manter, porque estamos cercados por inglês por todos os lados, mas para o francês é necessário mais esforço para não deixar de lado.

Eu estudei em vários colégios diferentes e em alguns deles tive aulas de espanhol. No entanto, só retomei o estudo do idioma a partir do ano passado. Comecei a assinar um curso online e esse ano passei a ter aulas com professores, à distância. Meu nível atual de espanhol também é intermediário, embora meu francês seja melhor que meu espanhol.

Sobre alemão, uns quinze anos atrás fiz um curso de seis meses. Uns três anos depois fiz outro curso de seis meses. Depois parei de fazer cursos presenciais e fiz só cursos online, mas nunca regularmente. Eu ainda faço um curso online de alemão, mas estudo muito pouco. Meu nível atual de alemão é um “básico 2”, engatinhando para intermediário. Eu já consigo ler livros, legendas e outras coisas simples em alemão, mas com muita dificuldade. Bem diferente do francês, que consigo ver filmes sem legendas.

Hoje mesmo eu terminei um curso intensivo de árabe. Foi um curso com aulas particulares que durou um mês e meio. Foi uma imersão enorme e eu aprendi muito em pouco tempo. Eu consigo ler o alfabeto, mas como sei pouco vocabulário, ainda não consigo entender muita coisa. Meu nível ainda é básico, mas no caso de árabe sou uma aprendiz feliz, pois me contento com pouco: só de ler as letrinhas já acho uma alegria.

Minha história com o árabe é muito longa, então vou ter que resumir aqui. Fiz uma disciplina de árabe na universidade por seis meses, quando eu tinha uns 19 anos. Desde aquela época considero o árabe o idioma mais lindo do mundo. Tentei estudar sozinha algumas vezes, mas eu sempre deixava de lado. Então quando a pandemia começou fiz uns cursos online de árabe e finalmente saí da estaca zero. E com esse intensivo de agora eu finalmente posso dizer que sei alguma coisa.

Então esses são os idiomas que sei alguma coisa, na ordem dos que sei mais: português, inglês, francês, espanhol, alemão e árabe.

Se alguém me perguntar: “Quais idiomas você fala?” eu responderia “Português, inglês e francês”, pois são os idiomas em que eu consigo manter tranquilamente uma conversa, embora no francês eu ainda tropece em algumas palavras e conjugação de verbos. Espanhol eu até consigo conversar, mas eu tropeço ainda mais do que no francês. Alemão eu ainda não sei o bastante para ter uma conversa além das frases de iniciante e árabe muito menos.

E sobre outros idiomas? Eu comecei a estudar japonês quando eu tinha 13 anos. Fiz cursos de seis meses umas três vezes com intervalo de alguns anos, mas depois abandonei. Acho que hoje até meu árabe está melhor que meu japonês.

Outros exemplos de idiomas que sei menos ainda, mas que lembro de já ter estudado por poucos meses são hindi e chinês. O hindi eu comprei um livro com um CD quando eu tinha 17 anos, aprendi o alfabeto e algum vocabulário, mas depois esqueci tudo. Chinês fiz poucos meses na faculdade. Ah, também fiz alguns meses de persa na faculdade.

Acho que isso é tudo. Latim e grego eu já estudei talvez por poucas semanas só para ter noções do básico. Hebraico já tive aulas com um professor por alguns meses. Qualquer outra coisa como italiano ou russo eu devo ter feito só umas poucas lições no Duolingo e já nem sei.

Ah, claro, aprendi um pouquinho de coreano na época que joguei um RPG online em coreano, então tive que aprender um pouco do alfabeto e palavras básicas para digitar e me comunicar com os jogadores, pois poucos deles falavam inglês. Tive até que mudar meu teclado para digitar em coreano. Joguei com eles por pouco mais de um ano.

E por que eu comecei a aprender tantos idiomas e desisti depois da maior parte deles? Há várias respostas para isso.

Por exemplo, alguns idiomas eu fiz aula simplesmente porque surgiu a oportunidade. As aulas de persa e chinês que eu fiz na faculdade eram de graça. Na época eu não estava particularmente interessada em aprender esses idiomas especificamente. Por isso eu os abandonei bem rápido.

No caso do coreano, embora eu goste de dramas coreanos, eu só aprendi um pouco porque eu estava querendo jogar aquele jogo desesperadamente. Foi como o inglês: eu queria ler aqueles livros desesperadamente e o único jeito de ler era aprender inglês. Então eu aprendi.

Para algumas pessoas achar um idioma legal já é motivação o bastante para ir a fundo nele. Mas para muita gente, talvez para a maioria, é preciso ter outras motivações para aprender um idioma além de “achar legal”.

Quando eu tinha 17 anos, eu adorava a Índia e budismo e queria aprender hindi. Estudei na internet e com um livro, mas desisti bem rápido. Por quê? Não havia nenhum motivo concreto para eu aprender hindi. Nenhum livro de budismo que eu queria ler era em hindi. Na Índia é fácil achar muitos livros traduzidos para o inglês.

