Estudar uma religião ou converter-se
Numa aula de religião, lembro que um professor explicou a diferença entre ciência da religião e teologia. É claro, há várias definições diferentes, mas ele colocou as coisas da seguinte forma: na ciência da religião você não precisa seguir a religião que você estuda. Mas na teologia geralmente sim.
Numa aula de ciência da religião você provavelmente vai ver alunos (de diferentes religiões ou sem seguir uma religião específica) interessados no fenômeno religioso e em comparar as diferentes crenças. Já numa aula de teologia cristã, por exemplo (digamos, católica) quase todos os alunos serão seminaristas ou, quando leigos, geralmente católicos praticantes (eu sei disso porque eu já estudei teologia católica por um semestre numa universidade, quando eu tinha 21 anos).
Eu acredito que a qualidade de um estudo feito por alguém que tem fé ou não tem essencialmente não muda. O que pode mudar é o ponto de vista adotado. Ler um livro de história católica escrito por um autor católico como Christopher Dawson é um verdadeiro deleite. Além de sentir a enorme paixão do autor pelo tema, também podemos ver uma defesa genuína das contribuições do cristianismo para o mundo, já que cristãos são geralmente tratados em livros de história como inquisidores e intolerantes. Eu geralmente cito esses trechos do trabalho dele para ilustrar esse ponto:
“Por meio da santificação do trabalho e da pobreza, o mosteiro revolucionou e subverteu completamente a ordem dos valores sociais da sociedade escravocrata do Império Romano, a qual também se expressava no ethos guerreiro-aristocrático dos conquistadores bárbaros, de forma que o camponês, que por tanto tempo fora o esquecido sustentador de toda a estrutura social, finalmente encontrava seu modo de vida reconhecido e honrado pela mais alta espiritualidade espiritual da época”.
“Foi o incansável e disciplinado trabalho dos monges que acabou virando o jogo de atraso na Europa ocidental, um esforço que trouxe de volta o cultivo das terras, que se tornaram desertas durante a época das invasões”
“Foi sobretudo na Islândia que os eruditos do século XII e XIII adotaram as tradições do rei Alfredo e fundaram a grande escola de historiografia vernácula e arqueologia, às quais tanto devemos em nosso conhecimento sobre o passado. Estamos aptos a considerar a cultura medieval como intolerante a tudo que esteja fora da tradição da cristandade latina, mas isso é um grande equívoco, e não podemos esquecer que as sagas do norte são criações da cristandade medieval, tão significativas quanto as canções de gesta. Aos padres e às escolas da Islândia cristã devemos a preservação da rica tradição da mitologia do norte, sua poesia e suas sagas”
“Foi somente em tempos recentes que homens como A.N. Whitehead reconheceram que a própria ciência moderna simplesmente não poderia ter surgido caso a mentalidade ocidental não tivesse sido elaborada por séculos de disciplina intelectual escolástica a preparar o campo para a aceitação da racionalidade do universo e para o poder da inteligência humana em investigar a ordem da natureza”
Quando eu leio um livro, eu gosto de sentir o coração da pessoa naquilo que escreveu. É verdade que uma pessoa não envolvida naquela religião talvez tenha a esperança de escrever um relato mais imparcial sobre o tema. Apesar dessa aparente vantagem, às vezes será um relato mais frio.
Se você está diretamente envolvido num tema, a coisa muda. Você fala a partir de dentro. Tenho certeza de que você sabe do que estou falando.
Não sei quanto a você, mas eu geralmente prefiro ler um livro de cristianismo escrito por um cristão e um livro de islamismo escrito por um muçulmano. Detalhe: não estou dizendo que um livro de islamismo escrito por um cristão ou um ateu não será tão bem pesquisado. Talvez o livro tenha até uma pesquisa mais bem feita se, digamos, um ateu com PhD em islamismo escreveu sobre o islamismo do que se um praticante que não pesquisou o islamismo formalmente (mas o vivenciou e o vivencia) o escreveu.
Como sempre, isso depende do que você busca ao ler um livro. Eu já li muitos livros de cristianismo, escritos por católicos, protestantes, ateus e até muçulmanos. Todos geralmente de alta qualidade, independente da crença do autor.
