Como eu sinto o mundo
Acho que eu lembrei do título do livro do Einstein “Como vejo o mundo” e quis fazer um título ligeiramente diferente, haha.
Muita gente sabe que eu adoro ler biografias. Já devo ter lido centenas de biografias, sendo que as autobiografias são as melhores. Claro que quando você escreve sobre si mesmo tem o risco de embelezar demais ou de ser humilde demais. De qualquer forma, cada biografia é uma interpretação.
Hoje eu simplesmente tive vontade de falar um pouco sobre o que eu sinto que é o mundo e a vida. Provavelmente porque hoje comecei a ler um livro chamado “Sobre a morte e o morrer” de Elisabeth Kubler-Ross. Ainda estou no começo, mas notei que o primeiro capítulo se chama “Sobre o temor da morte”. É curioso que o capítulo começa assim: “As epidemias dizimaram muitas vidas nas gerações passadas”. Bem, nos dias de hoje vivemos algo parecido.
Esse texto não é sobre a morte, mas acredito que a percepção de cada um do mundo poderá passar eventualmente sobre esse tema. Para mim, a questão da morte é fundamental para entender a vida.
Tive uma infância muito feliz, eu me dava bem no colégio, tinha amigos, tudo normal. As coisas começaram a mudar quando comecei a ler e praticar ocultismo aos 13 anos, o que começou apenas como diversão e curiosidade.
E logo veio meu interesse por religião. Quando eu era criança, eu sempre ouvia falar que temas como religião e política eram coisas de adultos. Então eu me sentia muito madura por ter tanto interesse por religião já com essa idade e costumava me gabar disso (provavelmente eu ainda me gabo disso!).
Quando eu ia para igrejas ou templos budistas quando eu era adolescente, eu costumava repetir que “não sei de onde veio esse meu interesse, porque eu tenho uma vida feliz, não passei por algum grande sofrimento para recorrer à religião”. Pois para mim parecia lógico que uma pessoa iria atrás de uma religião após passar por uma grande dor, doença, perda, alguém morrer, etc. Então eu achava que seria mais provável uma pessoa com, digamos, mais de 80 anos se interessar por religião, para ficar em paz com a ideia da morte futura.
Então, de certa forma, eu era muito metida (tudo bem, eu ainda sou, tenho essa falha grave) por ter ido atrás da religião não porque eu estava sofrendo, mas porque eu queria descobrir o sentido da vida, porque eu estava viva. E eu era muito irritante quando pré-adolescente, porque eu fazia essa pergunta para todo mundo e ninguém me dava uma resposta que me deixava satisfeita.
Então eu tive que ler muito para ver a resposta das outras pessoas para isso. Nesse sentido, é provável que as biografias tenham me ajudado mais do que livros de filosofia, pois a filosofia é uma teoria e a biografia é uma pessoa aplicando na prática sua visão de mundo (a não ser que você seja Sócrates ou Diógenes). E acho que personalidades religiosas como Jesus, Buda e Maomé são pessoas que aplicaram sua filosofia na prática, então fiquei interessada.
Mas é natural que as pessoas tenham visões diferentes sobre o sentido da vida, então eu fiquei confusa sobre isso por um bom tempo ainda. E passei por muitas religiões: wicca, budismo, cristianismo e daqui alguns anos, eu espero, islamismo. Já disse antes que tanto cristianismo e islamismo me fascinam porque elas são praticadas por mais da metade da humanidade e se funcionam tão bem para confortar pessoas muito pobres e que sofrem tanto, elas só podem ser muito boas.
Eu levei muito tempo para entender o que é (ou quem é) Deus e todo esse vocabulário religioso. Tive que ler livros pra caramba, fazer retiros, frequentar locais religiosos, orar, meditar e outras coisas para entender tudo isso um pouquinho melhor.
Ainda bem que esse tempo não foi desperdiçado, porque hoje acho que entendo um pouquinho melhor, hahaha!
Eu, como todo mundo, já passei por épocas difíceis, em que estive um pouco triste. Mas, de forma geral, posso dizer que costumo encarar a vida com alegria e otimismo. Não é algo forçado, é apenas algo que concluí em parte dos livros que li e em parte das minhas experiências de vida.
