A Dignidade Humana

Wanju Duli
3 min readApr 12, 2020

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https://blog.edx.org/stand-equality-justice-human-dignity/

“Todos, até o inimigo, devem ser vistos como humanos e protegidos”.
(Cruz Vermelha)

No livro “Cérebro: uma biografia”, por David Eagleman, o autor nos mostra um experimento que foi feito com pessoas de diferentes crenças religiosas.
Os voluntários do experimento viam num vídeo diferentes mãos escrito “cristão”, “muçulmano”, “judeu”, “ateu”, etc. Os resultados do experimento mostraram que, por exemplo, um cristão que assistia a mão de outro cristão ser ferida com uma agulha sentia mais compaixão e mais dor em si mesmo. Porém, ele sentia menos dor e empatia quando mãos escrito, por exemplo, “muçulmano” ou “ateu” eram feridas.
Uma observação curiosa do experimento é que isso também vale para ateus. Quando um ateu via a mão escrito “ateu” sendo ferida, suas reações neurais demonstravam mais dor e empatia. Mas quando ele via mãos de pessoas religiosas sendo feridas, mostrava um pouco menos de sensação de dor e empatia.
Esse estudo mostrou, dentre outras coisas, que não é ter uma religião que nos torna mais tolerantes ou mais intolerantes, mas é algo inerentemente humano sentir mais empatia por pessoas do seu “grupo” (isso obviamente também vale para familiares, amigos, etc).

Com base nisso eu queria falar um pouco sobre preconceito contra, digamos, cristãos, muçulmanos e ateus. No livro “A Paisagem Moral” de Sam Harris, o autor propõe a criação de um sistema moral científico, que defina claramente como errado violações contra direitos humanos e preconceitos contra minorias.
Eu gostaria de lembrar que cristãos são um grupo muito diverso, embora para quem esteja de fora pareça que eles pensem da mesma forma. E o mesmo vale para muçulmanos e ateus.
É objetivamente errado fazer afirmações como “todos os cristãos têm preconceito contra gays” ou “todo muçulmano apoia o terrorismo” ou “todo ateu odeia pessoas religiosas”.
As pessoas são diferentes. As pessoas não são seu sexo biológico, sua cor de pele ou sua afiliação religiosa. Essas são características suas e não podem ser usadas para fazer afirmações gerais para validar preconceitos.
Sim, muitos cristãos falam bobagens. Mas muitos muçulmanos também falam. Muitos ateus falam.
Mas muitos cristãos, muçulmanos e ateus também falam coisas maravilhosas.
Foi um pastor batista chamado Martin Luther King que defendeu os direitos dos negros nos Estados Unidos e deu sua vida por essa causa.
Foi um muçulmano chamado Malcolm X que também defendeu os direitos dos negros nos Estados Unidos e também deu sua vida pela causa.
Foi um hindu chamado Gandhi que defendeu os direitos dos indianos e apoiou a igualdade entre hindus e muçulmanos.
Todos os três afirmam que a religião foi uma fonte de grande inspiração para sua defesa dos direitos humanos.
Ainda assim, existem pessoas que usam a religião como bode expiatório e a apontam como uma das maiores origens do preconceito e da violência.
Eu não acho que a religião é necessariamente a origem da compaixão. Um ateu pode ser tão compassivo quanto um religioso; ou tão violento quanto um religioso. Não é a religião ou ausência dela que define se uma pessoa é mais violenta ou mais preconceituosa. Não é o gênero, cor da pele ou opção sexual. Tem muito mais relação com coisas como educação (e não apenas educação formal).

Ultimamente certas pessoas têm usado argumentos religiosos para dizer bobagens sobre o coronavírus. Porém, pessoas que riem delas quando elas morrem devido ao coronavírus não são muito melhores que elas.

É certo corrigir pessoas que dizem bobagens. Mas é errado afirmar que a pessoa disse aquela bobagem só porque é cristão/ateu, homem/mulher, hetero/homo, branco/negro. O preconceito surge quando você vê uma pessoa falar ou fazer uma bobagem, você relaciona aquilo com uma característica dela (religião, cor da pele) e acha que todos os outros milhões de seres humanos com tais características agem exatamente da mesma forma.
“Mas tal estudo científico afirmou que em geral homens cometem mais crimes violentos que mulheres, ou que pessoas com tal deficiência tem inteligência mais baixa, etc”. Não interessa. Os estudos não existem para reforçar preconceitos e sim para que possamos apoiar cada pessoa com mais equidade (cada um conforme suas necessidades) e entender as causas biológicas e sociais de cada comportamento, para que todos sejam tratados de forma respeitosa e digna.

Na prática, sabemos que é difícil. Eu também fico com raiva diante de injustiças. Eu também tenho meus próprios preconceitos. Mas uma vez que reconheçamos isso, podemos debater juntos possíveis soluções.

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Wanju Duli
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