Vou usar um exemplo. Já li livros de catolicismo escrito por leigos católicos muitíssimo bem pesquisados. Em geral, esses livros costumam ser até mais detalhados e aprofundados do que aqueles escritos por, digamos, monges ou padres. Acredito que os monges ou padres tenham menos tempo disponível para a pesquisa porque dedicam mais tempo para missas, orações, etc.
Em compensação, ler um livro escrito por um padre, frade, monge ou freira (principalmente aqueles clássicos escritos pelos santos) têm um brilho particular e único. Mesmo que não contenham o mesmo rigor da pesquisa. Porque eles falam de coisas que vivenciaram tão intensamente que isso transparece em seus escritos.
Por tudo isso, eu acredito que há uma diferença sim em escrever sobre uma religião apenas de forma teórica e vivenciá-la. Também há diferença entre uma pessoa que dedica cinco horas por dia à vivência da religião e outra que dedica apenas quinze minutos diários.
Outro exemplo: ler a Bíblia. Eu já li a Bíblia quando eu não era cristã e nessa época eu a considerei apenas um livro de literatura misturado com história. Mesmo as passagens mais emocionantes não me tocaram tanto assim. Eu analisei a Bíblia de forma mais fria, sem nem tentar imaginar o que sentiam aquelas pessoas que a liam e porque para elas aquilo era diferente, algo a mais. Ao contrário, talvez eu achasse que as pessoas que “levavam a Bíblia a sério” eram meio ignorantes. Não era óbvio que aquilo era falso?
É completamente diferente ler a Bíblia quando você assume um compromisso sério com a religião. Antes de abrir a Bíblia, é comum que o cristão faça uma breve oração, pedindo a Deus que ilumine sua leitura. Então a leitura já começa de forma diferente, com um frescor, com uma sensação de algo sagrado, divino. Principalmente se você separa um canto especial para lê-la, no silêncio ou com uma música apropriada.
Já relatei várias vezes que eu sinto em relação à religião uma sensação que eu não sinto em relação a qualquer outra coisa: o ato de orar, de ler um livro sagrado, de visitar um templo, igreja ou mesquita. Para quem não tem fé podem até parecer atos triviais. Mas eu sinto algo diferente. É uma sensação que eu não consigo definir ou descrever.
Se eu tentasse explicar, eu diria que quase todo o resto que fazemos no mundo é uma relação robótica, ou apenas de matéria e carne. Há momentos em que sentimos algo a mais, quando tem relação com coisas preciosas como amor ou amizade. Para mim, essas sensações são somente uma pequena amostra da fonte absoluta do amor divino que é Deus.
Então ter contato com uma religião é como se voltar diretamente para a fonte desse amor. É isso que eu sinto ao orar, ler um livro sagrado ou participar de uma cerimônia religiosa: é como se a vida finalmente fizesse sentido. É como se eu soubesse que no final vai ficar tudo bem, porque Deus existe e ele nos protege.
Sinto uma sensação de certeza em relação a isso. Se sinto medo, sei que é apenas uma mera insegurança humana. Mas racionalmente eu sei que Deus cuida de tudo e todo o resto parece pequeno diante disso.
É verdade que podemos sentir essa sensação religiosa de sagrado em outros momentos: quando estamos perto da natureza, quando ajudamos uns aos outros, quando simplesmente estamos na presença de pessoas, animais, plantas. Então temos mais um vislumbre desse momento sagrado, que às vezes pode ser realmente profundo.
Existem pessoas que preferem não ter uma religião, pelos mais variados motivos. O monge do mosteiro budista que eu frequentava quando era adolescente costumava dizer: “Algumas pessoas gostam de tratar religiões como se fosse um buffet self-service. Você pega um prato e vai colocando nele diferentes comidas. Você pega somente as partes das religiões que te agradam e deixa de fora as que não te agradam. Mas aquele prato só vai te servir para uma única refeição”.