Não é algo fácil de compartilhar com alguém. Hoje em dia eu acredito em Deus, gosto da vida e do mundo apesar dos sofrimentos. Mas tenho dificuldade de explicar isso para alguém, de dizer para alguém: “fique feliz” se aquela pessoa está triste. Nossa, como isso é difícil!
O que eu posso fazer é dar meu testemunho de vida e dizer que eu acredito que é possível ser feliz nesse mundo, apesar de tudo. Mas eu também gosto muito dessa frase: “Nós não fomos feitos para sermos felizes”. Eu acho que o ser humano aprende também através da dor e isso faz parte.
No passado eu já tive algumas sensações de vazio ao me questionar se a vida tinha um sentido mesmo. Mas uma vez que eu preenchi isso com respostas que me deixaram satisfeita, essa sensação de vazio já não costuma vir com frequência.
Eu gosto daquele termo “noite escura da alma”, dos cristãos, pois talvez seja uma forma religiosa de abordar a questão da depressão, vazio ou aquela palavra linda que se usava mais antigamente: melancolia.
Hoje em dia para mim a religião é a base de tudo e eu tenho dificuldade de interpretar o mundo de uma perspectiva não religiosa. Use o termo “espiritualidade” se preferir. Eu estou acostumada com a linguagem religiosa para explicar o mundo agora e quando eu converso com um ateu é como se eu precisasse usar um dicionário, tentando traduzir coisas como Deus, alma, outro mundo, etc, para uma linguagem possível para nosso diálogo.
Acho perfeitamente possível ser ateu e estar em paz com o mundo, com a ideia da morte e ser feliz. Essa pessoa apenas precisa encontrar sua própria linguagem para explicar todas essas coisas.
Mas eu considero a linguagem religiosa algo poderoso. Deus! Que força nessa palavra. E não se trata apenas de mera linguagem, pois para mim tudo isso é completamente real.
Mesmo assim, eu não me vejo como a pessoa mais corajosa do mundo. Eu tenho meus medos e fico muito inspirada lendo a vida dos santos e sobre a fé deles.
Muitas vezes ficamos entediados, mas quando a monotonia é quebrada com um acontecimento triste, não gostamos. Apesar disso, a dor tem um papel estranho e esquisito no mundo de nos fazer entender certas coisas.
É claro que todos preferiríamos se todos fôssemos felizes o tempo todo e não houvesse a dor. Essa não é a realidade, então temos que lidar com o que temos. E se pararmos para pensar, o que temos é muito.
Eu acho que a chave da vida tem relação com enfrentar a dor e a morte com outros seres ou pessoas, sejam conhecidos ou desconhecidos. Mas há muito mais no meio do caminho, há um universo. Não é apenas sobre “ajudar os outros” de forma vaga, mas sobre uma troca, já que alguém que “ajuda” é muito mais ajudado do que pensa. É sobre tornar-se o outro.
Eu sinto que no fundo o mundo é um lugar maravilhoso e que mesmo as pessoas mais terríveis têm uma alma. Será que outra chave para entender o mundo é essa tentativa de contato e diálogo com as tais pessoas terríveis, o inimigo, sem essa separação entre “nós” e “eles”? Eu também sou uma pessoa terrível e o que nos separa é apenas uma diferença de grau?
Eu não vou salvar o mundo, eu não sou a pessoa boa que irá ajudar os fracos e combater os maus. Porque eu sou fraca e má e quanto mais nos analisamos mais temos consciência da nossa fraqueza e maldade. Então amamos mais e perdoamos mais (ou tentamos!), porque paramos para pensar: “Talvez o que me impeça de fazer coisas muito ruins seja uma linha fina, a oportunidade de ter tido uma boa educação, a sorte de não ter sido obrigada a ser uma criança soldado na infância, a sorte de ter tropeçado no conceito de Deus no meio do caminho”.
Ainda estou recém começando a entender o mundo, mas o pouco que eu entendi já me sugere que a jornada poderá ser incrível. Já foi incrível até aqui e se eu pudesse dar uma mensagem para meu eu do passado eu diria para que eu não me preocupasse tanto. Eu estava tão avidamente buscando o sentido da vida, com medo que não encontrasse, mas eu sabia que se continuasse buscando ia ter minhas respostas um dia. Nunca pensei que eu encontraria respostas tão maravilhosas. Se eu soubesse…!
O ser humano é capaz de coisas extraordinárias. E não estamos sozinhos, nunca.