Quando eu me interessei por cristianismo achei que seria legal saber o básico de hebraico, latim e grego. Mas nenhuma dessas línguas é considerada sagrada no cristianismo. No Islã é diferente: eles te incentivam a aprender árabe. Para ser cristão ninguém te diz que é bom ler a Bíblia nos idiomas originais (hebraico e grego) e as missas nem são mais em latim. Isso não faz tanta diferença para eles. Às vezes é até visto como um capricho.

Num retiro de cinco semanas que fiz num mosteiro católico de Israel, algumas monjas me deram umas aulinhas de hebraico e grego, mas bem básico. Mas elas também não consideravam tão essencial assim estudar esses idiomas. Então se nem elas acham, você não se sente motivado. É bem diferente de um muçulmano te incentivando a aprender árabe para ler o Alcorão no original.

Portanto, não é muito difícil de entender porque eu tenho muito mais interesse em aprender árabe do que hebraico, grego ou latim. Mas esse não é o único motivo.

Pela maior parte da minha vida eu estava satisfeita em saber apenas inglês, pois o inglês costuma ser suficiente para a maior parte das coisas na internet. Meu interesse em aprender outros idiomas não tinha motivos práticos. Eu simplesmente gosto de aprender idiomas e acho que vários deles são muito belos. Mas achar um idioma belo ou legal, sem ter um objetivo específico em aprendê-lo, até hoje não foi motivo suficiente para que eu saísse do nível básico em nenhum idioma.

Eu já expliquei em outro texto que escrevi aqui no Medium porque eu fiz enfermagem na faculdade. A ideia inicial veio de uma conversa que eu tive com uma freira quando eu tinha 17 anos. Mas mesmo antes de começar a cursar enfermagem na faculdade, eu já gostava de fazer trabalhos voluntários aqui no Brasil. Então quando comecei a fazer enfermagem fiquei cada vez mais com a vontade de fazer trabalhos humanitários.

Para atuar em organizações de trabalho humanitário internacional há quatro idiomas importantes para saber, mais ou menos nessa ordem de prioridade: inglês, francês, árabe e espanhol. Francês é importante porque em metade da África e parte do Oriente Médio se fala francês. Árabe é importante porque também se fala árabe em parte da África e boa parte do Oriente Médio. Espanhol é importante para a América Latina.

Por sorte eu já sabia inglês e já tinha interesse em árabe por causa do Islã. Mas nunca antes eu tinha me interessado especificamente por francês e espanhol. Eu me interessei bem mais depois que entendi o quanto esses idiomas são importantes para trabalho humanitário, principalmente francês.

A vontade de fazer trabalho humanitário internacional um dia (isso ainda está nos meus planos) foi o que mais me motivou e o que tem me motivado para estudar francês, árabe e espanhol. Eu só estou avançando nesses idiomas atualmente principalmente por causa disso. Com um objetivo concreto é bem mais fácil me dedicar e manter o foco.

Na verdade, tive outros objetivos no meio do caminho e quanto mais objetivos melhor, pois só fortalece a vontade e urgência de aprender.

Eu gosto de morar no Brasil e acho que eu tive muita sorte de nascer num país que não está em guerra e que tem universidades públicas gratuitas e sistema de saúde público. Além do mais, português é um idioma importante para trabalhos humanitários, já que, além do próprio Brasil, há alguns países africanos que precisam de ajuda humanitária e falam esse idioma. Além dos idiomas citados, saber português, russo e chinês também são diferenciais para trabalho humanitário (já estou estudando muitos idiomas ao mesmo tempo, então vou deixar o russo e o chinês para daqui uns dez anos haha).

Porém, como enfermeira, se eu souber o idioma de um país, há possibilidade de eu trabalhar e conseguir cidadania em praticamente qualquer país (com algumas exceções). Então por uns dois anos eu estava pensando na possibilidade de imigrar para o Quebec, no Canadá, e por isso fiz um intensivo de francês. No entanto, lá pelo meio do intensivo, eu mudei de planos e decidi que não quero mais imigrar. Mesmo assim foi ótimo que isso tenha se passado pela minha cabeça, pois fiz esse intensivo por causa disso e avancei bastante no meu francês.

Eu também havia considerado morar alguns anos na Argentina e por isso comecei a fazer um curso de espanhol. Mudei de ideia acho que em menos de um mês após pensar nisso, mas achei ótimo ter começado o curso. Espero que eu tenha mais alguma ideia de imigrar e desista em seguida só para me motivar a entrar em outro curso de línguas haha!

Algumas pessoas acreditam que só dá para aprender um idioma, ou aprender rápido, viajando para outro país, mas isso não é verdade. Hoje em dia, com cursos presenciais ou à distância, é possível aprender um idioma de forma tão efetiva quanto estando no próprio país.