Acho que o que ele queria dizer era o seguinte: talvez essa refeição não te deixe saciado. Talvez porque ao pegar um pouco de cada religião você tenha apenas tocado na superfície da cada uma, sem chegar ao âmago.
Muitas vezes, a parte mais chata, mais difícil (e às vezes partes controversas) de certas religiões são as mais importantes.
Por exemplo, se você quer praticar islamismo sem ler o Alcorão inteiro porque é muito longo (então você lê um resumo) e sem orar cinco vezes por dia porque ocupa muito tempo (então você só faz uma reza diária rápida de cinco minutos), eu acredito que nunca seja possível vivenciar totalmente e profundamente o islamismo.
Creio que aquilo que diferencia o islamismo, seu brilho, são os Cinco Pilares do Islã. Eles exigem que você faça cinco coisas muito difíceis, que quase nunca serão feitas se você não se comprometer a sério com o islamismo. São elas:
1- Recitar o credo de que não existe nenhum Deus além de Deus e que Maomé é seu profeta.
Ninguém que não quer ser muçulmano e só quer experimentar “um pouquinho” a religião faria essa declaração. Porque isso significa se desligar formalmente de todas as outras crenças e dedicar-se somente ao Islã. É um compromisso enorme!
2- Orar cinco vezes ao dia. A oração antes do nascer do sol é tida como a mais difícil, pois significa que os muçulmanos precisam acordar cedo todos os dias, sem falta, até a morte. A não ser que estejam doentes, viajando ou com outra condição específica.
Ninguém faria isso se não é muçulmano. No máximo, faria por um período específico para experimentar a religião (que nem eu já fiz algumas vezes durante o Ramadã). Mas a pessoa faria porque sabia que era apenas por um período determinado e depois pararia.
3- Observar o jejum do Ramadã. Eu já participei do Ramadã três vezes. Não é incomum que um não muçulmano participe uma ou outra vez, em respeito aos muçulmanos com quem convive. Mas comprometer-se a jejuar no Ramadã até a morte? Isso é um compromisso que um não muçulmano não faria.
4- Realizar a doação para os mais pobres. Assim como no cristianismo, no islamismo existe uma porcentagem do salário que todo muçulmano se compromete a doar para os mais pobres. Mesmo sendo uma quantia pequena, quem se comprometeria a doar o próprio dinheiro até a morte? É verdade que muitas pessoas fazem doações para instituições de caridade, mas sabem que podem parar a qualquer momento que quiserem, pois não fizeram nenhum voto. Sendo muçulmano é diferente.
5- Visitar Meca uma vez na vida. Até pouco tempo, não era permitido que um não muçulmano entrasse em Meca. Isso mostra, novamente, o quão exclusivo dos muçulmanos são os Cinco Pilares e que não é uma religião que facilmente se “siga um pouco, para ver como é”.
Muita gente gosta de estudar e praticar ocultismo e fazer parte de sociedades secretas com o desejo de descobrir algo escondido, de fazer parte de algo exclusivo. Mas às vezes essas pessoas não percebem que as grandes religiões, como cristianismo e islamismo, por exemplo, embora permitam que qualquer um se converta, são, de certa forma, extremamente exclusivas.
De que forma? Elas possuem “segredos” que só são acessíveis àqueles que se comprometem seriamente com a religião. Por isso no cristianismo há o batismo e depois a crisma. E no islamismo há a profissão de fé (com testemunhas) que o torna muçulmano.
Mas depois dessa iniciação, a pessoa se compromete a praticar a sério a religião. No catolicismo isso inclui ir à missa todo domingo e rezar todos os dias, além das doações e outras coisas. No islamismo, há os Cinco Pilares que já descrevi.
É somente depois de pelo menos muitos meses ou alguns anos de prática intensa que o cristão ou o muçulmano irá se aproximar mais de Deus e entender porque essas religião são tão poderosas.
Quem não seguir todos esses passos, quem lê a Bíblia e o Alcorão apenas “meio por cima, porque são monótonos, repetitivos e longos”, quem ora ou vai para a igreja ou mesquisa “só quando está a fim” nunca vai entender realmente o que é cristianismo e islamismo e porque essas religiões transformam a vida de tanta gente.
Se você está doente e não usa o medicamento na dose e frequência correta que seu médico prescreveu, pode ser que continue doente. A mesma coisa ocorre nas religiões. Às vezes pensamos que religiões são puramente subjetivas, então podemos praticar como queremos.
Nada disso. O cristianismo já existe há mais de 2 mil anos e o islamismo há mais de 1400 anos. Se tanta gente ainda pratica essas religiões até hoje, se mais da metade da população mundial atualmente se declara como cristã ou muçulmana, significa que há algo realmente especial nessas religiões. Elas sobreviveram na luta pela sobrevivência da religião mais adaptada de Darwin.
E mais: há mais de mil anos milhões de pessoas experimentaram qual forma de praticar o cristianismo e o islamismo são mais efetivas. Isso é quase como realizar um experimento científico que dura mais de mil anos, com a participação da maior parte da população humana dos últimos dois mil anos. É muitíssimo confiável! Pessoas têm morrido aos montes desde aquela época (e de formas mais horríveis do que hoje em dia) e chegaram à conclusão da fórmula mais poderosa a ser usada diante da morte.
Então em quem você vai confiar? No seu gosto, que provavelmente será influenciado por preguiça e conveniência, para decidir que prática de cada religião é mais adequada? Então você vai analisar um texto ou realizar uma prática fora de contexto. Ou você afirma saber mais do que todos os pensadores que viveram antes de você, nesses últimos milênios?
Se me permitirem a analogia, para aqueles que sabem o que é magia do caos, na magia do caos costuma-se dizer: “use o que funciona”. Então cada um investiga o que funciona para si, geralmente realizando experimentos simples e de curta duração.
É óbvio que podemos confiar mais em experimentos mais longos e realizados por um imenso número de pessoas através da história. Chegamos à conclusão de que religiões como cristianismo e islamismo (e hinduísmo e budismo, se considerarmos o número de praticantes e a antiguidade das religiões) são tão extraordinários que existem até hoje e ainda são largamente praticados.
Mas para escolher uma religião ou crença específica, você precisa investigar sua própria consciência. Quais perguntas podemos fazer a nós mesmos?
Uma pessoa que não tem nenhuma religião e não sente necessidade de ter uma faz essa escolha simplesmente porque a vida está confortável assim? Ou porque realmente leu sobre algumas religiões a sério, investigou-as a sério e chegou à conclusão de que nenhuma parece boa o bastante para si? (ela chegou a praticá-las em algum grau? Em que grau?).
Em geral, pessoas sem religião nenhuma e que se consideram ateístas o são por variados motivos. Por exemplo, porque seu país tem um passado de ateísmo (como a China ou países da antiga União Soviética). Ou pode ser porque se encontram numa situação confortável (não estão passando fome, tem onde morar, seu país não está em guerra), já que a maior parte dos ateístas são geralmente homens brancos de classe média alta (com a exceção da China e outras situações bem específicas).
Claro que há exceções. Há pessoas que perdem a fé diante de grandes tragédias. Mas em geral as religiões geralmente convertem mais pessoas pobres, doentes e que sofrem muito. Para mim essa é uma indicação clara de que as religiões que confortam essas pessoas estão próximas da verdade: porque conseguem dar um conforto real a quem enfrentou o inferno na Terra.
De acordo com esse gráfico, cerca de 14% das pessoas consideram-se não religiosas. Dentre essas, algumas acreditam em Deus e outras não.
Acho que a maior parte das pessoas que acredita em Deus (ou Deuses) e optam por não seguir uma religião é porque não se identificam com nenhuma delas em particular. Não concordam completamente com o que nenhuma religião defende e não gosta ou não concorda com todas as práticas (algumas ela acha sem sentido ou desnecessárias). Então prefere vivenciar sua espiritualidade do seu jeito. Caso se sinta sozinha, ela vai procurar algum grupo na internet que também gosta de viver sua espiritualidade do seu jeito.