Há pessoas que moram num país por mais de dez anos e não sabem falar o idioma. Outras fazem um intensivo em seu próprio país por um ou dois anos e já podem estar no nível intermediário ou quase avançado. É possível criar um ambiente de imersão exatamente onde você está.

Eu fiz isso com o francês. Enquanto fazia o intensivo, mudei os idiomas das minhas redes sociais para francês e praticamente só assistia coisas, lia e jogava em francês. Isso é imersão.

O único curso de idioma que fiz em outro país foi um intensivo de quatro meses de inglês na Austrália. Mas eu fiz isso quando meu inglês já era avançado, então não posso dizer que foi o fato de viajar para lá que melhorou dramaticamente meu inglês.

Também tive uma imersão no espanhol quando fiz um retiro de cinco semanas na Argentina. Eu só lia livros em espanhol, só assistia as missas em espanhol, as monjas só falavam comigo em espanhol. Meu retiro de cinco semanas na França foi algo parecido: eu só lia livros em francês e assistia as missas em francês. Mas na prática eu acabava conversando com as monjas mais em inglês mesmo, então não foi uma imersão completa. Na época meu francês não era bom o bastante para ter conversas complexas.

É legal fazer cursos de idiomas em outros países, mas na prática isso não faz tanta diferença assim comparando a fazer um curso no próprio país.

Hoje em dia, principalmente se você tem acesso à internet, é possível aprender de graça e sozinho qualquer idioma, especialmente com vídeos no Youtube, Duolingo e um monte de outros sites que oferecem conteúdo gratuito.

Eu tenho dificuldade em ter disciplina para estudar sozinha e por isso faço cursos. São raras as pessoas com dinheiro e tempo o bastante para viajar para outros países por longos períodos e aprender idiomas a fundo por esse método (e isso não é necessário!). A viagem, quando existe, seria talvez interessante para um intensivo mais curto e pontual. Só para complementar o aprendizado e não como fonte principal dele.

Felizmente existem muitas opções de cursos mais baratos de idiomas hoje em dia. Alguém que diz que não estuda idiomas porque não tem dinheiro para viajar para outros países ou pagar cursos não procurou direito todas as centenas ou milhares de opções que existem na internet. Estamos no século XXI, com mais conteúdo na internet do que nunca.

Embora eu faça cursos de idiomas, eu também consumo muito conteúdo gratuito na internet. Vejo vários vídeos no Youtube e também assisto coisas em espanhol, francês, alemão e árabe na Netflix. Lá você tem a opção de mudar a dublagem nas animações ou as legendas.

E se você não tem tempo para estudar? Eu estou enfrentando isso atualmente e tenho que bolar soluções. Tenho que priorizar alguns idiomas, deixar outros de lado e tentar estudar pelo menos alguns minutos por dia. Nem sempre eu consigo, mas o importante é não desistir.

E como não desistir? Dá vontade de desistir se parece que você nunca vai sair do básico e se não tem algum objetivo concreto com o idioma. Ler textos em voz alta e escrever coisas no idioma ajuda bastante (o Google Tradutor já é bom o bastante para algumas correções mais simples). Manter uma rotina de estudos.

Eu mesma estou descobrindo só agora os melhores métodos para aprender idiomas. Um dia posso escrever um texto mais detalhado focando apenas nisso. Hoje eu quis contar minhas aventuras com idiomas e falar um pouco sobre assuntos relacionados.

Mas de uma coisa eu sei: aprender idiomas com certeza nunca é tempo perdido. Mesmo que você estude só o básico e por pouco tempo, sempre tem algo que fica. E principalmente se você está estudando um dos dez idiomas mais falados do mundo, ele certamente será útil em algum momento da sua vida que você nem imagina. Nem que seja uma conversa de dois minutos com um estrangeiro e você possa arrancar um sorriso dele dizendo “Bom dia”.

E por último: essa história de que crianças aprendem de forma mais fácil e rápida que adultos não é verdade. Já li textos sobre isso, já vi a opinião de poliglotas e descobri que isso é um mito. Infelizmente difundir esse mito pode desmotivar alguns adultos a aprender. O adulto tem conhecimento mais avançado de gramática e de métodos efetivos de aprendizado e fixação. É óbvio que um adulto pode avançar num idioma em bem menos tempo que uma criança, caso se dedique.

A principal diferença não é porque a criança tem mais facilidade para imitar o sotaque, mas porque ela não tem medo de cometer erros e não exige resultados imediatos. O adulto, se não obtém resultados ótimos em pouco tempo de estudo, pode se frustrar e desistir. A criança aprende se divertindo e não tem medo de passar vergonha cometendo erros.

Ainda não planejei como serão meus estudos de idiomas para o resto do ano, mas sei que estou feliz com o que aprendi até agora e estou otimista sobre o futuro.

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Wanju Duli
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