Mas pense bem: ninguém iria concordar completamente com uma religião em todos os pontos! Precisaríamos de uma religião personalizada para cada um. Você pode até criar sua religião só para você, mas como o monge budista do templo que eu frequentava disse: ela só funcionará para uma refeição.
As pessoas não seguem uma religião porque concordam com ela em todos os pontos (então se ela não é perfeita não serve? Você é perfeccionista?). Elas sentem que, dentre as opções disponíveis, aquela religião é a que ressoa mais fortemente com ela. Você também pode criar seu futuro marido ou esposa numa máquina como naquele clipe do Aerosmith que eu via na TV quando era criança. Mas será que o parceiro que você criou será a mesma coisa do que escolher um parceiro dentre os disponíveis e que sejam realmente pessoas reais? (aliás, se você prefere ter vários parceiros em vez de se comprometer com um só e pensa o mesmo em relação a religiões, a probabilidade é que seu relacionamento com a religião ou com o parceiro não seja tão profundo quanto seria se a dedicação fosse total a uma só).
O seu parceiro não é perfeito, mas é interessante também descobrir no que vocês são diferentes e aprender um com o outro. Na religião é a mesma coisa: iremos nos desafiar se tentarmos entender porque certa prática ou ensinamento, que parece desnecessário a princípio, está lá. Ele pode até ser chato no começo, mas repetir a mesma oração com frequência (ou mantra) mesmo que pareça monótono pode ser libertador.
Já no caso de ateus, muitos sempre foram ateus e nunca cogitaram ter uma religião. No caso daqueles que se desapontaram com uma religião quando pequenos e optaram pelo ateísmo, às vezes acham que todas as religiões são como aquela que ele abandonou (tudo farinha do mesmo saco) ou que os praticantes da religião são todos iguais, intolerantes ou chatos como aqueles que ele conheceu.
No caso de quem nunca cogitou ter uma religião, essas pessoas podem usar estratégias variadas e específicas para lidar com questões emocionais ou existenciais quando elas aparecem. Há ateus que simplesmente aceitam que o mundo é assim, que a vida acaba um dia e que devemos apenas aproveitar o tempo que temos com as pessoas que amamos, ajudando quem podemos ajudar e isso é tudo que podemos esperar da vida.
Há quem se satisfaça com isso, que acha que isso é tudo. O que eu posso dizer para essas pessoas? OK, se você fizer o bem para os outros e tiver uma boa saúde mental sem religião, eu não quero ser a chata que vai ficar tentando te convencer que Deus existe e te converter!
Ao mesmo tempo, é natural que quando descobrimos uma coisa legal queremos mostrar para os amigos ou para pessoas que consideramos importantes. Cada vez que eu acho um livro que leio e gosto muito, quero falar dele para todos, quero convencer outras pessoas a ler!
Claro que é chato ficar tentando convencer uma pessoa a ler um livro. Poucas vezes eu consigo fazer isso. Mas você fica com aquela sensação de “Se ao menos mais gente lesse…! Se elas pudessem sentir o que eu senti ao ler!”
Há pessoas que leem um livro que eu gosto, se impressionam e dizem: “realmente, o livro é ótimo”. Mas outras pessoas não. Elas leem o livro que eu gosto, dizem que é OK. E eu não entendo! Como aquela pessoa não gostou daquele livro maravilhoso?
É porque as pessoas são diferentes, sentem e entendem o mundo de maneira diferente. Então eu entendo que eu não posso convencer ninguém a acreditar em Deus ou ter uma religião (eu iria sugerir particularmente cristianismo ou islamismo, pelas razões já descritas, haha).
Eu já li muito e vivenciei muitas religiões. Então, com base nas minhas leituras e experiências, eu concluí que é ótimo acreditar em Deus e ter uma religião, não somente porque isso te deixa com uma saúde mental melhor e em geral te impele mais a ajudar pessoas, mas porque provavelmente é algo que se aproxima muito da verdade do mundo (com base no testemunho de tantas pessoas sábias que viveram nos últimos milênios, já que a maior parte delas acreditava em Deus).
Mas isso não é tudo! Não é bom ter uma religião só porque isso te gera “mais longevidade, te faz aceitar mais as coisas ruins da vida, etc”. Os mártires, os santos que morreram jovens, não estavam preocupados em ter uma vida longa e ter uma boa saúde mental! Eles buscavam a verdade, estavam apaixonados por Deus e queriam cumprir sua missão sagrada nesse mundo.
Esse, creio eu, é o motivo central para acreditar em Deus e ter uma religião. Pode ser que o ateísmo te impulsione a realizar atos parecidos de bondade por outras razões que não as religiosas. Mas sem dúvida o combustível religioso é poderoso, como atestam tantas histórias de vidas de santos.
Mas eu acho que é melhor ter uma religião do que não ter? Novamente, eu não consigo entrar na sua mente para saber como você pensa ou como você se sente. Eu fico sinceramente triste quando ouço testemunho de pessoas que dizem que se sentem presas e oprimidas em certas religiões e se sentem mais livres sem ter nenhuma.
De certa forma, eu entendo. Eu sei mais ou menos do que você está falando. Eu mesma já experimentei momentos numa religião em que eu me sentia fraca e incapaz diante das exigências enormes de uma religião ou de dogmas que pareciam absurdos (meditar por horas todos os dias e tentar atingir a iluminação! Isso não é algo simples!).
Mas eu acho que um dos objetivos da religião é exatamente tornar a prática daquela religião tão difícil (como as cinco orações diárias) que você não será capaz de cumprir aquilo com suas forças meramente humanas. Você precisará pedir auxílio a Deus.
Normalmente somos orgulhosos e não queremos nos ajoelhar para um ser maior que nós mesmos. Achamos que podemos fazer tudo sozinhos. Pois bem, acho que religiões boas são aquelas que tornam nossa prática tão complicada e difícil que nos fazem desabar no chão sem forças e clamar: “Eu não sou nada. Preciso que Deus me salve!” e é nesse ponto que começa a verdadeira conversão e transformação da nossa vida.
Se seguimos uma religião fácil, somente para as horas vagas, nunca chegaremos ao ponto de nos humilharmos diante de Deus. Continuaremos orgulhosos e diremos: “Veja como sou disciplinado, como faço tudo certo!”.
Se temos o que comer, se temos onde morar, se nosso país não está em guerra, se não precisamos passar a noite em claro pensando se nossos filhos vão ter o que comer no dia seguinte, não precisaremos nos humilhar diante de Deus e pedir ajuda. Porque acharemos que tendo dinheiro tudo será resolvido.
Eu respeito a escolha de quem decide permanecer ateu ou de quem acredita em Deus ou tem uma espiritualidade sem ter uma religião. Afinal, a situação de cada pessoa é única e eu não posso julgar ninguém.
Eu teoricamente devia ser ateísta ou ter uma espiritualidade sem seguir nenhuma religião, já que boa parte da minha família e amigos são ateístas e não ligam para religião. Porém, o que me fez ir além do círculo de pessoas com quem eu convivia foram os livros: eles me mostraram que existia outras formas de viver fora da minha classe social e fora das pessoas do meu convívio.
Por alguma razão, Deus me poupou da dor de sofrer muito para chegar à conclusão que Deus existe ou da importância de ter uma religião. Mas isso porque o caminho de cada um é único. Ele decidiu me mostrar as coisas de forma mais leve, embora eu entenda (racionalmente) a importância da dor para aprender. Quando a dor chega é diferente. Queremos nos livrar dela imediatamente, mas não somos capazes. Então temos que deixar tudo para Deus.
Seria muito fácil se agora eu simplesmente concluísse que, sim, acreditar em Deus e ter uma religião é melhor do que não ter. Mas eu não direi isso em respeito àqueles que não pensam dessa forma.
Sim, eu decidi que para a minha vida devo acreditar em Deus e ter uma religião. Eu apontei as principais conclusões lógicas que me levaram a essa decisão (já que minhas experiências é mais difícil de colocar em palavras).
Se você optar por um caminho diferente, meu único conselho é que você tenha bons motivos. E que, mais importante do que convencer os outros, você possa convencer a sua consciência de que seus motivos para seu caminho são bons o bastante.